Presidente da Assembleia diz que chegou a hora de ser apoiado pelo PT

 Presidente da Assembleia diz que chegou a hora de ser apoiado pelo PT

Arquivo/Divulgação

Há algum tempo ele entoa um mantra: “Quero ser governador do estado”. É assim que, reiteradas vezes, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT), defende que seu nome seja o candidato à sucessão do governador Jaques Wagner. Para ele, “na vida política, quem apoia também tem o direito de ser apoiado”.

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“O PT sozinho é menor que os aliados. O que eu acho nesse momento é que é mais importante para a base do governo colocar um candidato aliado”, apontou.

Ao tempo em que costura o próprio nome, com viagens e entrevistas – para conversar com o povo, segundo ele –, o presidente enfrenta críticas no parlamento, o que chama de “fogo amigo”.

Sem esconder as relações com Wagner, ele usa metáforas do futebol para assegurar: “Criei condições políticas para ser candidato”.

Tribuna – O senhor é candidato a governador mesmo sem o apoio do governador Jaques Wagner?

Marcelo Nilo – Eu sou candidato a governador. Por que eu sou candidato a governador? Porque eu aprendi na vida que todas as vezes que você quer alcançar um objetivo, você tem que trabalhar. Eu conheço os 417 municípios da Bahia. Estou fazendo um programa de governo, estou fazendo um plano de governo, estou viajando muito, dando muitas entrevistas. Na realidade, quando você dá entrevista, você está conversando com o povo. Eu quero ser governador porque eu acho que para você ser governador você tem que ter um critério político, gestor e administrador. Eu sou o político. Seis vezes deputado estadual, quatro vezes consecutivas presidente da Assembleia. E sou gestor, porque entrei na Embasa como estagiário e saí como presidente. E ser presidente da Casa do Povo, do contraditório, não é tarefa fácil. Se você for governador e só for político, no primeiro ano você estoura o orçamento do estado. Você fali o estado. Se você for governador e só for gestor, você não tem o calor do povo, você não sabe as demandas da sociedade. E se você não for administrador, você não faz um planejamento estratégico. Então, eu estou preparado para ser governador da Bahia.

Tribuna – O PT diz que não abre mão de encabeçar a chapa de sucessão do governador Jaques Wagner. E diz, inclusive, que está trabalhando para antecipar a definição desse nome. Como o senhor, que é um nome que está claramente colocado como candidato, vê essa movimentação do Partido dos Trabalhadores?

Nilo – O PT tem a preferência, mas não tem a exclusividade. O PT, por exemplo, tem 14 deputados. A base aliada tem 34. O PT tem 70 ou 80 prefeitos. A base aliada tem mais de 300. O PT sozinho é menor que os aliados. O que eu acho nesse momento é que é mais importante para a base do governo colocar um candidato aliado. Eu sou muito grato, sou muito leal ao governador Jaques Wagner. Eu aprendi na vida a respeitar o contraditório com meu amigo Jaques Wagner. Claro que ele vai trabalhar para fazer um candidato do PT. Isso é normal e natural, não me surpreende. Agora, eu estou trabalhando para ser candidato da base do governo. O apoio do vereador é importante. O apoio do prefeito é importante. O apoio do vereador é muito importante. Mas, para mim, o mais importante é o apoio do povo. E eu estou fazendo a política diretamente com o povo. Mantendo a minha lealdade, mantendo a minha coerência. Mantendo todos os compromissos assumidos que eu fiz na vida. Agora, acho que nessa hora estou trabalhando para ser governador. Estou com as condições objetivas para ser governador. Então eu já disse ao governador Jaques Wagner – aliás na última quinta-feira o PDT reunido comunicou ao governador que tem um candidato e esse candidato chama-se Marcelo Nilo.

Tribuna – O senhor aceitaria, por algum motivo, não sustentar uma candidatura ao governo, aceitar uma vice, por exemplo, numa composição com o PT?

