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Da Lei do Trânsito e da Cachaça
É crime dirigir bêbado. Bêbado é estar com teor alcoólico no sangue além do especificado em lei. A partir de agora, reconhecem os senhores ministros do Supremo Tribunal Federal, crime é estar bêbado no volante vindo a provocar danos a terceiros ou não.
Mas, vamos convir, meus pacientes leitores – pacientes comigo e com os nossos legisladores – seria necessário ter uma lei para definir como crime alguém encher-se de cachaça e dirigir um veículo motorizado? O leitor pode redarguir que o óbvio é óbvio mas precisa ser dito; o óbvio não existe. Toda a revolução industrial/tecnológica começou com a roda e ponto final. O raio caiu, derrubou um tronco de árvore em cima do outro em sentido transversal, o tronco de cima se deslocou sem muito esforço do braço do homem e pronto: tivemos a roda!
Mas cachaça é cachaça e a caracterização do crime de dirigir alcoolizado tem que constar em lei. Se a turma insiste em quebrar a lei, imagine se a lei não existisse! Tem que estar lá no papel. É como um plano de empresa, uma diretriz, uma intenção: tem que estar no papel.
Uma outra pergunta se faz pertinente: Se nossas estradas são de baixa qualidade, se temos buracos em excesso, se temos estradas de mão dupla, se a malha é em grande parte formada de estradas de barro, por que as montadoras insistem em colocar no mercado carros possantes que aceleram de zero a mil em poucos segundos? Se as nossass rodovias estão coalhadas de placas redutoras de velocidade – limite máximo de 80 a 100 km – por que máquinas que chegam a 300/400 km por hora? Não haveria aí um paradoxo flagrante?
Numa cidade como a nossa, com redutores de velocidade praticamente a cada 100 metros, qual a lógica de um veículo alcançar mais de cem quilômetros? Onde, saindo de Paulo Afonso, poderia o condutor imprimir alta velocidade em condições seguras?
Como tudo é moda, com interferência externa ou não; controle metafísico ou mera coincidência, carrões importados deram para estraçalhar os nossos populares. Sobem nas calçadas e parecem sempre encontrar um abrigo de ônibus cheio de pessoas. Antigamente havia o meio-fio que saiu do meio da rua para as laterais. Eram altos o suficiente para proteger o pedestre. Os nossos projetistas abaixaram os meios-fios e os pedestres passaram a contar apenas com a sorte para não serem colhidos em cima das calçadas; dos passeios.
Nisto os muçulmanos parecem mais sábios do que nós: proíbem a ingestão de bebidas que contêm alcool. Para baixo vai o índice de acidentes de trânsito e o prejuízo com os atendimentos.
Como esperar não termos gente bêbada a dirigir quando a indução para beber é constante, insistente e perversa nos meios de comunicação? A insistência para que o brasileiro beba chega às raias da coação. Como as pessoas terão condições de resistir à propaganda subliminar quando as novelas das nossas redes de televisão insinuam que a resolução dos problemas está na ingestão de um gole de bebida?
Enquanto não pararmos para pensar nestas coisas, os brasileiros (principalmente os jovens) continuarão a morrer aos montes, sem lógica nenhuma, nas nossas estradas.
Francisco Nery Júnior