Prefeitura suspende atividades, em decorrência da infecção de servidores pela covid-19
Para Temer, ideal seria ‘ministério de técnicos’
Michel Temer considera “superado” o atual modelo de funcionamento da aliança de partidos pró governo. “O que tem acontecido não é uma coalizão completa”, constata o vice-presidente da República.
Representante do PMDB na sociedade que tem o PT de Dilma Rousseff como acionista majoritário, Temer avalia que o sistema político atual, por imperfeito, estimula “conflitos” e “disputas”.
Em entrevista ao blog, Temer atribuiu as tensões à presença simultânea de diferentes partidos em várias das 38 pastas que pendem do organograma do governo. “Hoje, muitas vezes, ter a cabeça de um ministério não significa ter o ministério”, disse.
Na opinião de Temer, é preciso que “as coisas fiquem mais claras” para que a coalizão se complete. Acha que os partidos deveriam receber delegação para gerir setores inteiros. “Não é isso o que tem acontecido”, queixa-se.
“Na verdade, há um amálgama dos diversos partidos nos vários ministérios. Daí porque surgem muitas disputas. Esse sistema de coalizão amalgamada é que está superado.” O que fazer?
“Ou se tenta uma coisa mais radical, em que os partidos são responsáveis por certos setores, ou se elimina a participação dos partidos políticos, para que o governo forme uma administração apenas de técnicos.”
Temer vê dificuldades para a adoção desse modelo 100% técnico, livre de interferências partidárias. “Vejo dificuldades, porque a classe política tem, de alguma maneira, como colaborar.” Porém, em meio aos senões, o vice de Dilma defende a adoção de um meio termo.
“A melhor solução”, declara Temer, seria os partidos formularem ideias e indicarem ministros e equipes técnicas. “Se você adota essa fórmula, com a qual estou de pleno acordo, [a legenda] faz a formulação de uma política X ou Y e indica técnicos para implementá-las. Isso seria o ideal.”
Temer informou que discutirá o tema com Dilma. “A imprensa fustiga o governo –esse e os anteriores— porque a fórmula tem sido a de colocar gente da classe política nos ministérios, quando poderia colocar os partidos, mas por meio de técnicos. Quero conversar com ela sobre isso.”
Indagado sobre a aguardada dança de cadeiras da Esplanada, Temer previu: “A reforma será mínima.” Sobre os ministros do PMDB, declarou: “Tenho a impressão de que ficam todos.”
Declarou-se em perfeita sintonia com Dilma: “Chegamos ao final do ano numa relação muito fraternal.” Para 2014, pregou a reedição da parceria PT-PMDB: “A tendência natural é essa.”
Quanto a 2012, disse que a candidatura de Gabriel Chalita é irreversível: “O PMDB renasceu com essa história de uma candidatura em São Paulo.” Abaixo, a entrevista:
– Que achou do primeiro ano da gestão Dilma-Temer? Fizemos uma avaliação, eu e a presidente. A conclusão foi bastante positiva. Ela agradeceu muito ao PMDB e toda a base aliada. Achou que fizemos uma parceria muito útil. Avaliamos as votações no Congresso, todas muito favoráveis ao governo.
– O que houve de negativo? Acho que nada. Houve problemas em relação ao espaço governamental. Os partidos ficaram insatisfeitos. Vários partidos da coalizão, não apenas o PMDB. O próprio PT andou reclamando. Também o PR, o PTB… Mas essas reclamações não chegaram à negatividade. Negativo seria uma crise política ou institucional. Houve também uma ou outra reclamação dos parlamentares na questão das emendas orçamentárias. O governo teve de fazer cortes, em função da situação internacional. As queixas, compreensíveis e legítimas, foram contornadas.
– Em maio, após a votação do Código Florestal na Câmara, o então ministro Antonio Palocci lhe telefonou. Ameaçou retaliar o PMDB com a demissão de ministro. Esse curto-circuito deixou rusgas? Isso foi completamente superado. Foi um momento de infelicidade do nosso querido Palocci. Ele falava não com o amigo Michel Temer, mas com o vice-presidente da República. Aquele momento infeliz foi superado logo no dia seguinte. Ele se deu conta do erro. Todos se deram conta. E eu pude, de qualquer maneira, exercitar a autoridade do cargo.
– Depois desse episódio o relacionamento com Dilma melhorou? A relação teve acentuada melhora com o passar do tempo. Chegamos ao final do ano numa relação muito fraternal, politicamente e até no campo pessoal.
