Alguém que goste da cidade na Serviços Públicos

 Alguém que goste da cidade na Serviços Públicos

Os pedreiros conversavam enquanto erguiam o muro novo da minha casa. O muro velho – que eu chamo de provisório – finalmente caiu. Ficou provisoriamente por quase trinta anos, como provisoriamente persistem em ficar os problemas do Brasil, alguns por séculos. Do canto de cá, enquanto monitorava medições, nivelamento, prumo e dosagem de massas, o mais discretamente possível, eu os ouvia louvar a sombra de duas árvores frondosas, uma delas catingueira, sob a qual trabalhavam. Fiquei a imaginar o quanto seria pior para eles se estivessem a carregar tijolos e encher colunas pura e simplesmente embaixo do sol; do sol eficiente de Paulo Afonso.  Me dei ao luxo de pensar um pouco mais e fiquei a me perguntar por que, além de plantar mais árvores na cidade para baixar a temperatura, ninguém tem o tutano de atacar o problema das calçadas da cidade onde tudo é possível, menos andar. São batentes, pedras, tocos, ferros e entulhos que forçam o pedestre a partir para o meio da rua numa disputa absolutamente desigual com os veículos. Outras coisas que necessitam de solução urgente poderiam ser citadas.

Um secretário de serviços públicos tem que gostar da cidade. Para gostar, tem que conhecê-la, já que só se gosta daquilo que se conhece. O fundamental é que seja alguém que tenha o coração nesta cidade. Não se trata de filho da terra ou coisa parecida. A referência é para alguém que – ouso sugerir – seja apaixonado pela terra. Algém comprometido com a qualidade de vida da cidade. Quem lê esta crônica sabe que muita coisa boa vem da paixão. Pode até saber que alguém já disse que as grandes realizações do mundo são devidas a paranoicos. Vamos ficar só com os apaixonados.

Definitivamente não há lugar para um político na secretaria. Há lugar para um técnico, contanto que seja apaixonado. Sei que muitos veem no cargo de secretário de serviços públicos uma excelente oportunidade para fazer política. Afinal, o secretário tem que se envolver com um monte de pessoas sempre a buscar soluções para os seus problemas diários. Que faça política. O partido do prefeito terá que enfrentar a próxima eleição. Mas que também use a cabeça e se dedique para encontar soluções para os nossos problemas. Que tente sem medo de errar.

Até quanto sei, o cargo está vago. O prefeito está a pensar. Já é um bom sinal. Soluções amadurecidas são sempre as melhores. Encontrar um secretário dedicado, competente e leal não é fácil. Mas também não é impossível. Pense mais, senhor prefeito. Pense e amadureça a sua escolha. O Natal está se aproximando. Dê-nos um bom presente desta vez; aos leitores – estes apaixonados com certeza – e a mim.nery

 

por Francisco Nery Júnior

3 Comments

  • Dê a vaga ao Nery, prefeito! Ele está pedindo um presente de natal!

  • Caro Mestre:
    Se não o considerasse tanto, faria como esse tal de Thales aí, que com seu irônico e inoportuno comentário, seria o primeiro a empunhar a bandeira “Professor Nery para Secretário”! Mas como já o disse, o considero como pessoa e também por possuir uma das cabeças mais lúcidas de nossa querida PA, e detestaria abrir certo dia um desses sites locais e ver lá estampada uma nota confirmando sua indicação. Não digo que o amigo não estivesse à altura do cargo. Muito pelo contrário, o cargo é que não lhe faria justiça. Infelizmente, é o que se nos oferece nossa conjuntura administrativa: ou se é competente, ou se é político. Não que não possam coexistir no mesmo homem (ou mulher, cito “homem” como humano, feministas!) o Político e o Competente. Há na história, embora raras, algumas dessas figuras. O problema é que o Competente para por em prática sua competência dificilmente o fará sem que lhe seja exigido o famoso “jogo de cintura”, em outras palavras, se submeter à política rasteira e mesquinha. Muito diferente de sua homônima Política, essa arte milenar admirável. Daí a dificuldade de se prospectar Competentes em algum cargo de indicação política… Já o Político, quando se torna essa variação da espécie humana, por vocação ou por acidente de percurso, mesmo que carregue DNA do Competente, mais cedo ou mais tarde se livrará dele, em nome de um tal de “pragmatismo” ou de uma tal “governabilidade”. Daí pra frente, “competência” pra esses sujeitos passa a ser conseguir se manter no cargo e progredir na hierarquia do sistema. Professor, eu o conheço. Não se venderia por pompas pueris, que tanto encantam figuras que bem conhecemos, que mal tocam no chão quando andam… Torço, porém, que uma daquelas figuras raras (Político e Competente ao mesmo tempo) pese sua sugestão com pragmatismo(!), e perceba que se escolher a pessoa certa, também ele, além da cidade e todos nós, sairá ganhando.

  • Parabéns ao amigo Aldson pelo comentário lúcido. Para Thales, agradeço a indicação, mas não poderia aceitar a sugerida vaga. Sou empregado da Chesf, Thales. Assim sendo, não teria tempo para ser secretário. Foi por esta razão que escrevi o que escrevi com a maior tranquilidade. Há algum tempo, fui convidado para ser diretor de um colégio da cidade na presença de centenas de pessoas. Estava fora da Chesf, mas, mesmo assim, não aceitei. Mais para trás, fui convidado pelo Prof. Silva, então APA, para ser diretor do Serviço de Ensino de Itaparica. Agradeci a Silva a confiança, mas também não aceitei. Antes disso, apresentado a ele pelo Dr. Lázaro, recebi de José Carlos Aleluia, presidente da Chesf, convite para ir trabalhar em Recife. Preferi ficar em Paulo Afonso que declaro, sem nenhum constrangimento, amar. Acho que ficou bastante claro que não estava, quando escrevi esta matéria, a cavar o cargo para mim. Só falta agradecer ao nobre Thales a oportunidade de estar publicando estas coisas para os amigos. Creio que ele provocou esta resposta com a melhor das intenções.

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