24 de novembro de 2024 16:52

Valor médio do Auxílio Brasil em Salvador não paga uma cesta básica

Redação PA Notícias

Há meses, e ele já nem lembra quantos, João Gabriel de Jesus, 27 anos, não come frutas, embora adore manga. O valor médio de R$ 403 pago pelo Auxílio Brasil, programa federal que substituiu o Bolsa Família, em Salvador, não paga nem uma cesta básica, que custa R$ 177 a mais, e sua fruta favorita é uma das mais caras – na cidade, o quilo varia de R$ 6 a R$ 7. Vendedor de queijo coalho na praia, ele, então, leva para casa sempre: feijão, farinha, arroz, açúcar, café ovo e salsicha.

O Auxílio Brasil sucedeu o antigo Bolsa Família em novembro de 2021. O valor, na época, era de R$ 217,18, acrescido no mês seguinte, pago a pessoas em situação de extrema pobreza.

Só em março deste ano, João teve acesso ao programa, elegível aos inscritos no Cadastro Único. Em Salvador, eram, até o fim de julho deste ano, 252.232 famílias contempladas.

Elas, no entanto, recebiam um valor médio R$ 4,55 menor que o pago no restante do estado e R$ 5,58 inferior ao valor médio pago do país.

No dia em que recebe uma nova parcela do auxílio, João vai ao mercado. As necessidades básicas são a alimentação, aluguel e conta de luz. Sem contar o investimento no trabalho – antes de lucrar, João gasta para poder anunciar seu produto, geralmente em algumas praias de Itapuã.

No próximo dia 10 de agosto, é provável que a comida hoje armazenada no armário da cozinha tenha acabado, o que o levará novamente ao mercado ou a uma mercearia de bairro.

Os R$ 600 anunciados pelo Governo Federal na última semana para os meses entre agosto e dezembro ainda passam longe da realidade de baianos que dependem do auxílio para compor a renda ou ter qualquer dinheiro mensalmente.

Beneficiários ainda precisam de doações

Em julho, a cesta básica ficou 24,29% mais cara em Salvador, o que põe a capital baiana na segunda posição no ranking dos maiores reajustes do país, segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do  Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

São 13 alimentos: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga.

A entidade analisou 12 produtos e 11 deles tiveram aumento entre junho e o mês passado, o que elevou a R$ 580,82 o preço dos alimentos básicos na cidade – entre eles o feijão, o açúcar e o café que compõem o carrinho de compras de João Gabriel.

Ou seja, os beneficiárias do Auxílio Brasil, se gastarem todo o valor em compras de itens básicos, conseguirão apenas 70% deles. O preço dos itens da cesta foi alavancado pela inflação, que ficou em quase 1% ao mês nos últimos 12 meses.

Quem recebe um salário-mínimo (R$ 1,2 mil) compromete 51,81% da renda com os produtos básicos, o que também indica a realidade para pessoas que dependem do Auxílio Brasil, um terço da remuneração mínima no país.

Alimentação e programas sociais

O acesso à alimentação – ainda que inadequada ou insuficiente nutricionalmente – é um dos propósitos de programas sociais governamentais e de transferência de renda, como o Auxílio Brasil.

As políticas de transferência de renda, em contextos de desigualdades sociais como as do Brasil, podem garantir o mínimo à sobrevivência – mas nem sempre, como mostra a inadequação entre o preço do auxílio e da cesta básica.

O Auxílio Brasil está previsto para acabar em dezembro deste ano, o que deixa o destino do acesso ao mínimo ainda mais incerto.

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