– A presidente passou a acioná-lo mais? Ah, sem dúvida. Depois de junho, ela teve uma conversa comigo. Disse que eu precisava ajudar nas áreas internacional, administrativa e política. E foi o que ocorreu.
– Quais foram as missões internacionais? Ela me disse: ‘Quero dividir com você as viagens de representacão, que são muito sacrificadas’. Eu fui ao Qatar, duas vezes a Nova York, uma a Paris… Também fui a uma reunião dos países íbero-americanos. Ela me delegou muita coisa.
– E na seara administrativa? Para dar importância à questão das fronteiras, ela me designou coordenador de um plano elaborado pela Defesa e pela Justiça. Durante esses últimos seis meses, nós tivemos bons resultados, que ela apreciou mutíssimo. Ela me pediu para verificar com alguns ministérios a questão das enchentes, para elaborar uma medida provisoria que protegesse as populações das encostas e outras áreas de risco. Isso foi feito.
– E quanto à política? No plano da articulação política, ela me delegou muita coisa. Ajudei muito o governo, muito mesmo. Minha ação não se limitou ao PMDB, cuja unidade consegui manter.
– Pode exemplificar? Agora mesmo, neste fim de ano, telefonei para o deputado Paulinho [PDT-SP], para que desistisse de uma obstrução que ameaçava a aprovação do Orçamento [o texto foi aprovado na antevéspera do Natal]. Antes, conversei muito com o PR, quando houve aquele acidente.
– Que acidente? O acidente que levou o Alfredo Nascimento a deixar o ministério [dos Transportes]. O PR cogitou sair do governo.
– O partido se declarou independente, não? No início, sim. Mas, logo depois de algumas conversas que eu tive, eles voltaram. Estão votando com o governo [no Congresso].
– Nunca tantos ministros caíram no primeiro ano de gestão. Acha que a saída de sete ministros expõe o esgarçamento do modelo de coalizão? Primeiro, fazendo uma retrospectiva de outros governos, houve muitas modificações também nas gestões de Fernando Henrique e Lula. Não saberia dizer agora quantas, mas houve modificações no primeiro ano. Segundo, acho que, se tomarmos a palavra coalizão no seu sentido real, o que tem acontecido não é uma coalizão completa.
– Como assim? O que tem acontecido é que os partidos vão para um setor e esse setor é dividido entre vários partidos, o que gera conflitos. Sou da tese, muitas vezes criticada, de que se você deveria deixar as coisas mais claras. O PT é responsável pela Educação, muito bem. Se der errado a Educação, o PT é responsável. O PMDB gere a Agricultura. Se a Agricultura der errado, o PMDB é o culpado. Mas não é isso o que tem acontecido. Na verdade, há um amálgama dos diversos partidos nos vários ministérios. Daí porque surgem muitas disputas. Esse sistema de coalizão amalgamada é que está superado. Ou se tenta uma coisa mais radical, que é uma coalizão completa, em que os partidos são responsáveis por certos setores, ou se elimina a participação dos partidos políticos, para que o governo forme uma administração apenas de técnicos, que eu não sei se será possível. Vejo dificuldades, porque a classe política tem, de alguma maneira, como colaborar.
– Não seria mais adequado que a colaboração dos partidos se limitasse à formulação de políticas, que seriam implementadas por gestores técnicos? Essa é a melhor solução, não há duvida. Os partidos formulam ideias e indicam técnicos. Acho que seria a fórmula mais útil. Impediria que o partido fosse responsabilizado só porque tem um ministro na cabeça do ministério. Hoje, muitas vezes, ter a cabeça de um ministério não significa ter o ministério. Se você adota essa fórmula, com a qual estou de pleno acordo, [a legenda] faz a formulação de uma política X ou Y e indica técnicos para implementá-las. Isso seria o ideal.
– Acha que vamos caminhar para essa fórmula? Acho que podemos caminhar para ela. Talvez a passos lentos, mas podemos caminhar para ela. Eu sou inteiramente favorável a essa fórmula.
– Dos sete ministros que saíram, três eram do PMDB. Nelson Jobim caiu por criticar colegas de ministério. Mas Wagner Rossi e Pedro Novais deixaram o governo sob suspeitas. O partido errou nas escolhas? Não. No caso do Pedro Novais, teve acidentes lá [no Ministério do Turismo] que vieram do passado. Houve problemas relacionados à atividade dele como parlamentar. Mas, no ministério, quando se detectou esta ou aquela falha, nada era fruto da atuação do PMDB. Eram contratos firmados há muito tempo. No caso da Agricultura, o Wagner Rossi fez a exposição do Plano Agrícola e Agropecuário, em Ribeirão Preto, com a presença da presidente. E ela ficou maravilhada com aquilo. Sou testemunha desses fatos e posso relatar: ela resistiu o quanto pôde para que ele saísse do ministério. Quanto ao Jobim, saiu por causa daqueles acidentes verbais.
