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Para Eduardo, campanha é um derivativo
Numa cidade do interior, uma viatura do Corpo de Bombeiros foi chamada para a retirada de um doente mental que ameaçava pular de uma palmeira de quase vinte metros. Aflitos, os familiares se aterrorizavam com a perspectiva dele se esborrachar no chão. O oficial de negociação subiu numa escada Magirus e depois de meia hora de conversa ouviu isso do candidato a homem pássaro: Se avexe não seu poliça. Tá tudo calculado.
Eduardo Campos não é nenhum doente mental, sua candidatura não representa um salto de uma altura de seis andares sem proteção e muito menos ele está disposto a ficar no topo de nenhuma palmeira esperando que alguém lhe ofereça um motivo para não pular e se esborrachar eleitoralmente. Mas, a frase se encaixa perfeitamente em relação ao seu projeto para 2014: tá tudo calculado. Inclusive, pular sem cair de cabeça e morrer politicamente.
Qualquer pessoa que observar mais atentamente seus movimentos vai ver que sua campanha está seguindo um planejamento rigorosamente calculado, cronometrado e bem ajustado à medida em que os fatos forem surgindo. Porque, sendo um animal político, ele tratou de medi-los e tentar se antecipar a cada um dos possíveis passos dos adversários.
E para surpresa de quem acha que isso não existe, contempla, inclusive, a possibilidade de descer pela escada se o candidato for o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porque, nesse caso, nem aquele doente mental seria capaz de pular da palmeira.
Sem querer ensinar o Pai Nosso a vigário, mas, se a gente olhar bem no que Eduardo Campos anda fazendo vai ver que ele mira, primeiro, em virar uma liderança nacional reconhecida. Ainda não é. E melhor do que ninguém ele sabe disso. Mas como quer ser presidente traçou sua estratégia ruminando cada passo. O que discute hoje é por qual caminho vai seguir.
Ele sabe que se pegar um avião de carreira e descer sozinho em Brasília, Florianópolis ou em Belém e perguntar se o motorista de taxi conhece Eduardo Campos vai ouvir que não. Com um pouco de sorte, ouvirá que “não é aquele cara do Norte que quer enfrentar a Dilma?”. E só. Vai pagar a corrida sem que o sujeito lhe reconheça.
Portanto, sua meta agora é para deixar de ser anônimo na maior parte do Brasil. Eduardo Campos trabalha mirando nisso: virar uma liderança nacional reconhecida nas ruas. O que é uma coisa muito diferente de ser dono de partido, aliado do Governo Federal e governador de um estado “do Norte” como será identificado no Sul e Sudeste. Eduardo Campos sabe que, se em 2014 conseguir virar uma liderança, capaz de chegar em qualquer lugar do país e ser reconhecido, terá vencido uma etapa: a “zero um” de seu projeto.
Alguém pode perguntar: Ah, mas ele não pensa em ser presidente ano que vem? Pensa nisso cada minuto do dia. Mas, diferentemente de Garotinho, Ciro Gomes e Marina da Silva, sabe que aquele caminhão de voto que eles receberam nas eleições em que participaram muda de mão mais rápido do que prostituta de cliente. Ele existe, é cheiroso e excitante, mas não tem dono. Vai para quem estiver oferecendo uma proposta mais nova.
Porque, diferente dos outros, aprendeu que isso não quer dizer viabilidade de projeto de governo de um país como o tamanho do Brasil. E ele mira em viabilizar um projeto de governo. Não quer ser só o candidato do “zoio verde” como a mulherada o chama.
É preciso deixar claro que o projeto dele é de poder. E dentro desse formato de democracia que existe hoje no Brasil. Não tem essa de ruptura, rede colaborativa, fechado com o povo em nome de Jesus e outros bichos. O seu projeto contempla um governo de gestão de classe mundial e modernidade com visibilidade internacional. Se existe uma coisa que Eduardo Campos não quer, é ser visto como um candidato que seria incapaz de montar um governo com as forças políticas e econômicas existentes hoje no Brasil.
Eduardo Campos não é aquele cara bom de briga. É o “pelvelso”. Aquele que faz conta, rumina pensamento, se adianta ao adversário e passa por cima dele sem dó nem piedade. Quer saber? Pergunta a Humberto Costa, João Paulo, Mendonça Filho e Jarbas Vasconcelos o que isso significa. Quer saber mais: pergunta a Lula se ele compara Eduardo Campos aos demais adversários que o enfrentaram e a Dilma?
Certo, mas ele vai aguentar o sufoco que Lula e companhia vão lhe dar daqui até 2014? Vai! Como dizia o personagem de Paulo Silvino, no Zorra Total: Gueeeeenta!
Bom, mas como ele vai fazer para sair do calor? Ora, se alguém soubesse disso, hoje, já estaria contratado pelo próprio Eduardo Campos, pois, teria a vaga de marqueteiro. E esse lugar está vago porque ele é quem está no comando. É isso que o diferencia do resto dos candidatos do passado, que tiveram milhões de votos de protesto. O gestor do projeto é ele.