Nilo – Em política a gente não pode dizer nem sim, nem não, porque o partido é que decide. Porque não adianta você ir para uma missa e não ter um padre. Não adianta eu querer ser candidato a governador se o meu partido não decidir por essa candidatura. O partido decidiu a unanimidade. Agora, se o governador Jaques Wagner, que é o nosso técnico, o nosso coordenador, nosso líder, fizer uma proposta política para o partido sempre será ouvido. Sempre será discutida, porque, afinal de contas, eu tenho relação profunda com o governador Jaques Wagner. Nesse momento, eu estou convencido de que eu tenho que manter minha candidatura a governador. Se fosse para ser vice, eu não fazia o trabalho que estou fazendo. Viajando, às vezes, a oito municípios num dia só. Às vezes eu visito oito municípios em dia só. Eu dou entrevista em rádios, porque, na realidade, o que o radialista quer perguntar é que o povo quer perguntar. Se fosse para ser vice, eu não teria esse trabalho todo. Eu quero ser governador. Agora é óbvio que eu estou sempre aberto para conversar, para dialogar e discutir com os partidos da base aliada.

Tribuna – Avaliando o cenário que a gente tem hoje, tem o PT querendo a cabeça da chapa e tem mais três partidos que saem na disputa pelas vagas que restam: o PP, com Mário Negromonte, o PDT, com o senhor, e tem o vice-governador Otto Alencar (PSD). Como acomodar, qual seria o critério de desempate para fazer parte dessa chapa do governador?

Nilo – Cada jogador de futebol está se preparando para jogar a partida. Isso é problema do técnico. Não é problema meu. O PDT sob hipótese alguma aceitaria ficar fora de uma chapa majoritária. Por que? Nós temos uma vaga hoje que é o governador João Durval, que é do PDT. Pelo critério que foi escolhido, nós temos o direito à vaga. Claro que nós estamos pleiteando a cabeça de chapa, ou seja, ser governador da Bahia. Ou seja, o presidente Carlos Lupi, o presidente Alexandre Brust, deputados estaduais e deputados federais, prefeitos e vereadores sob hipótese alguma vão aceitar que o PDT não participe da chapa. O que nós pleiteamos é ser governador da Bahia. Mas aceitamos sentar e conversar com a coordenação do técnico que se chama Jaques Wagner.

Tribuna – Duas candidaturas na base, a candidatura da senadora Lídice da Mata (PSB) vai acontecer até por uma imposição nacional, devido à provável candidatura de Eduardo Campos. Como o senhor vê essa movimentação de dois nomes na base do governo hoje e se isso de alguma forma facilita para a oposição na Bahia?

Nilo – Primeiro que eu acho que está afunilando. O vice-governador Otto Alencar, que é um grande político e tem um currículo invejável, já decidiu que é candidato a senador, portanto, está fora da disputa para governador da Bahia, já que ele informa que quer ser candidato a senador. A senadora Lídice da Mata já decidiu e já comentou de público que sairá independente do governador Jaques Wagner, pelo menos já está de público. Pelo menos, está fora em ser candidata da base. A primeira senadora da Bahia, a primeira prefeita da Bahia. É uma grande política e tem todas as condições de exercer o cargo máximo do estado. Sobram o PT, que tem quatro – quem tem quatro não tem nenhum – e a minha candidatura do PDT. O governador Jaques Wagner, que é o técnico, está com dois times para armar o melhor para disputar a partida. Então, eu acho que é nesse momento, que as condições de jogar melhor são minhas. Aliás, eu disse ao próprio governador. Se ele quiser fazer como que a minha candidatura colocasse a bola na marca do pênalti, mandasse tirar o goleiro e eu chutasse sem goleiro. Se ele quer botar outro companheiro que não esteja com as condições como a nossa candidatura, vai ser coisa de tiro de meta com barreira na frente.

Tribuna – O senhor acredita que o PT teria maturidade suficiente de abrir mão de uma candidatura mesmo não estando bem condicionado na chapa?

Nilo – Eu conheço o PT. O PT é um partido que tem várias facções, mas elas são um partido. Me apoiaram quatro vezes para presidente da Assembleia, mas me apoiaram todas as vezes nos 47 minutos do segundo tempo. Todas as vezes eles tentavam criar as condições políticas para ter um deles na presidência da Assembleia e eu criava as condições favoráveis para ser candidato único. E quando eles me apoiavam, praticamente me apoiavam quando minha eleição estava consolidada. A mesma coisa eu acredito que vá ocorrer agora.

Tribuna – Da oposição, quem tem mais chances de provocar um estrago grande no governo, Geddel (Vieira Lima) ou Paulo Souto?