– No caso do Wagner Rossi, a PF o indiciou, responsabilizando-o pelas irregularidades noticiadas. Sim, mas as apurações internas, feitas pela Agricultura a pedido dele, nada detectaram em relação a ele. Pediram a apuração em relação a outros funcionários. Em relaçao a ele, zero. Eu tive acesso a estas conclusões, tanto do ministério como da Controladoria Geral União.
– Está convencido de que, ao final das apurações, Wagner Rossi será isentado de culpa? Tenho quase, e ponho aí esse quase, que absoluta convicção.
– Quando o sr. defende a coalizão completa, com a entrega de ministérios inteiros a partidos determinados, não receia ser identificado com a mal afamada tese da porteira fechada? Minha ideia de coalizão seria um pouco como no parlamentarismo. Você entrega setores a partidos. Não se trata de porteira fechada. Se o sujeito recebe um setor para conduzir –e haveria declaraçoes públicas de que o setor tal incumbe ao partido X, veja qual seria a gravidade se houvesse malfeitos, para usar a expressao da moda, nesse ministério. Hoje, quando há alguma coisa, você tem a imputação a vários setores partidários que estão nesses ministérios. Claro que estou falando de uma opção radical, que é quase um caminho para o parlamentarismo. Nesse modelo, a responsabilidade dos partidos é integral. Fala-se muito em republicanismo. Republicano significa responder pelos seus atos. Se um setor fosse entregue à responsabilidade integral do partido A ou B, esses partidos teriam de prestar contas à nação. As consequências seriam mais graves se houvesse malfeito no setor.
– Estamos falando de dois modelos diametralmetne opostos. Num, entrega-se o ministério a um partido. Noutro, o partido contribui com ideias, mas a gestão é técnica. Qual prefere? Acho melhor esse segundo. O partido formula políticas e apresenta nomes técnicos. Veja que, de alguma maneira, a segunda fórmula se aproxima da primeira. Ao indicar um técnico, é um técnico seu, é de sua responsabilidade. Teria que ser alguém que vá para lá em nome do partido. Vai compor uma equipe técnica de acordo com o partido. E vai responder partidariamente.
– Já falou sobre isso com a presidente? Não, mas confesso a você que quero conversar com ela sobre isso. A imprensa fustiga o governo –esse e os anteriores— porque a fórmula tem sido a de colocar gente da classe política nos ministérios, quando poderia colocar os partidos, mas por meio de técnicos. Quero conversar com ela sobre isso.
– Num café da manhã com jornalistas, a presidente disse que não admitirá ingerência dos partidos no governo. Acha possível? O que ela quis significar foi que não pode, a meu ver, haver ingerência negativa. Evidentemente, quem está no ministério deve responder à chefe do poder Executivo. Não pode responder ao partido. Mas receber sugestões dos partidos, para o benefício dos setores, não está proibido e nem estava nas palavras dela. Quando ela disse que não vai haver ingerência, quis dizer que o ministro, até por dever institucional, deve obediência ao governo, não ao partido. O regime é presidencialista.
– Dizer que o ministro deve obediência ao chefe do Executivo é um pleonasmo, não? Sim, é um pleonasmo. É o mesmo que fazer cocada com o coco do coqueiro. Nao há dúvida sobre isso.
– Na reforma ministerial, sua expectativa é que o PMDB mantenha o espaço atual ou pode aumentar? Não cheguei a conversar sobre isso com ela. Mas o que posso dizer, fruto de algumas conversas que tive, é que não haverá exatamente uma reforma no sentido amplo. A reforma será mínima. Vai envolver apenas os ministérios cujos titulares vão disputar a eleição municipal. Pode haver uma ou outra modificação, mas muito pequena. Não haverá uma grande reforma. Tenho a impressão de que tudo continua como está. Há setores dos vários partidos que querem aumentar sua influência. Mas creio que ficará mais no anseio.
– Em relação ao PMDB não muda nada? Tenho a impressão de que ficam todos. Até porque dois acabaram de entrar [Mendes Ribeiro, na Agricultura, e Gastão Vieira, no Turismo].
