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Em Delmiro, esgoto causa doenças
Vizinho de Sergipe, Bahia e Pernambuco, o município de Delmiro Gouveia (AL) nasceu como povoado de Água Branca, 256 metros acima do nível do mar. Localizado entre os cânions do São Francisco, o povoado foi elevado à categoria de município em 1952.
Como em Macondo, a cidade criada por Gabriel García Marquez em Cem Anos de Solidão, o personagem que mais tarde seria homenageado com o nome do município apavorou os sertanejos com os primeiros cubos de gelo que se tem notícia nos confins do sertão alagoano. Delmiro Augusto da Cruz Gouveia alterou a relação do sertanejo com o tempo, esticou o dia com a luz elétrica quando fundou, em 1913, a primeira hidrelétrica do Nordeste que se utilizava da margem alagoana da cachoeira de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, para produzir energia elétrica.
O início dessa história muito se parece com o início daquela criada por García Marquez: “Uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes”, tal como os cânions do São Francisco. Pedra Delmiro, como era chamada a Macondo alagoana nos tempos de povoado, se desenvolvia na medida em que os delmirenses estreitavam a relação com o rio. Em 1914, os sertanejos daquela região passaram a receber a água do São Francisco canalizada em suas casas.
Quase cem anos depois, Delmiro Gouveia tem 48 mil habitantes, 11.176 domicílios com água canalizada e ainda sofre com problemas sanitários. “Eu acho que pra cada pessoa aqui deve ter uns 50 mosquitos, é muito mosquito e mosca então nem se fala”, avalia o agricultor Oswaldo Filho, de 32 anos, morador do bairro que recebe o nome contraditório de Ponto Chique, imerso em vulnerabilidade social e esgoto a céu aberto.
Outro problema enfrentado pela população de Ponto Chique é o difícil acesso em dias de chuva, quando o esgoto a céu aberto se mistura com as águas pluviais nas ruas. “Quando chove ninguém passa por aqui, alaga tudo. Quem tá dentro não consegue sair e quem tá fora não consegue entrar”, disse a dona de casa, Eunice Rodrigues de 44 anos.
De acordo com a Secretaria de Saúde do município, a comunidade e adjacências são acompanhadas por 117 agentes de saúde que visitam as famílias uma vez por mês. “Cada agente atende 130 famílias, que recebem noções de higiene, remédios quando necessário e toda atenção básica necessária para o mínimo de qualidade de vida”, explicou a coordenadora de atenção básica da Secretaria de Saúde, Marta Tenório.
Ainda de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, o acompanhamento realizado pelos agentes com as famílias em situação de vulnerabilidade social de Delmiro Gouveia tem reafirmado uma demanda que historicamente parece bastante óbvia na região. As doenças registradas são, em sua maioria, relacionadas à ausência de saneamento básico na região.
De janeiro a agosto de 2012, 758 casos de diarreia foram registrados em Delmiro Gouveia, como aponta a enfermeira, coordenadora da vigilância epidêmica municipal, Dayane Targino. Segundo ela, apesar do número não representar uma epidemia se comparado com o mesmo período do ano passado, é necessário lembrar que o número oficial corresponde ao número de casos registrados, acompanhados e tratados com o auxílio dos agentes de saúde, e, também, dos postos de saúde. “Mas existem os casos que não chegam até nós e são tratados de forma caseira. Esses casos ficam à margem dos nossos índices, nós não temos como garantir categoricamente que todos eles estão diretamente relacionados às questões de saneamento básico porque não existe uma pesquisa que indique isso. Mas, em contrapartida, é bastante claro que as nossas condições de saneamento propiciam a proliferação de escabiose (sarna), pediculose (piolho) e verminoses. A incidência de diarreia está atrelada as condições de higiene dos alimentos e a qualidade da água, dois fatores diretamente relacionados ao saneamento básico”, explica a enfermeira.
Texto: Acássia Deliê e Morena Melo
Secretaria de Estado da Infraestrutura