Da Vida e da Renúncia do Papa. Por Francisco Nery Júnior

Bento XVI acaba de renunciar. Está na mídia. O papa se acha velho e a Igreja Católica terá de eleger um novo pontífice. Não tive tempo ainda, escrevendo que estou de Salvador, de verificar no Google se a renúncia é coisa inédita. Das coisas internas do Vaticano, sei muito menos. O Papa é conservador e pode não ter agüentado a onda; a nova onda dos novos tempos.

A nós, cabe ir levando a vida. A nossa vidinha de sempre, cá pra baixo, tem suas vantagens. Comemos e bebemos a comida e a bebida dos simples. Às vezes até sonhamos os sonhos dos justos, já que nos reservamos o direito de nos considerarmos justos.Vivemos a vida e contemplamos a morte. Ah, a morte! Danada de morte que não desejamos, mas que nos espreita a cada momento. A sensação é que ela está a cada esquina dos nossos momentos a desejar o dela. Mas tenhamos calma. Ela está domada e virá na hora certa. Afinal, ela é apenas a reversão de um processo. Se o leitor preferir, o reinício do verdadeiro processo. Assim creem os cristãos, os que se submetem à autoridade do agora futuro ex-papa, como também os outros.

Acabo de voltar do Campo Santo. Fui depositar uma flor na sepultura dos meus mortos. Depositei, subi de volta, e me sentei em uma sepultura antiga para meditar. Nada melhor do que meditar em hospitais, prisões e cemitérios. Em relação ao último, o consolo é que significa lugar dos que dormem. Sim, ali vamos dormir. Não estaremos mortos. Estaremos dormindo.

Sentado, passou um cortejo. O  morto na frente, devidamente encaixotado, seguiam os que o amaram. Um tocava um saxofone. O som lúgubre batia nos túmulos e chegava aos meus ouvidos. Esqueci o cemitério, esqueci a morte. A música tem esse poder.

A procissão fúnebre desapareceu na primeira esquina e eu voltei, agora fora do cemitério,para a vida de sempre. Vamos ter um novo papa. Mais um em nosso tempo de vida. O tempo segue o seu desígnio.

Francisco Nery Júnior