O 1º de maio! Por Francisco Nery Júnior

O Sinergia acaba de publicar uma brochura escrita em boa linguagem, clara e convincente, sobre as comemorações do 1º de maio. O sindicato conclama os trabalhadores à luta. Luta, como dita na brochura, significa reivindicar direitos e anelar avanços. Claro que a jornada de trabalho deve descer de 44 para 40 horas semanais. A família do trabalhador merece o chefe do clã em casa nos sábados a consertar pequenos defeitos, sair para a feira ou mesmo dormir, assistir televisão ou jogar conversa fora.Ninguém é de ferro, sim, Nelson Rodrigues, ninguém é de ferro. Evidente que o salário mínimo é mínimo mesmo. Vamos reconhecer que muitas empresas pagam adendos emergências, não só para segurar o bom empregado, mas, reconheçamos, pura e simplesmente por amor ao próximo. Podem ser poucas. São, entretanto, um belo exemplo para as demais que linearmente cumprem a lei.

Os avanços sociais da humanidade poderiam ser bem maiores a esta altura se pelo menos metade do patrimônio do morto ficasse para um governo honesto promover o bem comum. Se não existe governo honesto, a conversa é para a banda de lá. Se não há governo honesto, como então pagamos os nossos impostos? São impostos, o leitor pode redarguir, mas pagamos. Os herdeiros iriam protestar. Justiça social é coisa para os outros fazerem. Depósitos nas ilhas das Antilhas iriam aumentar. Nada, porém, que acordos internacionais não pudessem resolver. Acordos internacionais, ou normas internacionais,implementados por uma administração mundial honesta, revestida dos necessários poderes para este mister. Se isto é sonho, sonhemos então. O morto já estará morto. Via de regra,  o patrimônio deixado para trás foi pura e simplesmente obra sua; sem ajuda e com oposição. A metade herdada pelos sobreviventes já seria de bom tamanho.

O pessoal do 1º de maio conclama todos para lutar por ciclovias. Cidade plana convida ciclovias. Trabalhadores pobres merecem ciclovias. Combustível caro para automóveis impõe ciclovias. Preservação do meio ambiente exige ciclovias.

Que todos lutemos por essas coisas. Pode haver reação. Pode haver retrocesso. Mas vale a pena lutar. Ou não vale? Alguma coisa melhor que ver avanço social? Algo melhor que morrer e deixar saudade? Algo melhor que ficar no coração de algumas pessoas nem que seja enquanto elas durarem?

Por Francisco Nery Júnior