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Enem está com mais cara de vestibular “tradicional”, dizem especialistas
Para os especialistas, o exame deve pavimentar o mesmo caminho dos vestibulares tradicionais
As provas de Humanas e Ciências da Natureza cobradas ontem na primeira etapa do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) consolidam uma tendência: o exame deixou o caráter interdisciplinar e se tornou mais conteudista. Para os especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o exame deve pavimentar o mesmo caminho dos vestibulares tradicionais. Neste formato, não basta apenas contextualizar o enunciado das questões. É preciso ter conhecimento do conteúdo que está sendo exigido.
De modo geral, os especialistas disseram que se o formato da prova seguir o mesmo padrão hoje- quando os candidatos terão que responder a provas de Linguagens, Matemática e Redação – os fantasmas do ‘improviso’ e da ‘incerteza’ não irão mais abalar a credibilidade do exame. “A prova se mostrou ser um bom modelo do que poderemos ter em um futuro próximo. Desde o princípio, o Enem foi mudando a cara e criou um DNA próprio que se aproxima dos grandes vestibulares. Nesse formato de qualidade poderemos fazer com excelência, o que outros países já fazem há muito tempo”, disse o coordenador pedagógico do Etapa, em São Paulo.
Mas para Luís Arruda, coordenador do Anglo, duas questões das provas de Ciências da Natureza – uma de química e outra de física – terão que ser canceladas. Segundo Arruda, as questões apresentam imprecisões na linguagem e nenhuma das alternativas está correta.
“O Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais]diz que testa as questões e não vê isso?”. À Folha de S.Paulo, o MEC (Ministério da Educação) disse que só vai se pronunciar sobre a possibilidade de cancelamento das questões após a prova passar por uma análise da comissão técnica pedagógica do órgão.
Sempre criticada pelos textos longos e enunciados desconexos, a prova de Humanas de hoje, na avaliação da professora Vera Lúcia Antunes, coordenadora do Objetivo de São Paulo, manteve o padrão, mas, avançou na clareza. “Não houve confusão. Quem leu de forma cuidadosa e grudou os olhos nas questões se deu bem. Tinha uma pergunta do Marx que achei bem interessante. Em vez de tratar sobre o socialismo, o que serial natural, a questão exigia conteúdos sobre capitalismo. Era necessário ter visão atenta”. Outra tendência, apontada por Antunes, será a presença cada vez maior de questões nas área de Sociologia e Filosofia.
Apesar dos problemas apontados pelo coordenador do Anglo em duas questões da prova de Ciências da Natureza, dois professores da área elogiaram o formato da prova porque ela cobrou ‘os grandes conteúdos programáticos da área’. Além de interpretar o enunciado, para chegar à resposta certa, o estudante teria que saber as fórmulas que o conceito versava.
“A prova foi rígida e com divisão de conteúdo. Não tinha nenhuma questão de graça. O estudante teria que interpretar os gráficos. Quem não sabia nada de física, morreu na praia”, explicou Eduardo Figueiredo, do Objetivo. “Até um tempo atrás, a resposta estava no texto. Hoje, o estudante precisou ter conhecimento químico para resolver as 15 questões que cobraram a disciplina”, avaliou Sérgio Bigmardi.
Para o coordenador pedagógico do cursinho Oficina, de Campinas, as dificuldades do primeiro dia tornaram-se maiores devido ao tempo. “O aluno precisou alinhar os conceitos em um raciocínio rápido. Se eu for falar nos conteúdos cobrados diria que a prova deste primeiro dia foi de dificuldade média. Mas o tempo continua sendo o grande problema. O candidato tem poucos minutos para responder”.
África
Cinco das 22 questões prioritariamente de história da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) realizado ontem eram sobre história da África. O número chamou atenção de alunos e de professores da área. “Pesaram até demais a pose. Não precisava de tudo isso”, analisa o professor do Objetivo Daily de Matos Oliveira. “Isso faz parte de uma política do governo de ensinar África na sala de aula. Não há nada errado nisso, mas não precisaria cobrar tanto dos alunos”, diz.
De acordo com ele, assuntos como os 60 anos da Petrobras eram esperados na prova de história. O assunto não apareceu no exame. De resto, a prova foi característica do Enem e trouxe análise de texto, comparação de imagens e significado de imagens, diz Oliveira. Segundo dia hoje, serão realizadas as provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, redação e matemática e suas tecnologias, com duração de cinco horas e meia.
Ao todo, 7,1 milhões pessoas se inscreveram no Enem neste ano –um recorde desde o surgimento do exame, em 1998. A previsão é de que os gabaritos do exame sejam divulgados na próxima quarta-feira (30). A prova é utilizada atualmente na seleção de todas as universidades federais, pré-requisito para o acesso a programas como Ciência sem Fronteiras, Prouni e Fies, e certifica conclusão do ensino médio. Folhapress