COZINHA COMUNITÁRIA

 COZINHA COMUNITÁRIA

Na época da grande depressão, o presidente Roosevelt instituiu a soup kitchen. Era uma cozinha comunitária que servia uma sopa nutritiva para os americanos desempregados. Além das frentes de trabalho – que também poderíamos ter por aqui se o orçamento permitir -, colocou nas nuvens a popularidade do presidente. Ele morreu já no fim da segunda guerra mundial no seu quarto mandato. Os americanos fizeram, então, uma das poucas emendas à sua constituição: limitaram a reeleição a um só mandato.

A Prefeitura Municipal foi felicíssima ao instalar uma cozinha comunitária no bairro Benone. Já tinha sido feliz ao instituir o cartão cidadão. Ainda é pouco. Mas é o possível e todos aplaudimos esse adjutório aos nossos mais carentes. Eles são desempregados, despojados, descamisados, esquecidos e carentes. Nada mais natural do que nós lhes estendermos a mão. Digo nós porque o financiamento dos programas sociais está assentado nos impostos que pagamos; e o senhor prefeito municipal faz muito bem em direcionar parte do nosso esforço para os irmãos carentes. A adjetivação que acabo de fazer em relação a eles nada tem de desabonador. Talvez o seja para nós outros que ganhamos um pouco mais. Mas, tenhamos calma. Eu sei o quanto pagamos de impostos e o quanto ralamos para pôr a comida na mesa para a família.

O ideal seria não termos a cozinha. Mas, o que fazer enquanto o Brasil está crescendo? Vamos chegar lá um dia; que não está muito distante. Já temos o pré-sal e temos um mercado interno pulsante que está segurando a barra da atual crise internacional (as crises são periódicas e não carecem ser chamadas de crises). O dinheiro do pré-sal, tão cobiçado pelos políticos e tão direcionado pelos planejadores de araque de plantão, deveria ser, no meu entender, usado exclusivamente para o pagamento da nossa dívida – da dívida do Governo Brasileiro – que é estúpida, terrível e irracional. Mas quem vai dar ouvidos a um colunista menor do fim da Bahia? A dívida seria paga e os bilhões, dezenas de bilhões de reais, dos juros passariam a custear o desenvolvimento e o bem-estar do nosso povo. Não precisaríamos mais de cozinhas, bolsas e doações. Seríamos, todos, indiscutivelmente, mais felizes.

As bolsas e as cozinhas, por enquanto, e nesse ínterim, nesse interregno, poderiam ter o efeito paralelo de educar: conscientizar um pouco aqui, amadurecer um pouco acolá, dar esperança um pouco adiante. Poderiam ser, por assim dizer, o cultivo da cidadania. Já [o] são. O pessoal é competente, sim, e não estamos aqui a ensinar a missa para o vigário. Mas temos a convicção que as ajudas devem ser provisórias. O beneficiário tem que ir sabendo que é capaz e competente para viver sem esmolas. Os recursos deverão se marcados, um dia, apenas para casos pontuais. Os que hoje estão sendo ajudados deverão ser os ajudadores de amanhã.

Mas valeu, senhor prefeito. Estamos esperando mais uma ou duas obras grandes e prioritárias (segunda ponte, ciclovia do Mulungu, UTI) para lhe rasgarmos elogios sem correr o risco de parecermos bajuladores. Bajulamos o povo de Paulo Afonso, eu e o senhor redator, e todos os que querem o bem geral da comunidade.

 

Francisco Nery Júnior

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