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Apicultura melhora qualidade de vida na caatinga
Apesar de toda a informação que o século 21 oferece, ainda há quem acredite que na caatinga não existem recursos naturais suficientes para manter o sertanejo em seu habitat. E mais, que o semiárido não dá condições suficientes de sobrevivência para o sertanejo, ao menos de produzir alguma cultura e dessa atividade se obter lucro. Para aqueles que possuem tal imagem do bioma, a apicultura está quebrando esse tabu.
Agricultores familiares de municípios do Norte da Bahia, como Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado, Juazeiro, Uauá, Curaçá, Sobradinho e Sento Sé, apostaram na potencialidade que a apicultura oferece e estão se especializando na produção de mel e cera.
Somente Campo Alegre de Lourdes, de janeiro a abril desse ano (melhor período para exploração da apicultura), comercializou cerca de 160 toneladas de mel. O valor do quilo do produto, na cidade, gira em torno de R$ 4,30. Dessa forma, a apicultura contribuiu para circulação no comércio local com aproximadamente R$ 666,5 mil reais. O mais relevante em relação ao produto é que o custo de produção não passa de R$1,50, o que proporciona aos apicultores familiares um lucro real em torno de 65%, por quilo de mel.
Na região, a produção de mel, em 2011, ficou dessa forma: Remanso, com 64 toneladas (t); Pilão Arcado, 63t; Canudos, com 61t; Casa Nova, 62,08t; Juazeiro, 22,02t; Uauá, 26t; Curaçá, 17,24t; Sobradinho, 11,72t; e Sento Sé, com 858kg, totalizando, somente no território do Sertão do São Francisco, uma produção de 483.128 quilos de mel.
Mas nem sempre foi assim. Tradicionalmente, os agricultores familiares investiam exclusivamente na caprinovinocultura. Com incentivos governamentais e a participação de instituições como a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura (Seagri), responsável pela Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), e outras entidades como Univasf, Codevasf, Embrapa, Chesf e a própria Seagri, a situação vem mudando, consideravelmente.
A EBDA, após estudos e análises e em conformidade com as peculiaridades da região, concluiu que, para potencializar a qualidade de vida do sertanejo, a apicultura é uma das atividades com o melhor custo benefício para investimento da agricultura familiar. O primeiro passo foi intensificar as ações através de capacitações e dias de campo, realizados junto aos agricultores do território. O sucesso foi imediato e pode ser sentido esse ano, onde a produção de mel foi potencializada em 89%, em relação ao ano passado.
Dentro das capacitações, os técnicos da EBDA abordam a teoria, que é composta pelos temas: a história da apicultura, agroecologia, biologia e organização das abelhas, equipamentos a serem utilizados, a lucratividade da produção de mel e da cera, dentre outros. No segundo momento, os participantes colocam em prática os conhecimentos adquiridos, realizando a construção de caixas-iscas e em seguida a captura de enxames, o beneficiamento da cera alveolada. Esse último, essencial para a contribuição do desenvolvimento dos enxames.
A cera alveolada ordena a construção dos favos, facilita a coleta do mel, bem como o manejo da colmeia. De um modo geral, os agricultores que concluem todas as etapas do treinamento recebem certificados de participação no curso, emitidos pela EBDA.
De acordo com o técnico, Carlos Roberto Ribeiro, da EBDA, a empresa, em 2011, capacitou 433 famílias de agricultores, por meio de 25 treinamentos, nas principais regiões produtoras de mel. “Nossa meta é realizar mais 42 cursos totalizando, até o final do primeiro semestre do próximo ano, atingindo cerca de mil famílias capacitadas”, explicou o técnico. Compõe o treinamento: práticas de povoamento, alimentação artificial para os enxames, e manejo apropriado para produção.
Exemplos exitosos
Um exemplo de sucesso da apicultura, dentro do território, está na comunidade de Riacho Grande, em Casa Nova (a 570 quilômetros de Salvador). É o agricultor familiar, José Carlos Azevedo, 44, que, através de uma oficina de apicultura, realizada pela EBDA, se estimulou a produzir mel e hoje atingindo excelentes resultados, tornando-se um multiplicador de conhecimentos em sua comunidade.
“Em 2010, recebi dois treinamento, elaborei um projeto junto com a EBDA, voltado para apicultura, e logo em seguida procurei o banco e financiei 60 colmeias, que me proporcionaram passar, de 200kg por ano, em 2009, para 1,2kg de mel, no ano seguinte. Hoje, mais qualificado com a atividade, já consigo produzir o dobro de mel, com as mesmas 60 colmeias. A apicultura se tornou, para mim e minha família, a principal atividade de geração de renda,” comentou o apicultor.
O envolvimento de José Carlos e de sua esposa, Silvia Brasil, também agricultora familiar, com a apicultura, é medido pela sua filha, Lorena Azevedo, de 6 anos, que já possui seu próprio macacão de apicultora e que já colhe, junto com seu pai, o mel produzido na propriedade. “Quando eu crescer quero ser apicultora e ter minhas próprias colmeias” disse a pequena Lorena.
Os agricultores familiares que desejarem investir na apicultura devem procurar um dos escritórios da EBDA, e solicitar uma visita técnica. A empresa pretende incentivar o aumento do beneficiamento dos apicultores familiares, que devem ter em seus projetos comerciais a aquisição do selo do Serviço de Inspeção Federal (SFI) o que os tornam, legalmente, aptos para comercializar em qualquer estabelecimento comercial.
EBDA/Assimp