Broncas em público, rotina do Planalto

 Broncas em público, rotina do Planalto

Ministros têm dificuldades para desvendar humores de Dilma, que tem raros momentos de descontração e é duríssima nas cobranças

“Seu” Fernando levou bronca até no último dia de trabalho. Na segunda-feira, véspera de desocupar o gabinete em que deu expediente por quase sete anos, ele ficou sabendo que a chefe tinha um ressentimento guardado na geladeira. “Não pense que eu esqueci que o senhor ia direto falar com Lula, viu seu Fernando?”, disse a presidente Dilma Rousseff ao pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad.

“O senhor ia lá, convencia o Lula e aí criava aquele problema pra gente.” O puxão de orelha que deixou “seu” Fernando vermelho ocorreu na primeira reunião ministerial do ano, quando Dilma lembrou dos tempos em que foi ministra da Casa Civil, de 2005 a 2010, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A recordação, por Dilma, das peripécias de “seu Fernando” com o amigo Lula foi a senha para indicar que, a partir de agora, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, será uma espécie de clone do que ela era ontem. “Quando a Gleisi ligar para vocês, sou eu que estou ligando. Não adianta vocês tentarem mandar algum projeto direto para mim, sem crivo técnico, porque vou devolver”, avisou.

Quatro dias antes, na reunião setorial dos ministérios da Saúde e da Educação, Dilma disse que “dona Miriam”precisava entender que o grupo executivo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não é só de um ministério e também tem integrantes da Casa Civil e da Fazenda. O recado era para Miriam Belchior, ministra do Planejamento, que vira e mexe é chamada às falas por causa da lentidão do PAC.

O estilo de Dilma assusta quem não está acostumado a frequentar o Palácio do Planalto, mas às vezes surpreende até os próprios ministros. “Seu” Guido, o titular da Fazenda que vira “Guidinho” conforme a circunstância, nunca sabe medir o humor presidencial. Para se precaver, envia todo dia para Dilma, por e-mail criptografado, dois boletins com informações sobre o cenário econômico no Brasil e no mundo.

“Não quero mais projetos municipais. Não somos uma prefeitura”, esbravejou Dilma, na reunião ministerial do dia 23, quando anunciou o sistema de monitoramento dos programas do governo em tempo real.

O Estado de S.Paulo

 

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