João Leão diz que PP será independente.”Se não nos derem nada, nós vamos procurar nosso caminho”

 João Leão diz que PP será independente.”Se não nos derem nada, nós vamos procurar nosso caminho”

Papas na língua? Essa nunca foi uma das virtudes do deputado federal João Leão. Membro da direção estadual do PP, com perspectiva de ser conduzido para a presidência da sigla na Bahia em dezembro, Leão cita apenas dois nomes do PT para suceder Jaques Wagner no governo, Walter Pinheiro e Jorge Solla. Outro lembrado é o vice-governador Otto Alencar. Além deles, o parlamentar coloca ele e o deputado federal Mário Negromonte como possíveis integrantes da chapa majoritária. E sinaliza: “Se não nos derem nada, nós vamos procurar nosso caminho. Qualquer caminho”. “O PP tem dois candidatos potenciais que podem ser candidatos a governador”, frisa Leão.

Tribuna – O PT tem quatro candidatos de olho em 2014, mas o senhor já anunciou só apoiar se for Walter Pinheiro. O que justifica a decisão?

joao leao -agecomJoão Leão – Primeiro, eu não anunciei que só apoio Walter Pinheiro. Eu puxei o secretário Solla [Jorge Solla, da Saúde] para o jogo. Eu acho que o secretário Solla faz uma administração que é o que eu quero para a Bahia. Eu quero para a Bahia um excelente candidato para continuar o trabalho que foi iniciado pelo governador Jaques Wagner. Então, você precisa de um administrador de ponta. Que nós, políticos, confiemos nele e o povo confie. Eu só vejo dentro dos quadros atuais do PT duas pessoas que têm a estirpe para ser governador da Bahia. E o senador Walter Pinheiro tem cadastro e tem estirpe. O secretário Solla tem cadastro e tem estirpe. Eu não vejo nos outros candidatos ainda – não tenho nada, absolutamente nada contra Rui Costa, Sérgio Gabrielli e contra Luiz Caetano, absolutamente nada, todos são meus amigos. Aí eles vão dizer: “com um amigo desse, eu não gostaria de tê-lo”. Mas não é, gente. Eu estou querendo o melhor para a Bahia, e o melhor para a Bahia, na minha ótica, dentro dos quadros do PT, é Walter Pinheiro, em primeiro lugar, e Solla. São os dois.

Tribuna – Tem alguma relação com a suplência ao Senado, já que o suplente de Walter Pinheiro é Roberto Muniz?

 Leão – Nenhuma. Absolutamente nenhuma. O suplente por acaso é Roberto Muniz. Que o governador quis aquinhoar o PP, naquela época. Mas não teve absolutamente nada com Roberto Muniz, outro quadro muito competente do nosso partido.

Tribuna – Se o governador Jaques Wagner conseguir emplacar o nome de Rui Costa, o senhor vai de encontro a ele?

 Leão – Aí a gente vai estudar. Vou ter que botar a minha cabeça no travesseiro e ter sonhos bons. Nós vamos ter que estudar muito.

Tribuna – Qual o espaço que o PP pretende buscar na chapa majoritária do próximo ano?

Leão – O PP é o segundo partido da chapa majoritária em número de votos. O PSD fez um número maior de prefeitos que nós. Mas, em número de votos, nós somos o segundo. E voto é voto. O que é que elege? É voto. Não é prefeito que elege. É voto. E nós demonstramos na eleição passada. E o PP só tem feito. O nosso interesse é no Senado, em primeiro lugar. Precisamos ter muita conversa pra gente aceitar a vice.

Tribuna – Otto Alencar e Mário Negromonte falam no Senado. Aceitariam uma vice?

Leão – Acho que Otto aceitar uma vice é muito difícil, porque ele já é vice. É muito difícil ser vice duas vezes. Eu acho que Otto está pronto para governar a Bahia também. Otto seria outro excelente candidato, fora do PT. Fora dos quadros do PT hoje, na nossa coligação, o que está melhor condicionado é Otto Alencar.

Tribuna – Quem do PP vai brigar por espaço na chapa? O senhor ou Mário Negromonte?

Leão – Os dois. Isso é da democracia. Eu acho que nós temos direito, nós temos que deixar o partido escolher. Não sou eu. Eu não posso ser o dono da candidatura tal, nem qual. Nem Mário. Os dois têm que deixar o partido escolher.

Tribuna – Existe o clima de desentendimento entre o senhor e o deputado Mário Negromonte?

Leão – Nenhum. Eu e Mário moramos juntos em Brasília. Tomamos café da manhã juntos, almoçamos juntos e, na sua maioria das vezes, jantamos juntos. Nenhum desentendimento. Zero. Agora ele quer uma coisa e eu também.

