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Maria Bonita e os Cães. Por Francisco Nery Jr.
A motivação para esta crônica veio da contemplação da foto de Maria Bonita, lá pelos anos 30, acariciando dois amigos fiéis. Ao fundo, a caatinga sempre a nos lembrar que o sertanejo é, de fato, um forte. Maria está bonita: olhar simples e significativo, pernas torneadas à mostra, cabelos arrumados. Era bonita!
Nasceu em 1911 e viveu entre onze irmãos até os 15 anos quando se casou com o sapateiro Zé Neném até aos 18. Conheceu Lampião e conviveu com ele 8 anos até ser barbaramente degolada, ainda viva. Vinha de um tempo conturbado, vivia correndo pela caatinga sem poder criar os filhos,castigo suficiente para alguém que é julgada como facínora em contraposição aos que a julgam heroína. Simplesmente não era preciso tanta crueldade. Em 1968, vi a sua cabeça (nada lembrava a Maria Bonita da foto) exposta na Faculdade de Medicina da Bahia, em plena Praça do Terreiro de Jesus. Lembrança macabra de tempos anteriores mantida não sei pra quê. As teorias que tentavam explicar as aberrações do comportamento humano a partir das características físicas do indivíduo já passavam da moda.
Olhem os leitores a doçura com que Maria afaga os dois cães!Um se hospeda confortavelmente ao lado da sua [quente] perna direita enquanto o outro, mais responsável e mais prudente, mais ao longe da esquerda, parece querer registrar para a posteridade a lealdade à amiga e protetora. Parece estar dizendo que está ali para todos os efeitos. Parece dizer mais: ele está a significar que a sua bonita amiga ainda guarda dentro de si todas as características de um ser humano criado à semelhança de Deus – que é amor. O cão mostra uma certa revolta com o destino que a aguardava.
Podemos imaginar Maria Bonita cheirosa na foto. Dá vontade de abraçá-la imitando Lampião que deve ter visto nela tudo aquilo que os seus amigos caninos enxergavam. O abraço, nesse caso, poderia nos redimir, a nós os descendentes dos que compareceram e trucidaram Maria Bonita e Lampião com toda a força de que dispunham.
Francisco Nery Jr.
2 Comments
Prezado Articulista, pesquisando notícias de minha inesquecível Paulo Afonso, depari-me com sua coluna. Indiqueia-a a um colega de trabalho fã incondicional de Mestre Lampião e Maria Bonita.
vandersonmelo@uol.com.br
Corrigindo, em tempo: deparei-me, para aqueles mais ortodoxos(rsrsrsrs…!).