Josué Ramalho da Silva é o grande expoente de um esporte já muito popular no Brasil. Antes visto com muito preconceito por ser praticado em bares de regiões periféricas do Brasil, a sinuca tem deixado o amadorismo nos últimos anos e tentado mudar a imagem com a organização e profissionalização do jogo.
A mudança de status do esporte passa por Josué, conhecido por Baianinho de Mauá, considerado o melhor jogador do Brasil há alguns anos. Através de partidas que atraem milhões de visualizações nas redes sociais, a sinuca tem movimentado também muito dinheiro. Recentemente, Baianinho faturou prêmio de R$ 400 mil em uma única partida.
Baianinho de Mauá deu as primeiras tacadas na sinuca ainda garoto. Nascido na cidade de Paulo Afonso – BA, o jovem se dividia entre uma infância humilde trabalhando como carregador de frutas e o esporte que foi se transformando com o tempo em profissão.
O dinheiro que ganhava na feira era convertido nas fichas de sinuca em bares espalhados por Paulo Afonso. Aos poucos, Baianinho começou a desenvolver habilidades no esporte, mas quem vê atualmente o melhor jogador do Brasil em atividade dificilmente imagina os percalços do início da carreira.
– Comecei perdendo, a pessoa sempre começa perdendo. Fui perdendo para os caras, mas depois de seis meses comecei a ficar bom, bater naqueles caras que me ganhavam. Quando ganhava deles, ia para o lugar dos carroceiros contar o dinheiro que ganhei. Me perguntavam onde eu pegava tanto frete. Depois descobriram que eu ganhava o dinheiro jogando sinuca, isso com 15 anos – explicou Baianinho.
A fama e a habilidade do garoto foram ganhando as ruas da cidade de Paulo Afonso. Menor de idade, Baianinho de Mauá tinha “liberação” das autoridades locais para frequentar bares e jogar sinuca.
– Entre meus 15, 16 anos eu já jogava bem na região da Bahia, Alagoas. As autoridades me deixavam jogar porque era proibido o jogo para menor de idade. Eu jogava bem, fazia show para o pessoal. Quando começava a jogar na feira, o pessoal largava a banca para me assistir, até polícia parava para ver. No Nordeste quando junta muita gente ou é briga ou algo engraçado, eles achavam muito bonito.
A preocupação da mãe com a violência urbana fez Baianinho de Mauá seguir outro rumo. Em busca de um trabalho formal, o jogador foi convidado pelo irmão para realizar um sonho em São Paulo: ser motorista. Josué desejava deixar o carrinho de mão e assumir o comando de um carro de verdade. Foi então que saiu da Bahia para desembarcar no estado mais rico do Brasil.
– Quando cheguei em São Paulo ele me deu uma carriola igual da Bahia. Fiquei trabalhando de ajudante de pedreiro com ele, fazendo massa e esses negócios. Quando recebi meu primeiro salário fui caçar um jogo, sabia que era bom, mas meu irmão me pedia para tomar cuidado que tinha muito ladrão – relembrou Baianinho.
O apelido foi conquistado após Baianinho deixar a cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, local onde o irmão morava e o acolheu. A decisão de ir para a capital aconteceu após os rivais não toparem mais enfrentá-lo. Foi em Mauá, na Grande São Paulo, onde tinha familiares, que começou a virar referência no esporte.
– Comecei a jogar em Mauá, fui andando no ABC, Santo André, São Bernardo, fui jogando em toda a redondeza e ganhando do pessoal. Perguntavam de onde eu era, aí pegou. Tem um Baianinho lá de Mauá que é bom, aí ficou o apelido – disse.
Atualmente, Baianinho deixou Mauá para trás e mora em um dos bairros mais nobres de São Paulo. A vida tomou outro rumo com a profissionalização do esporte.
Baianinho de Mauá soma mais de 100 vitórias em jogos e torneios oficiais organizados nos últimos anos. Atualmente, o jogador vive das premiações conquistadas em campeonatos e da presença vip em casas de jogos. São pelo menos dois eventos corporativos por mês, além dos torneios oficiais.
No fim de 2022, Baianinho de Mauá faturou o maior prêmio da história da sinuca brasileira. Foram R$ 400 mil pela vitória sobre Felipinho, considerado outro grande nome da atualidade no esporte. Transmitida ao vivo, a partida durou mais de quatro horas e tem mais de 1 milhão de visualizações no YouTube.
GE
Foto: Marcos Ribolli
Por Emilio Botta — São Paulo