Tribuna – O que é que ele quer e o que é que o senhor quer?

Leão – Ele quer participar da chapa majoritária e eu também quero. É um direito dele e é um direito meu. E por isso nós vamos brigar? Nunca. Nós vamos nos acertar. Eu e Mário nos acertamos há anos.

Tribuna – O senhor assumirá o comando do PP em dezembro?

Leão – O comando do Partido Progressista está tudo acertado com o deputado Mário Negromonte, com os amigos, com os deputados estaduais, com a nacional que, em dezembro, eu assumo o comando do partido.

Tribuna – Como o senhor vê as críticas de pessoas do próprio PP de que não se pode ter tudo?

Leão – Ninguém pode ter tudo. Nós temos que ter tudo aquilo que é possível.

Tribuna – Existe alguma possibilidade de rompimento entre vocês?

 Leão – [Enfático] Nunca. Nunca vou brigar com Mário. Nunca. [Mais calmo] Nós podemos chegar até o ponto de ter uma disputa interna dentro do partido, mas eu, no meu discurso, que sou Mário, meu amigo e meu irmão, e ele dizendo – eu tenho certeza – que sou amigo dele e irmão dele. E vamos deixar o diretório decidir. Vamos deixar todo o partido decidir.

 Tribuna – Quem apostar numa ruptura perde a aposta?

 Leão – Sim. Com certeza. Quem apostar numa ruptura perde a aposta.

Tribuna – Qual o cenário que o senhor vê mais palpável em 2014?

Leão – Eu ainda acho que Neto [ACM Neto, prefeito de Salvador] será candidato a governador. Ainda acredito. Até hoje João Henrique se arrepende de não ter sido o candidato a governador naquela época. Eu acredito que Neto será candidato a governador. Então se você botar a figura do Neto como candidato a governador, que Neto está bem, está forte. Eu não sou de esconder a realidade para ninguém. Vamos ver. Ou nós nos unimos bastante ou pode acontecer uma tragédia. Se não for Neto, nós não temos oposição.

Tribuna – Geddel Vieira Lima não tem condições de unificar a base de oposição?

Leão – Muito difícil. Gosto muito de Geddel, mas gosto muito é de Lúcio. Lúcio é o ex-presidente do partido, que agora é Geddel. Mas Lúcio é nosso colega. É uma figura maravilhosa. Agora não acredito que o PMDB tenha condições de unificar a base da oposição na Bahia.

Tribuna – O senhor acredita que o cenário nacional, aliado ao momento econômico do país e como Dilma estará em 2014 vai influenciar na escolha do candidato na Bahia?

Leão – Com certeza. Se for Dilma ou se for Lula. O cenário nacional hoje, você vê passeatas, isso e aquilo, o Brasil não é o mesmo de 30 dias atrás. Hoje nós temos um Brasil totalmente modificado. É passeata, reclamações em mais de 100 cidades no país. As grandes cidades estão. Inclusive muitas pessoas que vão para essas passeatas que não sabem nem o que é que estão pedindo. O cara não sabe nem por que está ali. Ele está ali por estar. É aquela oportunidade que a pessoa tem de reclamar. Eu vi um vídeo até no avião, que quem me mostrou foi a deputada Alice Portugal, de uma senhora com uma criança no colo, com o marido do lado, ela dizia: “eu estou aqui nessa passeata para modificar. Eu quero que tire o flúor da água que nós bebemos”. “Eu quero que se modifique a situação mundial”. Ela não estava ali pelo preço da passagem, ela estava por causa do flúor. Aí você vai: Zé Mané vai porque a conta de luz dele veio alta. O outro tá porque está sem dinheiro para pagar a conta de água.

Tribuna – O senhor acredita que esses protestos que estão acontecendo no país vão obrigar os políticos a mudar suas práticas, a forma de fazer política?

 Leão – Com certeza. O político hoje que não se adaptar à mídia social e que não mostrar à mídia social aquilo que está fazendo, como ele está fazendo e de que maneira ele vai fazer, ele pode ir para o fracasso.

Tribuna – O senhor avalia que esse recado das ruas vai exigir uma nova forma, inclusive de gerir a coisa pública?

 Leão – Com certeza. Eu acho que o povo está pedindo aquilo que é certo: transparência. Transparência na coisa pública. Isso já deveria ter acontecido há 15 ou 20 anos. Não era agora não. Era logo após, quando nós tivemos o problema das Diretas Já, a população deveria ter continuado com esse tipo de receita. Isso que eles estão nos dando é uma receita para a gestão pública.

Tribuna – Qual é essa receita?

