25 de novembro de 2024 00:03

Bolsonaro quer desobrigar uso de máscara por vacinados; para especialistas, é uma temeridade

Redação PA Notícias

Ele disse ter pedido ‘parecer’ ao ministro da Saúde, que confirmou ‘estudo’. Especialistas dizem que máscara é imprescindível neste momento crítico da pandemia e condenaram a proposta.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (10) que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um “parecer” para desobrigar o uso de máscaras por quem estiver vacinado contra a Covid ou por quem já tiver contraído a doença.

O ministro informou ter recebido do presidente o pedido de um estudo sobre as máscaras, mas especialistas ouvidos pelo G1 consideram a medida uma temeridade neste momento crítico da pandemia de Covid no Brasil (leia mais abaixo).

Bolsonaro deu a declaração no Palácio do Planalto, ao discursar durante solenidade de lançamento de programas do Ministério do Turismo. O presidente usou máscara antes e depois do evento — ele só retirou a proteção para discursar.

“Acabei de conversar com um tal de Queiroga — não sei se vocês sabem quem é —, nosso ministro da Saúde. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados. Para tirar esse símbolo, que obviamente tem a sua utilidade para quem está infectado”, declarou.

De acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa, 11,06% da população receberam a segunda dose de vacina até esta quarta-feira (9) — 24,48% receberam somente a primeira dose. No total, até esta quarta, o Brasil tinha quase 480 mil mortos por Covid, segundo o consórcio, e 17,1 milhões já tinham contraído a doença.

Em outras ocasiões, Bolsonaro já demonstrou não ter apreço pelas máscaras como forma de proteção contra a Covid.

Em fevereiro, ele usou uma enquete alemã distorcida para criticar o uso de máscaras. Em agosto do ano passado, contrariando a opinião da maioria dos cientistas e especialistas, ele disse a apoiadores que a eficácia de máscara é “quase nenhuma”. Um mês antes, havia vetado parte de uma lei que estabelecia o uso de máscaras em locais públicos — vetou a obrigação no comércio, em escolas, igrejas e templos.

No discurso no Planalto, Bolsonaro também repetiu a pregação que costuma fazer contra o isolamento social. Disse que provoca depressão, fome, violência doméstica e elimina empregos.

“A quarentena é para quem está infectado, não é para todo mundo. Isso destrói empregos, mata de outra forma o cidadão, mata de fome, de depressão, aumenta violência em casa, abuso contra criança.”

Ministro confirma estudo

À noite, em vídeo gravado pela assessoria do Ministério da Saúde, o ministro Marcelo Queiroga disse ter recebido um pedido de Bolsonaro para fazer um estudo sobre as máscaras.

“Recebi do presidente Bolsonaro hoje uma solicitação para fazer um estudo acerca do uso das máscaras”, afirmou Queiroga, que vem defendendo o uso da proteção.

Segundo o ministro, Bolsonaro “acompanha o cenário internacional” e “vê que em outros países onde a campanha de vacinação já avançou, as pessoas já estão flexibilizando” o uso das máscaras.

“Então, vamos atender essa demanda do presidente Bolsonaro, que está sempre preocupado com pesquisas em relação à Covid”, declarou.

Especialistas contestam

Para especialistas ouvidos pelo G1 a proposta do presidente é uma temeridade. Eles defendem que, mesmo após vacinadas, as pessoas precisam usar máscara e evitar aglomerações.

“A vacina tem boa eficácia em evitar que a sua doença acabe se agravando e você precise até de hospitalização, mas ela não tem tão boa eficácia em evitar que você se contamine”, explicou a médica infectologista Luana Araújo em vídeo gravado para o G1.

O médico Drauzio Varella afirmou que mesmo os vacinados podem transmitir o novo coronavírus para outras pessoas.

“Você entra em contato com o vírus. O vírus fica nas suas fossas nasais, não vai ficar doente, mas vai poder levar o vírus para dentro de casa para as pessoas que você mais ama. Então, a vacina é uma grande utilidade”, declarou no último dia 12 de maio em podcast do programa Fantástico.

Munir Ayub, membro do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor de Infectologia da Faculdade de Medicina do ABC, afirmou que “não existe essa possibilidade” de se prescindir do uso da máscara no atual estágio da pandemia.

Para Renato Grinbaum, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, o anúncio de Bolsonaro é “completamente fora do aceitável”.

“Temos uma lei federal sancionada para o uso de máscaras”, disse, em referência à lei nº 14.019.

Estados Unidos

Em 27 de abril, quando a agência reguladora de saúde dos Estados Unidos decidiu dispensar o uso de máscaras em algumas circunstâncias para pessoas plenamente vacinadas, mais da metade da população adulta do país (cerca de 140 milhões de pessoas) já tinha sido vacinada com pelo menos uma dose.

Naquela data, o painel Our World in Data apontava que os EUA tinham 43% da população total vacinada (conta feita sobre o total de habitantes) com uma dose e 29% totalmente vacinadas (duas doses ou vacina de dose única).

No Brasil, até esta quarta-feira (9), a primeira dose tinha sido aplicada em 51,8 milhões de pessoas, o que equivale a um quarto da população (24,8%). Receberam a segunda dose 23,4 milhões de pessoas (11,06% da população).

A decisão dos EUA dizia respeito exclusivamente a pessoas vacinadas e não a pessoas que já tiveram Covid-19. As máscaras continuaram obrigatórias, por exemplo, em hospitais e no transporte público.

A medida foi apontada como uma estratégia para incentivar a vacinação. E foi tomada também quando o país constatava uma queda de 16% nos novos casos na semana anterior, dado que foi apontado como a maior queda semanal desde fevereiro.

Quando anunciou a decisão, a diretora do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, Rochelle Walensky, fez um alerta: quem não se vacinou continua sob risco de sintomas graves e de morrer, além de espalhar Covid para outras pessoas.

Por Pedro Henrique Gomes, Patricia Figueiredo e Laís Modelli, G1 — Brasília e São Paulo

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