Sendo o “pelvelso”, parece ter feito uma conta bem interessante: primeiro, virar liderança nacional com fé de ofício. Importa pouco o cargo ou falta de um. Liderança, é liderança e pronto. Aonde chega todo mundo para para ouvir. Se conseguir isso já na campanha de 2014 vence o estágio básico, embora este não seja o objetivo. E sempre é bom lembrar: o objetivo é ser presidente.
Na prática, parece claro que ele quer virar o adversário do candidato do Governo. O nome é esse mesmo do “candidato do governo”. Se não for Lula é claro. E isso significa varrer do mapa, inclusive, gente como Aécio e seus amigos do PSDB com a sua colossal estrutura partidária. E aí o bicho pega.
Com a estrutura do PSDB qualquer vereador ou blogueiro é competitivo para qualquer eleição a presidente da República. Não precisa ser político, auditor do TCE ou o Felix em Amor e Vida, interpretado por Mateus Solano. A estrutura do partido leva o cara para a cabeça naturalmente. É essa conta que hoje interessa a Eduardo Campos. Ou melhor, como contornar isso.
As pessoas ficam fazendo uma conta de padaria (a+b+c+d = E) achando que, primeiro, Eduardo Campos queria ser vice de Dilma. Depois, que queria mais força ou cargos no Governo de Dilma. Agora, tem gente que acha que ele vai abrir porque o PT ameaçou retaliar seu governo. Não é só isso. Talvez seja preciso ler a fórmula de um derivativo.
Alguma coisa como isso ai: W = S1 max{[(S2/S1) -1], [pRu + (1- p) Rd]/d1} .
Calma. Antes que alguém se atreva a tentar interpretar a fórmula copiada de um site acadêmico na internet, é preciso esclarecer que ela serve apenas para ilustrar a complexidade do jogo político que estamos começando a assistir. É só um exemplo clássico de copiar e colar: Ctrl C + Ctrl V.
O que estamos tentando dizer é que o governador de Pernambuco que, aliás, é economista e formou-se como aluno laureado sendo, inclusive, o orador da turma com apenas 20 anos “lê” Calculo VI, VII e VIII em política quando a maioria está nas lições de aritmética.
Olha o currículo do cara: chefe de gabinete, deputado Estadual, deputado Federal, secretário de Governo do Recife, de Pernambuco, da Fazenda de Pernambuco, líder do PSB, ministro da Ciência e Tecnologia, presidente do PSB e governador de Pernambuco duas vezes.
Pelas contas do Eduardo Campos, economista, existe uma brecha keynesiana para sua campanha seguir e isso tem a ver com fadiga de material do modelo de gestão do PT e inflação. Há uma percepção dos analistas de que o cidadão comum, aquela massa de manobra nacional, ainda não percebeu o tsunami que vem por aí.
Para Eduardo Campos já há sinais de que Dilma Rousseff mexeu demais na economia e que o modelo de gestão econômica dela está com muitos furos e que vamos ficar nos 1,5 ou 2% de crescimento. Virou uma bomba de efeito retardado, porque isso vai bater na redução do número de emprego e perda de poder aquisitivo.
É como aquela estratégia de derrubar um rinoceronte. Aplica-se o dardo com uma grande dose de anestésico, o bicho nem sente e com o efeito começa a correr aí, de repente, desaba no chão. Parece claro que, pelas contas de Eduado Campos, o dardo já foi disparado e o efeito virá ainda este ano.
Além disso, tem a conta política que a presidente a cada dia se enrola mais. Importa pouco se mais partidos se juntam à base. É só olhar para ver que aquele time do Congresso e dos donos de partidos estão sufocando a presidente. Especialista em malvadeza, Eduardo Campos sabe que mantido o rumo daqui a um ano, ela não será a quase unanimidade de hoje. Se o desgaste aumentar, com perda de popularidade, essa mesma cambada de aliados vai procurar uma alternativa.
Tem mais: como a base ficou grande demais, e não dará para atender a todos os interesses estaduais, vai ter gente procurando suas melhorias formando palanques para sobreviver na sua paróquia de forma que, de alguma maneira, o PSB vai ter espaço para formar palanques nos estados.
Claro que o PSDB faz essa mesma conta com a vantagem de governar metade do PIB do Brasil. Mas, Eduardo acredita que se o povo vota no novo ele pode virar alternativa a Aécio Neves que não é mais o novo. E aí, quem chegar com um discurso mais forte em cima de Dilma e sua turma pode ganhar a vaga da disputa do segundo turno. E a partir daí, seja o que o eleitor quiser.
Portanto, Eduardo Campos vai prosseguir com a campanha para desespero do PT, que teme ele virar uma espécie de massa de padaria, onde, quanto mais se bate, mas ele cresce. Naturalmente, sabendo que a ordem lá em Brasília é tentar matá-lo de inanição nos últimos meses de seu governo e que vai precisar assinar o que puder de empréstimos para tocar suas obras, entre outras ações de sobrevivência.
Mas, como disse o doente mental pendurado na palmeira: Tá tudo calculado.
Pelo menos na cabeça dele.
Por Fernando Castilho, do JC Negócios.