Leão – Essa receita é seriedade, é honestidade, é você ter capacidade, gerir bem. O que é que o povo quer? Quer ver acontecer. Por exemplo, o cara que vai no hospital e não consegue ser atendido, o cara que vai numa repartição pública. Isso vai acontecer, inclusive, de uma maneira geral. Até o funcionário público que não atender bem a população está sujeito a ter um piquete na repartição pública dele contra ele. Contra aquele determinado Zé Mané lá, que não atendeu bem a população. Isso aí é um exemplo que está sendo e cada dia vai melhorar. Eu, se estou aqui, faço uma convocação para uma determinada coisa, eu chego no hospital e não sou bem atendido, faço uma convocação, eu posso juntar 500 ou mil pessoas imediatamente.

Tribuna – Estamos no meio da Copa das Confederações. O senhor acredita que o Brasil e que Salvador estão se mostrando negativamente para o mundo?

 Leão – Não, não vejo muito isso não. Eu acho que Salvador vai fazer uma grande Copa, porque a Bahia é bonita. A Bahia é gostosa. Quem vem de fora e chega na Bahia sai daqui apaixonado. Então, Salvador vai fazer uma grande Copa e está fazendo uma grande Copa das Confederações. Isso que está acontecendo aí é titica naquilo que nós vamos fazer na Copa do Mundo.

Tribuna – Muito está sendo questionado sobre a incapacidade do poder público de atender as demandas da população. O senhor acredita que há um risco dessa carga voltar contra os políticos que estão hoje no poder?

 Leão – Não, não acredito. Eu acredito que nós vamos ter um grande problema inicialmente que é a eleição ao lado da Copa do Mundo. E hoje com uma mídia social que é excepcional. Eu adoro essa mídia social. Eu vejo isso como um grande avanço da população. Zezinho lá na Barra, lá no São Francisco, ele bota uma coisa lá agora, cinco minutos depois, 15, 20, 50, 100 pessoas curtiram o que ele botou lá. Então isso vai fazer com que, cada vez, o poder público seja mais ágil. O governo precisa utilizar mais dessa rede social. O próprio governo precisa saber utilizar isso aí. Secretário de estado falar um com o outro pela rede social.

Tribuna – Vai exigir um diálogo maior do que acontece hoje?

 Leão – Lógico. Secretários falaram entre si, com o governador através da rede social. Porque é “bate-pronto”. É no momento. Se estou com um problema aqui, lá em Chorrochó, boto uma mensagem lá para o meu governador, o que é que faz? Estou fazendo isso, isso e isso, você concorda? Posso fazer? Isso é a rede social hoje.

Tribuna – Como o senhor avalia o governo Wagner? Qual o principal erro e qual o principal acerto?

 Leão – Eu aprendi muito com o governador Jaques Wagner. Eu fui secretário de Infraestrutura no estado e aprendi, mas aprendi muito, com ele. Wagner, politicamente, é nota 1000. Eu não tiro um. Wagner será um segundo Lula. Porque o Lula é expert em política. Agora Wagner, o que é que ele precisa? Cobrar mais dos seus secretários. Precisa estar mais presente na cobrança da administração. Não dar muitos poderes a um único secretário ou a outro ou a outro.

Tribuna – O governador peca no aspecto de gestão?

 Leão – Ele não peca no problema de gestão. Ele confia. E ele deve cobrar mais. Ele deve estar mais presente com todos os secretários dele. Eu acho Wagner uma figura excepcional.

 

Tribuna – Ele vai conseguir eleger o sucessor com facilidade?

 Leão – Tudo caminha para isso. Se for desta maneira e da maneira que estão dizendo que até ACM Neto vem, ele bota um boneco lá e ele faz o boneco.

Tribuna – Existe a possibilidade de o PP não marchar com o candidato do governador Jaques Wagner?

Leão – Rapaz, se não nos derem nada, nós vamos procurar nosso caminho. Qualquer caminho. O PP tem dois candidatos potenciais que podem ser candidatos a governador. O deputado Mário Negromonte seria um excelente candidato a governador. O deputado João Leão pode ser candidato a governador. Se não tiver, nós vamos partir para o risco.

Tribuna – Como o senhor avalia o governo ACM Neto em Salvador? Ainda está tímido?

Leão – Olha, eu acho que você não pode fazer avaliação nenhuma do governo ACM Neto. Eu não posso avaliar um governo que tem cinco meses de mandato. Então, não posso. Eu posso dizer uma coisa: vejo que ACM Neto está com muita vontade de acertar. E é o tchan de todo prefeito quando entra. É acertar. Eu tenho 53 prefeitos de municípios diferentes que me acompanham. Todos os 53 estão mortos de vontade de acertar. E ACM Neto está aí. É um deles. Que está morto de vontade de acertar.

Tribuna – Por que uma obra como a Ferrovia Oeste-Leste insiste em não sair do lugar?

