Vejam só que festa de arromba… Por Marli Gonçalves

 Vejam só que festa de arromba… Por Marli Gonçalves

Bateu um saudosismo musical danado. Daí pensei em várias canções do iê-iê-iê que poderiam ser reescritas com toda essa atualidade a que assistimos apavorados. Para ler cantarolando. De um lado, se lembrar da música; de outro, para disfarçar, porque estamos a 120 por hora. Na ladeira. Abaixo. Dançando a gente já está.

“Vejam só que festa de arromba/Noutro dia eu fui parar/Presentes no local, O rádio e a televisão/ Cinema, mil jornais /Muita gente, confusão/ Quase não consigo/ Na entrada chegar/ Pois a multidão / Estava de amargar/ Hey, Hey!Que onda/ Que festa de arromba”…

Lembrei dessa por conta da CPI do Silêncio, do barulho, do cofre, das vozes finas, das caras de pau e sebo, de tacho. Um balcão de negócios instalado no centro brasileiro de decisões, consumindo verbas, muito noticiário e já parecendo e funcionando como horário político de televisão. Com direito a cenas de telecatch e sexo implícito.

“Essa é uma prova de fogo/ Você vai dizer se gosta de mim /Eu sei que você não é bobo/ Porém seu reinado vai chegar ao fim. Tanto tempo eu esperava/ Você fingia que me amava/ Sorria e até cantava/ Fingindo gostar de mim… Essa é uma prova de fogo/ Você vai dizer se gosta de mim/ Eu sei que você não é bobo/Porém seu reinado vai chegar ao fim/ Porém seu reinado vai chegar ao fim…”

Ora, claro que a Ternurinha só podia nos fazer recordar daquela meiga e insinuante troca de mensagens do deputado que ama o governador que ama o deputado, e ambos amam troçar com nossa cara. De preferência, em Paris, bebendo bons vinhos com guardanapos amarrados na cabeça e solas vermelhas dançando o tchan. Do alto de grandes obras com letras gregas. E ainda falam do bicheiro, que vai acabar saindo dessa como santo se as coisas continuarem nessa toada “nós é teu”.

Não bastasse, os tais três, quatro, cinco ou seis poderes se encalacraram. O ex-presidente que resolveu que é onipotente e todo-poderoso atrai um ministro da Suprema Corte para uma conversinha de pé de orelha intimidatória e vexatória. Foi um tal de cair na entrada, e na saída deixar um borrão. O dono da casa do bordel desconversou. O frequentador reclamou e o exército nonsense saiu em campo, com xingação para tudo quanto é lado. Daí, como se tudo estivesse a mil maravilhas, o trapalhão vai no programa do Ratinho pisar na cabeça da lei eleitoral, levando pelo braço seus meninos mimados para apresentar à multidão. Conta histórias de rabadas e feijoadas, e cospe fogo e bílis pela garganta recém recuperada.

Isso não pode fazer nada bem nem para ele, nem para ninguém. Mas aquele senhor, antes até respeitável, está na fase “cantando de galo”.

Eu sou terrível, e é bom parar/ De desse jeito, me provocar/ Você não sabe, de onde eu venho/ O que eu sou, e o que tenho/ Eu sou terrivel…/Estou com a razão no que digo/ Não tenho medo nem do perigo…

PIB, PIBINHO, e o negocinho ficando feio. Calcinhas caindo do bolso. Indústria estrilando. Negócios fechados desfeitos depois que sigilos são abertos, sendo que antes eram maravilhosos. Castelos de cartas. E estádios e estradas trucadas.

Stop! Com Rolling Stones, stop! Com Beatles songs! No peito um coração não há, mas duas medalhas sim. Tatá-ratatá… Tatá-ratatá…

Nos últimos dias foram mesmo surpresas em cima de surpresas. Teve Xuxa abrindo o coração e, ao explicar seus problemas emocionais e de relacionamento, mostrando-se inteiramente psicoanalisada. Em vez de ouvirem seu grito, seja como for de alguém que não me pareceu nem um pouco pedindo ou não aprovação, teve quem – juro – falasse que ela estava querendo se promover. Como se ela precisasse, coitadinha, pobrezinha, tão feinha e necessitada que é… O que ela promoveu, e merece muitos aplausos por isso, é que o assunto do abuso sexual contra crianças e adolescentes foi falado, mesmo que por pouco tempo, mas como há muito não se via. Pena que por pouco tempo.

Inveja, caros, cada vez percebo mais isso, é triste demais. Faz mal. Embota pensamento, confunde o que deve ser visto. Tem muita gente com inveja, por exemplo, dos milhões que o advogado do Cachoeirinha diz que vai mesmo receber é “dos amigos dele”. Com seu nariz de cheirar o ar para ver se alguém soltou, até o causídico entrou no bombardeio, caldeirão. Não é este o problema central. Não quero ser chata, mas há outro argumento. Adivinha quem foi o chefe do chefe dos policiais de um tempo de operações federais que levaram à esta situação? Ficou uma coisa “eu te prendo, mas te livro dessa, pode deixar”. (Antes que venham me corrigir, recordo que depois do Narizinho, entrou o bigode gaúcho, mais um zero posto à esquerda).

Para finalizar apareceu uma droga sintética americana que – acompanhe – cria alucinações tão fortes que levam ao canibalismo. Bem, canibalismo real. Porque gente destroçando gente por ânsia de poder, de dinheiro, de sacanagem, já tem até demais.

E nem precisam tomar droga nenhuma.

 São Paulo, 54 anos depois que cheguei ao mundo, 2012

Marli Gonçalves é jornalista – Pode tirar/ O seu time de campo/ Pois o meu coração/É do tamanho de um trem/ Iguais a você/ Eu já peguei mais de cem/ Pode vir quente/Que eu estou fervendo…Se você quer brigar e acha que com isso/ Estou sofrendo? / Se enganou, meu bem/ Pode vir quente/ Que eu estou fervendo…

PS: Fiz uma seleção especial de filminhos relacionados com essas canções, incluindo a troça com o mensalão, e a versão de Rita Lee para a festa de arromba. Se puder, vai assistir lá no meu blog – http://marligo.wordpress.com

Vou ficar feliz com sua visita.

 

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