Desidratado nas eleições de 2016, quando perdeu 60,2% dos municípios que comandava no Brasil, o PT agora tem em Major Denice, de Salvador, uma das suas maiores apostas para o pleito municipal.
Apontada como uma renovação dentro do partido e uma “outsider”, Denice Santiago é major da Polícia Militar e a primeira candidata negra do partido à Prefeitura de Salvador. Ela conta com o entusiasmo do governador Rui Costa (PT), principal cabo eleitoral da sigla na cidade, e que mantém distância dos pré-candidatos da sua base, como Olívia Santana (PCdoB) e Pastor Sargento Isidório (Avante), deputado que aparece à frente da própria petista nas pesquisas preliminares de intenção de voto.
Mas a missão não será fácil. Seu principal adversário é o vice-prefeito e ex-secretário de Infraestrutura, Bruno Reis (DEM), que lidera as pequisas e tem todo o apoio do prefeito ACM Neto (DEM). O cargo na pasta o colocou na linha de frente das inaugurações e em contato com potencial eleitores e não mudou durante a pandemia, já que continua ao lado do prefeito na maior parte das coletivas de imprensa.
Com decisão, Rui atende o a uma reivindicação do movimento negro, que lançou a campanha “Eu quero ela” em 2019, em defesa de candidaturas de mulheres negras para disputar a capital baiana, que tem a maior população de pretos e pardos do país (79,2%) , de acordo com dados do IBGE.
A articulação de Rui e o desejo de disputar com o bolsonarismo o protagonismo no debate sobre segurança pública, contudo, alçaram Denice ao posto de pré-candidata. A major é a idealizadora e ex-comandante da Ronda Maria da Penha, uma patrulha da PM focada no combate à violência doméstica.
Denice é graduada em psicologia e em segurança pública, pós-graduada em gestão de direitos humanos e mestre em desenvolvimento e gestão social. A major reconhece os excessos da corporação, inclusive na abordagem a suspeitos. Em sua pesquisa de dissertação, Denice entrevistou policiais e perguntou quem seria abordado primeiro, se houvesse um branco e um negro.
A maioria dos entrevistados pela major (51%) indicou que seria o negro; 49% afirmaram ser “indiferentes” à cor e nenhum indicou o branco como prioritário. Na dissertação, de acordo com informações do Valor, Denice propôs a criação de uma coordenação de direitos humanos na PM, para acompanhar os policiais e tentar mudar práticas discriminatórias.
A aposta em uma representante da segurança pública contrasta com a violência policial na Bahia, que é o terceiro Estado com maior número de mortos por policiais. Foram 716 mortes em 2019, segundo o Monitor da Violência. Em 2018, o número foi ainda maior: 749 óbitos. No país, a letalidade policial só é maior no Rio e em São Paulo.
Um dos problemas da gestão Rui Costa aconteceu em 2015, com a chacina do Cabula – mesmo bairro onde Major Denice mora. Policiais militares executaram 12 jovens negros e a ação foi elogiada pelo governador, que comparou os PMs a artilheiros em frente ao gol. O governo alegou que os jovens planejavam um assalto a banco e foram mortos em confronto com PMs, mas o Ministério Público concluiu que foi uma execução por vingança e não houve confronto. Os policiais envolvidos na chacina até hoje seguem trabalhando normalmente.
A escolha, contudo, não é unanimidade dentro do partido, que cogitou a candidatura de Guilherme Bellintani, ex-secretário do município na gestão de ACM Neto, e preside o Esporte Clube Bahia. No entanto, após Bellintani declinar o convite, Denice passou a disputar com nomes já conhecidos do PT, como a secretária Fabya Reys, que deve coordenar a sua campanha, e a socióloga Vilma Reis.
O ex-ministro da Cultura nas gestões de Lula e Dilma Roussef, Juca Ferreira, que também chegou a postular como candidato do PT em Salvador, é um dos críticos do que chama de “politização da polícia”. Ele não mostra otimista com o nome de Denice, que em sua leitora está mais atrelada a “um conceito de marketing” do que necessariamente “um projeto político”.
Por: Redação BNews
Foto: Divulgação/Assessoria