O que era “privilégio” de alguns se tornou realidade para grande parte da sociedade, mais uma marca registrada da COVID-19.
Provavelmente você conhece alguém que tenha mudado o modo de trabalhar, incluindo a si próprio, correto? O famoso e idealizado home office, ou teletrabalho, era comum em uma pequena parcela da população, inclusive os “invejáveis” nômades digitais. No entanto, de maneira quase que compulsória, se espalhou para a grande massa, como uma adaptação das empresas, empregados e da legislação, para minimizar os impactos econômicos da pandemia sem incorrer em prejuízo ao distanciamento físico.
Algo inicialmente temporário está sendo implementado por período indeterminado em muitos casos, justificado pelo corte de gastos e alguns relatos de aumento de produtividade. Dentre as adaptações promovidas pelo teletrabalho, podemos citar a retirada da conhecida e nem sempre praticada ginástica laboral, ou a sua inclusão de maneira remota.
Pois é, o efeito disso tudo na saúde física e mental dos funcionários é algo a ser avaliado em um futuro não tão distante, embora pesquisas apontem que estamos praticando ainda menos atividade física, o que já era um grande fardo econômico e de saúde pública possivelmente perdurará após os rastros deixados pela covid-19.
Mesmo que pouco, a ginástica laboral era uma das únicas atividades físicas realizadas por muitos, e mais do que isso, uma oportunidade de interrupção no comportamento sedentário – termo comumente confundido e mal interpretado.
É preciso compreender que o fato de praticar pouca ou nenhuma atividade física não necessariamente é sinônimo de sedentarismo ou estar em comportamento sedentário. Do mesmo modo, uma pessoa pode passar praticamente o dia todo sentada (comportamento sedentário) e mesmo assim praticar atividade física regular em quantidades recomendadas pelas organizações de saúde. Ficou confuso? Vamos ao exemplo:
Pensemos naquele funcionário “exemplar”, que senta em seu posto de trabalho e, ao perceber, lá se foram 8 horas do dia. Mas essa pessoa sabe dos benefícios da atividade física, inclusive era adepta da ginástica laboral e está praticando exercícios diariamente após do expediente. Esse é um caso que pode ser considerado normal e saudável por muitos, afinal, a pessoa se exercita regularmente e não relacionamos isso ao sedentarismo. Mas este pensamento está equivocado.
Os malefícios de não realizar atividade física e o fato de permanecer muitas horas do dia sentado são fatores independentes, com riscos à saúde. Aos milhares de trabalhadores que tiveram as suas rotinas de trabalho alteradas e exercerão as suas funções de casa por período indeterminado, é importante frisar que não basta realizar atividade física por 30 minutos ao dia, sem se atentar em levantar a cada 30 minutos, caminhar pela casa ou permanecer em pé de 1 a 2 minutos.
Sabendo que o “novo normal” chegou, e o home office entrou para a rotina de muitas empresas, é importante que funcionários e empregadores compreendam a necessidade da manutenção de hábitos saudáveis aos que já os tinham ou a implementação de estratégias aos que tiveram seus hábitos impactados negativamente pela rotina de teletrabalho.
Uma dessas estratégias é fazer interrupções no comportamento sedentário, por mais insignificante que possa parecer, pois isso impacta positivamente a saúde do funcionário, além de reduzir os prejuízos às empresas, com funcionários rendendo menos, adoecendo mais e se afastando para tratamentos de saúde.
Autor: Rafael Luciano de Mello é especialista em Treinamento desportivo e prescrição do exercício físico, e Gestão em esportes e fitness, professor da área de linguagens cultural e corporal nos cursos de Licenciatura e de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.