Deputado federal desde 1995, Cláudio Cajado (PP) é um dos parlamentares mais influentes da Câmara. Recentemente, foi escolhido pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de quem é próximo, para relatar o arcabouço fiscal. A força se estende ao próprio partido, do qual exerceu a presidência nacional enquanto o titular do posto, o senador Ciro Nogueira (PI), ocupava a Casa Civil na gestão Jair Bolsonaro (PL).
Com o PP ocupando assento na Esplanada dos Ministérios, Cajado fala nesta entrevista ao Política Livre sobre como fica a relação do partido com os governos Lula (PT) e Jerônimo Rodrigues (PT). No plano federal, defende que o Planalto negocie espaços regionais, enquanto que no âmbito estadual sugere ao governador que procure os progressistas para dialogar.
O deputado defende ainda o fortalecimento do PP da Bahia nas eleições municipais de 2024, revelando critérios que foram definidos no interior em reunião da Executiva estadual da sigla. Sobre Salvador, Cláudio Cajado afirma que a sigla deve apoiar, até por um gesto de gratidão, a reeleição do prefeito Bruno Reis (União).
Confira abaixo a íntegra:
Política Livre – O PP assumiu o Ministério dos Esportes, por meio do deputado federal André Fufuca (MA), até então líder do partido na Câmara Federal. Isso significa adesão à base de apoio do governo Lula (PT)?
Vamos pontuar de forma clara. O PP não irá integrar a base do presidente Lula. O presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), já deixou claro que o partido não irá apoiar o governo. Tanto que é possível que o líder André Fufuca tenha que se licenciar do partido para assumir o Ministério dos Esportes. Em relação a membros da bancada, aí sim o apoio que hoje girava em torno de 12, 14 ou 15 sobe para alto em torno de 25 a 30, a depender da matéria. Essa posição mais concreta deveremos ter essa semana com eleição do novo líder da bancada. Aí vamos ver de fato quem estará com o governo. Não digo que o apoio será em 100%, ou seja, em todas as matérias, mas o governo terá votos mais consolidados dentro do PP.
Essa decisão da bancada federal do PP em Brasília pode facilitar as conversas em torno de um eventual apoio da legenda ao governo Jerônimo Rodrigues (PT)?
Essa é uma questão que também terá que ser aguardada para ver os próximos entendimentos que dela advirão. Eu ouço falar, mas não tive conversa nesse sentido, de que a partir do momento em que deputados federais do PP passassem a dar apoio ao governo federal, isso facilitaria o entendimento para que deputados federais do PP tivessem um novo acordo com o governo da Bahia. Mas precisa que governador tome a iniciativa. Se governador Jerônimo tiver interesse em conversar a partir do momento em que for definido quais deputados federais baianos de fato estarão na base do governo Lula, ele precisa procurar, o que é uma decisão dele. Não adianta ter casamento com um só querendo. Os dois lados têm que anuir. Até agora não houve nenhuma manifestação do governador para o presidente estadual do PP, que eu saiba, ou para mim pessoalmente, como deputado do Progressista da Bahia.
Como você avalia a posição do deputado federal João Leão (PP), que se posicionou, em entrevista ao Política Livre, contra um representante do partido ter aceitado virar ministro do governo Lula e a retomada de uma aliança com o PT da Bahia?
O deputado João Leão tem ampla liberdade, até porque o partido não irá integrar a base de Lula. Ele já tomou decisão dele, e respeitamos, porque essa prerrogativa ele conquistou com o mandato dele. Agora isso não significa que tanto eu quanto os demais deputados do partido na Bahia possam ter a mesma opinião, postura e decisão. A minha posição tomarei em breve, tanto em relação ao governo federal quanto governo do Estado.
“Eu pessoalmente acho que tomamos a decisão acertada de que nas 30 maiores cidades do Estado as decisões serão concentradas na Executiva do partido”
Como o PP tem se preparado para a disputa das eleições municipais na Bahia em 2024, diante dessa divisão interna que existe hoje no partido entre os que desejam ser da base de Jerônimo, que são maioria, e aqueles que preferem continuar no grupo do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União)?