– Compartilha da tese de que há ministérios demais? Compartilhar, compartilho. Mas operacionalizar uma redução é muito dificil. Não acredito que haja possibilidadce de redução.
– Chegou-se a esse número de 38 pastas para satisfazer os apetites da aliança, não? Às vezes dizem isso, mas creio que foi em face da presença de certos setores na sociedade brasileira. Presenças que ganharam muita significação. Por exemplo: as mulheres e os afrodescendentes, os direitos humanos. Ganharam tal signficação que foi preciso criar áreas administrativas exclusivas.
– Não é lhe um contrasenso que o PMDB, maior partido do país, não dispute a presidência da República? Isso pode mudar em 2014? Em relação a todo e qualquer partido, há sempre uma espécie de patriotismo, aqui coloco patriotismo entre aspas, no sentido de postular uma candidatura própria. Qual é a posiçao do PMDB? Transformou-se num fortíssimo partido congressual. No tempo do Fernando Henrique, foi possível o combate à inflação, o Plano Real e etc., porque o PMDB, congressualmente forte, deu apoio a essa fórmula. Depois, o grande momento do governo Lula foi quando nós conseguimos a unidade absoluta do PMDB.
– Refere-se ao segundo mandato, na fase pós-mensalão? Sim. No segundo mandato, quando nós, unidos, apoiamos o governo Lula, foi possível implementar todas as suas políticas sociais. O partido verificou que é importante ser forte congressualmente para ter presença no Executivo. Como se dá essa presença agora? Por meio da vice-presidência e dos ministérios. Não sei o que vai acontecer no futuro. Mas a tendência é nós tentarmos fazer o maior número de prefeitos, depois de governadores, deputados estaduais e federais, senadores. Mas devemos manter a mesma eguação atual para 2014.
– PT e PMDB juntos? Exatamente. É claro que tem muita coisa para acontecer ainda, não se sabe o que irá ocorrer. Mas a tendência natural é essa. Por isso, é preciso um grande respeito entre esses partidos na área federal.
– Deve-se repetir em 2014 a chapa de 2010? Aí já não sei dizer. Faltam três anos ainda. É muito prematuro.
– Considera razoável que Dilma reivindique a reeleição? Em termos de razoabilidade não há dúvida quanto a isso.
– É licito supor que PMDB mantenha o seu nome na chapa? É provável. Mas sempre no campo das probabilidades. É legítimo o PMDB postular o lugar. Quem será, não sei. É provável que possa repetir a mesma fórmula.
– Se acha natural a manutenção da aliança PMDB-PT no plano federal, por que o partido decidiu disputar a prefeitura de São Paulo com a candidatura própria de Gabriel Chalita a despeito dos apelos de Lula para uma coligação com o petista Fernando Haddad? O quadro é diferente. Para sermos fortes no plano federal, dependemos das eleições municipais. Para ocupar a Presidência ou a vice no plano federal você precisa ser forte nos municípios, nos Estados e no Congresso. Então, a análise que fizemos, tendo em vista as possibilidades do deputado Chalita, é que é importante para o PMDB de São Paulo lançar um candidato. Sem prejuízo de que, no plano federal, o PMDB continue a ser o fiel da governabilidade e continue a participar do Executivo por meio dessa fórmula que atualmente se estabeleceu.
– Portanto, o PMDB não cogita, por ora, apoiar Haddad em São Paulo? Nem por ora nem para depois. Chalita está pré-lançado candidato e está empolgando os nossos militantes. O PMDB renasceu com essa história de uma candidatura em São Paulo –na capital e em vários municípios grandes do Estado. O partido está mobilizado e a figura do Chalita entra com muita leveza em vários setores da sociedade paulistana.
– Considera-o competitivo apesar do apoio de Lula a Haddad? Ele entra na disputa competitivo. Além disso, para a base aliada do governo, não é ruim ter dois candidatos em São Paulo. Depois, verifica-se quem foi para o segundo turno e faz-se uma composição. Eleitoralmente, é bom ter dois candidatos.
– Candidatos como Chalita, com alta taxa de desconhecimento, precisam de tempo de TV. O PMDB cogita aliar-se com o DEM em São Paulo? Queremos fazer o maior número de alianças possível. Até por ser um candidato novo, demanda muito tempo de TV. E a possibilidade de alianças em São Paulo é muito acentuada.
– Não exclui o DEM? Não. Essas questões não têm influência no plano federal, são locais.
josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br