 Leão – Essa obra é muito complexa. Essa obra é a maior obra do estado da Bahia desde a sua história. Você tem aí um porto, que vai começar a sair, que vai começar a andar, o Porto Sul. Quero agradecer ao ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, que me deu, entregou em primeira mão, a outorga da mina da Bamim. “Leão, em sua homenagem, venha aqui que eu tenho um presente para você”. Fui lá e recebi da mão dele a outorga da mina. Porque, sem mina, a Bamim não ia fazer nunca o porto. Como é que eu não tenho o direito da exploração da minha mina e eu vou construir um porto? Pra quê? Para exportar o quê? É isso que eu disse ao ministro, botou na cabeça dele, foi lá, nós fizemos aquele seminário em Barreiras, demonstramos isso, foi uma das coisas que falei no seminário, e conseguimos arrancar a exploração da mina. Porque sem a Bamim, sem a mina, a Ferrovia Oeste-Leste passaria a ter uma viabilidade imediata. Porque você tem ali, só numa mina, 45 milhões de toneladas de transporte para a ferrovia. Aí você tem para o oeste da Bahia mais 10 milhões de toneladas e tem mais 5 milhões de toneladas de ida para o oeste da Bahia. A Ferrovia Oeste-Leste é realmente a maior obra da Bahia nos últimos 500 anos.

Tribuna – O ministro César Borges vai ter capacidade de tirar essa obra do papel?

 Leão – Está tendo. Meu pai dizia que se conhece o homem pelo arriar da mala. O arriar da mala de César Borges está bom para burro. Realmente, César Borges está lá: “cheguei e quero consertar isso aqui e quero botar para andar”. Esta semana, nós estamos tirando agora o lote 5 e o lote 5A que é a ponte sobre o rio São Francisco, porque a ponte precisa atravessar o rio São Francisco pra chegar em Barreiras, no oeste da Bahia, que pra Bahia é o mais interessante, que é produção da sua soja, do seu milho, do seu algodão. Nós temos, na Bahia, o melhor algodão do mundo, a melhor soja do mundo e o melhor milho do mundo. A maior produtividade de todos esses produtos. E César quer ultrapassar o São Francisco. Na hora que ultrapassar o São Francisco, eu vou dizer: “César, você é um retado”.

Tribuna – Por que as obras públicas são tão ruins e tão caras, deputado?

Leão – Eu não considero as obras ruins. Eu era secretário de Infraestrutura e cheguei com um projeto na mesa do governador que era a duplicação da CIA-Aeroporto. Então, o governador olhou e falou: “mas, rapaz, uma concessão disso, vai ser um negócio meio complicado”. Porque o PT não gosta, não queria concessão. E eu disse: “mas governador, é a maneira que nós temos de viabilizar a região metropolitana”. E ele acatou e aceitou. E hoje você vê, aquilo é uma obra ruim? É uma obra bem feita e é uma obra que está realmente servindo o estado e feita num espaço de tempo muito curto. Então, o que é que nós precisamos? Precisamos ser modernos. Às vezes, os administradores públicos reclamam da 8666. Eu fui relator da 8666. Então, eu não vejo problema na 8666. Quando fui secretário de Infraestrutura, eu fiz 600 e tantas concorrências, na base da 8666. Estão todas aí. Nós fizemos 4 mil quilômetros de rodovia na Bahia. Não vejo nenhum problema na 8666. Agora, o sistema novo que sair do PAC, para você fazer a licitação mais rápida, é outro sistema melhor que a 8666. Então, é você querer trabalhar. Quem trabalha, Deus ajuda.

Tribuna – Qual a expectativa do senhor para o processo eleitoral, que foi antecipado por conta do próprio governo federal?

 Leão – Primeiro lugar, por tudo isso que está acontecendo, nesta última semana, que Deus nos proteja. A nós todos. A população que está nas ruas e a nós políticos. O Brasil, a partir de agora, tem uma nova cara. Político que é político se adequa a essa nova cara ou está fora do jogo. Eu, graças a Deus, não tenho medo de passeata, não tenho medo de absolutamente nada. O que é que Bahia pode esperar de João Leão? É aquilo que ele vem fazendo durante esse tempo todo. Muito trabalho, muita luta, muita seriedade, muita honestidade. Por que você dizer que você mesmo é honesto é um negócio meio complicado, mas eu tenho um estirpe na minha vida, que é olhar no olho do empreiteiro – que eu tratei com empresas quando secretário e como prefeito e trato como deputado – não tenho medo de ter contato com empresas, não tenho medo do contato com o público. E você dizer: vamos trabalhar, vamos trabalhar com seriedade. Esse é o futuro da Bahia. Está na seriedade, na competência e na vontade política.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte

Por Osvaldo Lyra/Tribuna da Bahia

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