O PP é o maior partido do Brasil e tem excelentes quadros, inclusive na Bahia, onde temos força e autonomia. Temos ideais, dogmas, conceitos importantíssimos para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Eu penso que devamos sim fortalecer cada vez mais nosso partido na Bahia. Vamos trabalhar para isso, e já tivemos uma reunião da Executiva estadual, comandada pelo deputado federal Mário Negromonte Júnior, e espero que nas próximas reuniões possamos estar avançando cada vez mais nesse processo de fortalecimento. Evidentemente que teremos situações de desencontros de opinião, e a Executiva vai ter que se posicionar. Eu pessoalmente acho que tomamos a decisão acertada de que nas 30 maiores cidades do Estado as decisões serão concentradas na Executiva do partido. E, acima de 500 votos, os deputados que tiveram votação majoritária irão definir os rumos do partido nas demais cidades, obviamente levando em consideração aqueles que tiveram votos e não se elegeram. Vamos buscar sempre tomar decisões conjuntas para manter a união do partido e ver o que é melhor para todos, até porque, depois de 2024, também teremos eleições gerais para governador, presidente, senador e deputado.
Mesmo com os movimentos recentes de reaproximação com o PT, o presidente estadual do PP, deputado federal Mário Negromonte Júnior, disse ao site que a tendência em Salvador é apoiar a reeleição do prefeito Bruno Reis (União). O senhor concorda?
É, eu irei apoiar prefeito Bruno Reis porque, além de fazer uma boa gestão, ele foi muito correto, ao lado do ex-prefeito ACM Neto, com o PP, com o compromisso de fortalecer o partido nas eleições de 2022. Quando fomos apoiar ACM Neto para o governo do Estado, precisávamos ter candidatos para fazer o que chamamos de nominata, que é a relação de postulantes da chapa proporcional visando com que atingíssemos o coeficiente eleitoral para eleger o número de deputados que almejávamos. E isso foi feito, e foi importante para que o PP elegesse seis deputados estaduais e quatro federais. Então, em retribuição, eu penso que tanto eu quanto vários outros deputados e membros da Executiva do PP têm esse compromisso com o prefeito Bruno Reis de apoiarmos a reeleição dele.
Como está a sua relação com ACM Neto? Em 2026 ele pode cruzar novamente os caminhos do PP e do senhor?
ACM Neto tem ido muito a Brasília, tem desenvolvido um trabalho lá na Fundação Índigo, que é do União Brasil. Nos encontramos uma vez, quando fui com conversas com ele ao lado do vereador Átila do Congo (Patriota). Tratamos da política de Salvador e principalmente do apoio que daremos a Bruno Reis, mas sem nenhum tipo de conversa ou compromisso para o futuro mais distante. ACM Neto é um grande quadro da política, um amigo que construí na vida pública e mesmo não estando juntos no dia a dia temos pensamentos muito similares.
“Não sei se o União Brasil irá dispor de um quadro importante como Elmar para que o deputado possa melhorar o desempenho dele enquanto candidato a presidente da Câmara pelo PP”
O processo eleitoral para a sucessão na presidência da Câmara parece ter sido antecipado e o nome do deputado baiano Elmar Nascimento (União) desponta como favorito. Existem até especulações de que ele pode migrar para o PP do aliado Arthur Lira para concorrer. É verdade?
Elmar é um grande nome, um deputado competente, uma pessoa com quem tenho boa proximidade. Gosto muito dele até por uma característica que eu não tenho: ele fala tudo e não tem papas na língua, fala mesmo a verdade, deixando claro o pensamento dele. Essa é uma postura que me agrada muito, do papo reto e sem curva. Além disso, ele tem relação muito boa com todos os deputados, de vários partidos, e uma ligação forte com o presidente Arthur Lira, como você lembrou. E é um baiano, e seria bom voltarmos a ter um baiano na presidência da Câmara, como tivemos com Luis Eduardo Magalhães. Isso é bom para a Bahia e também para os deputados da Bahia. Por isso é bom que a gente tenha, além de Elmar, o nome do deputado Antonio Brito (PSD), que se coloca também como um nome para a sucessão na Casa. Agora não sei se o União Brasil irá dispor de um quadro importante como Elmar para que o deputado possa melhorar o desempenho dele enquanto candidato a presidente da Câmara pelo PP. Da nossa parte seria uma grande oportunidade e eu faria questão de abonar essa ficha de filiação.
Política Livre, 11 de setembro de 2023