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Goleiro Bruno é o novo titular da faxina no presídio
Advogado elogia ex-jogador do Flamengo, que está “bem caprichoso” e ganha 420 reais por mês pelo trabalho. Nos banhos de sol, continuam os treinos com o amigo Macarrão
As mãos que defenderam o Flamengo e levaram o goleiro Bruno Fernandes à elite do futebol não estão mais ociosas. Acusado de ser o mentor da trama macabra do sequestro e do assassinato da jovem Eliza Samudio, sua ex-amante, Bruno integra, desde julho, a equipe de faxina do pavilhão onde divide espaço com criminosos. Das muitas lições que levará da cadeia, onde está 507 dias, desde 9 de julho de 2010, uma delas certamente será a humildade, como demonstram as últimas semanas do jovem de 26 anos.
Bruno vem ampliando suas habilidades. Sua rotina compreende funções como varrer e lavar o chão do presídio. O trabalho é remunerado, benefício previsto por lei. Claro, não se compara ao salário no Flamengo: recebe atualmente três quartos de um salário mínimo, equivalente a 420 reais. No clube carioca, os ganhos mensais eram de cerca de 250 mil reais, como constatou a Justiça para calcular a pensão do menino Bruninho, filho de Eliza e que ela tentava provar ser também de Bruno.
Em nota, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que o goleiro Bruno é hoje um dos 11.300 detentos do sistema prisional de Minas que trabalham enquanto cumprem pena. O jogador é responsável pela manutenção da limpeza do pavilhão, como registra o cadastro de trabalho do Sistema de Informações Penitenciárias (Infopen). A Seds confirmou que ele recebe remuneração segundo determinação da Lei de Execuções Penais (LEP). Bruno foi selecionado pela Comissão Técnica de Classificação (CTC) da unidade, equipe multiprofissional de avaliação, composta por médicos, psicólogos, enfermeiros, pedagogos, dentistas, gerentes de produção e diretores. A Seds ressaltou ainda que, “antes da avaliação para trabalho, o detento precisa manifestar desejo em cumprir a função laboral”.
Bruno está mudado. Seu advogado, Cláudio Dalledone Júnior, informou que o jogador expressou por contra própria o desejo de trabalhar, e ele próprio buscou as informações sobre seus direitos. “Enquanto se mantém fazendo as faxinas ele ocupa a cabeça. E ele é bem caprichoso. O Bruno já recebeu uma condenação da Justiça do Rio de Janeiro e preenche todos os requisitos para poder exercer essas atividades.Tem bom comportamento, posicionou-se espontaneamente. Isso vai contribuir ainda para a redução da pena dele”, disse Dalledone.
Segundo o advogado, os pedidos de liberdade negados pela Justiça deixaram o goleiro muito abatido e, para não cair em depressão ele procurou ocupar o tempo. Para Dalledone, tudo que envolve o nome do Bruno, mesmo ele tendo direitos garantidos por lei, é mais difícil. “Ele vê outros detentos com acusações mais graves serem beneficiados com habeas corpus e não entende por que não o deixam responder as denúncias contra ele fora da prisão. Ele poderia até estar jogando”, acredita o advogado.
A carreira de sucesso do goleiro foi interrompida pelo desaparecimento de Eliza Samudio, em junho de 2010. Ele foi acusado de ter arquitetado o desaparecimento da jovem, ao lado do amigo e funcionário Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que também encontra-se preso aguardando julgamento. A jovem tentava provar judicialmente que o filho que ela esperava (Bruninho, hoje com 1 ano e nove meses), era fruto de um breve romance com o atleta. Bruno, que já chegou afirmar ser mesmo o pai da criança, nega que o crime tenha acontecido. Até hoje o corpo da vítima não foi encontrado. As denúncias do Ministério Público são de que mãe e filho foram mantidos em cativeiro no sítio do atleta, em Esmeraldas (MG), e no dia 10 de junho ela foi levada para ser executada na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano (MG). Bola, também preso, teria recebido 70 mil para matar e sumir com o corpo de Eliza.
O goleiro alega que Eliza deixou o filho aos cuidados dele. Na versão de Bruno, a jovem teria pedido 30 mil reais e deixou o país com destino à Europa, para ganhar a vida fazendo filmes pornôs, atividade pela qual ela já havia se aventurado.
Ídolo na prisão – Uma fonte do sistema penitenciário disse ao site de VEJA que Bruno é idolatrado na prisão. A fama do goleiro resistiu à aura de “monstro” que se criou com a exposição do caso na mídia, e detentos e funcionários conversam com o goleiro sobre as esperanças de vê-lo voltar a brilhar nos gramados. Enquanto o sonho não morre, os treinos de goleiro com o fiel escudeiro Macarrão, continuam no horário do banho de sol. Mesmo com a liberdade privada, Bruno tenta manter a forma física e não perder a habilidade na arte de não deixar o adversário chegar ao gol.
Para deixar a cadeia, Bruno terá que se livrar das acusações de sequestro e cárcere privado (pena de 1 a 3 anos), homicídio qualificado (12 a 30 anos) e ocultação de cadáver (1 a 3 anos), crimes atribuídos a ele, Macarrão e Sérgio Rosa Sales, o Camelo, primo do jogador. Bola responde por homicídio qualificado (12 a 30 anos) e ocultação de cadáver (1 a 3 anos). Ex-amante de Bruno, Fernanda Gomes de Castro responde por sequestro e cárcere privado. Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, ex-mulher do goleiro, é acusada de sequestro e cárcere privado da criança (1 a 3 anos), crime também atribuído a Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, amigo do jogador, e Elenilson Vitor da Silva, administrador do sítio do atleta.
Divórcio – Na terça-feira (22), o goleiro assinou os documentos de divórcio com a ex-mulher, Dayanne. O casal já estava separado e Bruno, atualmente, está noivo da dentista carioca Ingrid Calheiros. Segundo o advogado de Dayanne, Francisco Simim, a decisão de formalizar a separação foi consensual. Um dos acordos acertados entre as partes é o pagamento da pensão alimentícia no valor de dois salários mínimos às duas filhas. “Embora a cláusula tenha sido incluída, ela serve apenas como uma formalidade, já que no momento o Bruno não tem qualquer condição de arcar com essa despesa,” afirmou Cláudio Dalledone Júnior.
O advogado de Dayanne informou ainda que o único bem do casal é o sítio de luxo, em um condomínio em Esmeraldas. A propriedade está avaliada em 1,2 milhão de reais, mas, desde o início do ano, foi colocado à venda por 800 mil reais. Muitas pessoas visitaram a propriedade, mas ninguém fechou a compra. Ainda pesa a imagem do local como cativeiro de Eliza Samudio e seu filho.
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