Nilo – Aí é problema da oposição. Eu não vou me meter em candidatura da oposição. Aquele que vier é um candidato forte. Eu me dou muito bem com Geddel Vieira Lima hoje. Converso com Lúcio Vieira Lima constantemente, eu me dou muito bem, sempre respeitei, mesmo sendo deputado de oposição, o governador Paulo Souto, que é homem sério. Eu sempre critiquei o carlismo, aliás, pra eu chegar aqui eu comi o pão que o diabo amassou, para me eleger seis vezes deputado estadual. Mas eu sempre tratei as pessoas no campo das ideias.

Tribuna – Marcelo Nilo, presidente da Assembleia, passou por muitos problemas nos últimos dias, tiveram algumas críticas e inclusive algumas denúncias envolvendo a sua gestão. A que o senhor atribui isso e qual o desdobramento que a gente vai ter de todas as denúncias de desvio de função aqui na Casa?

Nilo – Depois de quase sete anos como presidente da Assembleia Legislativa e ver que a crítica que eu recebo na realidade não é para mim, é para a assistência militar. A denúncia nunca foi contra a minha pessoa, nem contra o presidente da Assembleia. A denúncia é contra a assistência militar, que tem desvio de função. Então você depois de sete anos receber uma crítica dessa é porque outras críticas não existem. Isso é fogo amigo. Ninguém joga pedra em árvore que não dá fruto. Aliás, ninguém joga pedra em mandacaru. Só para jogar pedra em árvore que dá fruto. Isso é fogo amigo. Faz parte do jogo. Eu fiquei muito feliz porque, como agora eu quero ser governador, aquelas coisas que eles acham negativo começam a aparecer. E você ver adversários seus querendo lhe criticar dizendo que tem um militar em desvio de função? Na realidade aqui não existe desvio de função. Eu estou dizendo aqui: não existe desvio de função na Assembleia Legislativa. O que existiu foi, por exemplo, tem um sargento Yuri que, acidentalmente, teve um tiro no pé. O revólver disparou e deu um tiro no seu pé. Aquele cidadão, fazendo tratamento no Sarah, eu coloquei ele na área administrativa, porque ele não podia sair para ser segurança do parlamento porque ele estava com problemas inclusive na sua locomoção. Como ele preferiu não ficar em casa – ele tinha até direito de ficar em casa por atestado médico –, ele preferiu ficar aqui na área administrativa. Não existe desvio de função. O que existe são 53 militares que mantêm o patrimônio da Assembleia, que pelas leis são obrigados que sejam mantidos pelos militares, e a segurança do presidente. Ali quem está andando não é Marcelo Nilo. Quem está viajando, quem está se locomovendo, não é Marcelo Nilo, não é o deputado Marcelo Nilo. É o presidente de um Poder.

Tribuna – E esse fogo amigo feito pelo deputado Capitão Tadeu (PSB), ele lançou um desafio inclusive para o senhor, com relação a ele garantir que há esse desvio de função. O desafio não foi aceito ou não será, como o senhor vai se relacionar a partir de agora com o deputado Capitão Tadeu?

Nilo – Eu aceito. Eu quero que ele faça uma denúncia. Até hoje eu não recebi nenhuma denúncia. Eu quero uma coisa concreta para mandar apurar. Toda denúncia que ele vier a fazer para o presidente, eu mando apurar. Eu até sugeri que ele indicasse três parlamentares, dos 63, para que nós pudéssemos apurar. Até o momento, eu não recebi uma única denúncia. E se receber, eu mando apurar. Aqui é a casa do contraditório. Aqui é a casa das leis.

Tribuna – Uma questão que é recorrente aqui na Assembleia é a necessidade de pedir suplementação orçamentária todos os anos. Só que o estado hoje está praticamente quebrado, mais de R$ 350 milhões sendo contingenciados. O senhor vai insistir com esse pedido? Já tem alguma sinalização do governo com relação a isso?

Nilo – A Assembleia Legislativa é a terceira mais austera do país. Só para se ter uma ideia, nosso orçamento é R$ 369 milhões, com 63 parlamentares. Pernambuco, com 44 deputados, tem um orçamento de mais de R$ 400 milhões. Então nós somos austeros. Agora, o que ocorre é que você tem um orçamento de um ano menor do que o ano anterior. Eu gastei, no ano passado, R$ 371 milhões. O orçamento deste ano é de R$ 369 milhões. Então, pela minha relação com o governador, ele sempre disse: aprova o orçamento e depois nós complementamos. