Prefeitura suspende atividades, em decorrência da infecção de servidores pela covid-19
Entrevista com José Carlos Aleluia, pré-candidato ao governo da Bahia
Para democrata, maior desafio da Bahia, vencida a guerra contra violência, é o da qualificação dos jovens
O R7 Bahia entrou em contato com os candidatos cotados para concorrer ao pleito estadual em 2014. Foram encaminhadas nove perguntas iguais sobre segurança, saúde, educação, mobilidade urbana, entre outros temas. Os políticos tiveram o mesmo espaço para responder as questões.
Os questionamentos foram enviados por e-mail para todos os políticos passíveis de concorrer ao governo. Os pré-candidatos procurados pelo R7 Bahia que responderam as perguntas foram: o presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) na Bahia, Geddel Vieira Lima; o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Marcelo Nilo (PDT); o secretário municipal de transporte, José Carlos Aleluia (DEM); e o secretário Estadual de Planejamento, José Sergio Gabrielli (PT).
A senadora Lídice da Mata (PSB), o vice-governador do Estado, Otto Alencar (PCdoB); o ex-governador Paulo Souto (DEM); e o secretário da casa civil, Rui Costa (PT), decidiram não responder as questões.
Leia íntegra da entrevista com José Carlos Aleluia:
R7 BA – Qual o maior problema que o Estado enfrenta atualmente e como fará para resolver a situação?
Aleluia – Com a criminalidade inteiramente fora do controle nas cidades e no campo, a segurança pública é sem dúvida o principal problema que atormenta os baianos. A saúde e a educação, outros dois graves problemas, além das suas deficiências naturais, são fortemente afetadas pela insegurança das pessoas nas escolas e nos postos de saúde. A questão da segurança é tão grave que exige uma ação firme, sem tolerância ao crime. A União, os Estados, os municípios, o Ministério Público, o Poder Judiciário e a sociedade, a partir das comunidades, devem se unir para uma guerra sem tréguas contra o crime. O governador deve estar no comando das ações até que os níveis de criminalidade da Bahia estejam abaixo da média nacional. As polícias civil e militar devem ser tratadas com prioridade. Os policiais precisam ser valorizados e resgatar o orgulho do exercício da atividade policial.
R7 BA – A segurança pública é uma das principais reclamações dos baianos. Simões Filho, Lauro de Freitas, Porto Seguro e Eunápolis estão entre as dez cidades onde mais ocorreram assassinatos por arma de fogo no País, de acordo com dados do Mapa da Violência. O que poderia ser feito para resolver ou, pelo menos, amenizar esse problema?
Aleluia – Até a posse do governador Jaques Wagner em 2007, na Bahia, ocorria a metade do número de assassinatos registrados em São Paulo. Hoje, na Bahia, há mais homicídios que no maior Estado do Brasil. Nos últimos sete anos, mais de 27 mil baianos foram vítimas de morte violenta. Para reverter esta situação, o Estado precisa assumir sua responsabilidade com a segurança pública. Além do rigor no combate ao crime com tolerância zero, defendo uma ação de resgate das áreas dominadas pelo crime organizado com a implantação de um programa que realize operações policiais integradas a programas de saúde, educação escolar e profissional, promoção cultural, lazer, esporte, habitação, infraestrutura urbana e inclusão econômica, associadas ao fortalecimento dos conselhos comunitários de segurança pública e da Polícia Comunitária. Aliado a isto, é necessário o investimento em tecnologias que aumentem a eficiência do setor de inteligência, além da reestruturação das polícias civil e militar, tanto no aspecto de equipamentos quanto na organização e atendimento às demandas.
R7 BA – O senhor é a favor do projeto Mais Médicos? Os baianos reclamam muito da falta de atendimento e superlotação dos hospitais. Um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que nos últimos três anos houve uma redução de 592 leitos – de todas as especialidades – na rede pública na Bahia. O Mais Médicos seria a solução para a saúde pública? O que poderia ser feito pelo novo governador pra ajudar a população que depende do SUS no Estado?
Aleluia – Mais saúde, quem não deseja? Esse é um anseio de todos. Mas não concordamos com medidas governamentais cujo fim é eleitoral, sem preocupação real com a solução dos problemas da população, como é o caso das últimas iniciativas do governo federal, a exemplo do Mais Médicos. O programa é mais uma estratégia eleitoral que tenta escamotear o descaso com a saúde pública, um ponto negativo da avaliação do governo Dilma e do PT, colocando os médicos brasileiros como bodes expiatórios, quando o problema é estrutural. No caso da Bahia, para atenuar o déficit de leitos hospitalares, há a necessidade de substituição rápida dos leitos tradicionais por leitos e procedimentos mais resolutivos, principalmente nos polos de atendimento no interior do estado. Faz-se necessária a criação de uma política publica de remuneração para internação hospitalar e implantação de novos hospitais com tecnologia avançada e metas de qualidade. Na saúde, como em qualquer outra atividade, é importante valorizar os profissionais e não tentar colocar a culpa neles.
R7 BA – Há alguns anos, alguns colégios estaduais da Bahia figuravam entre os melhores do Estado, mas, atualmente, a qualidade do ensino público caiu muito. Segundo a classificação das escolas no Enem, das 200 melhores escolas do Estado apenas duas escolas são públicas, ambas federais. O que deveria ser feito para melhorar o ensino nos colégios públicos?
Aleluia – Eu e meus dois irmãos somos exemplos do que o bom ensino público pode fazer. Nossa educação foi basicamente em escolas públicas e, é claro, contamos muito com o apoio e acompanhamento continuado dos nossos pais. Temos gratas recordações dos tempos em que estudamos no Instituto Central de Educação Isaías Alves e no Colégio Central, excelente escolas, com grandes professores, inclusive de arte e educação física. As Olimpíadas da Primavera eram um verdadeiro festival da juventude. A Bahia é o berço do maior educador brasileiro: Anísio Teixeira. Apesar de termos sido pioneiros na execução de suas ideias revolucionárias, como a Escola Parque, que foi instalada ali, na Caixa d’Água, vivemos a decadência do ensino público em todos os níveis em nosso estado. A Bahia está entre as unidades federativas com piores índices educacionais. Precisamos transformar essa triste realidade. As palavras do genial baiano Anísio Teixeira – “uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução” – inspiram a proposta que defendemos para promover um salto de qualidade no ensino público baiano. Entendemos que o mundo em transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para resolver seus problemas em consonância com a revolução atual de âmbito intelectual pelo incremento das ciências, industrial pela tecnologia, e social pela democracia. A preparação desse novo homem se dá na formação educacional de nossos jovens. Portanto, urge o investimento na capacitação e valorização dos professores, novas tecnologias e condições estruturais para a realização de atividades educativas, culturais, artísticas e desportivas.
R7 BA – Após mais de uma década, as obras para a construção do metrô em Salvador passaram por várias etapas, mas não foi concluído e acabou passando do governo federal para o estadual. O senhor acredita que as obras serão concluídas em 2014? Com metrô funcionando, acredita que vai melhorar o problema da mobilidade urbana na capital baiana?
Aleluia – Quando o prefeito ACM Neto assumiu a Prefeitura de Salvador e me convocou a ser secretário de Urbanismo e Transporte, tínhamos a plena consciência do desafio a ser enfrentado com relação à mobilidade urbana em nossa capital. O metrô era um imbróglio que se arrastava há uma década e constatamos ser a prefeitura incapaz financeiramente de tocar o projeto. O Estado manifestou interesse em assumir o controle do transporte sobre trilhos de Salvador e, pensando no interesse público, concordamos em transferi-lo. Estamos agora buscando contribuir no que for possível para que os prazos anunciados para a operação do metrô sejam cumpridos pelo governo estadual. Não temos dúvida de que o metrô vai colaborar para melhorar a mobilidade em nossa cidade. No entanto, é uma solução que precisa estar associada a outros modais também de caráter coletivo, como o BRT. A questão da mobilidade precisa passar pela transformação cultural de que a prioridade não deve ser o transporte individual, mas sim o transporte público. Esta tem sido nossa filosofia de trabalho: a prioridade ao transporte público. O prefeito ACM Neto deve anunciar um extenso projeto de vias exclusivas para ônibus, capaz de, em conjunto com a licitação para a concessão dos serviços de transporte sobre pneus que estamos realizando, melhorar a qualidade, a segurança e o conforto, além de reduzir o tempo médio de deslocamento da grande maioria das pessoas, que usam principalmente o transporte público e as caminhadas.
R7 BA – Como o senhor avalia o resultado das pesquisas de intenção de voto? Acha que influencia na mudança de estratégias para a disputa?
Aleluia – Pesquisa retrata uma tendência do momento. Quando realizada com lisura e critério científico não deve ser desprezada, muito pelo contrário. Deve sim ser usada como balizamento de estratégias eleitorais. A próxima eleição na Bahia vai ser definidora do futuro da nossa terra, em especial dos nossos jovens. As pessoas querem um governo que seja capaz de trazer esperança. Deve vencer as eleições, o candidato que possa mobilizar toda a população para um projeto de uma nova Bahia.
R7 BA – Em uma eleição é possível dizer que existe candidato mais fácil ou mais difícil de ser derrotado?
Aleluia – Não existe essa possibilidade de adversário mais fácil ou mais difícil. Para o Poder Executivo, o candidato precisa conhecer os problemas e ter propostas para solucioná-los. Estar preparado e com firme vontade e determinação de trabalhar pela melhoria de vida das pessoas, tanto no campo social quanto econômico e ambiental. O mais fácil de ser derrotado será aquele que defender a continuidade.
R7 BA – Como o senhor avalia a importância das alianças no resultado final das eleições?
Aleluia – Como avalia a importância das alianças no resultado final das eleições?
No nosso entendimento, as alianças devem surgir de objetivos comuns que culminem na formação de um projeto conjunto. A avaliação das alianças deve ser feita pelo povo com os resultados alcançados no decorrer da gestão, que deverá se nortear pelo projeto apresentado em campanha. O governo do prefeito ACM Neto está demonstrando como é possivel construir alianças para vencer as eleições e para governar, sem comprometer o bom desempenho da administração pública. Não foi o Democratas que me indicou para secretário de Urbanismo e Transporte. Foi uma escolha do prefeito.
R7 BA – Qual será o maior desafio do futuro governador da Bahia?
Aleluia – O maior desafio da Bahia, vencida a guerra incondicional contra violência, é o da qualificação da nossa gente, em especial dos nossos jovens, com uma formação que lhes permita participar de forma criativa e produtiva da vida contemporânea. Não podemos continuar a apresentar níveis de educação inferior ao dos principais estados brasileiros, que por sua vez estão abaixo dos níveis dos principais países emergentes. Investir nas pessoas é o caminho. A Bahia precisa recuperar a importância que sempre teve no cenário nacional. Cumprir o destino de ser um estado de ponta, retomando sua trajetória de desenvolvimento econômico e social. Sem descuidar do meio ambiente, é preciso criar as condições para a transformação do potencial agrícola, mineral, energético e turístico do estado em riquezas para o povo, que merece resgatar sua autoestima e voltar a ter orgulho de ser baiano.
Do R7 BA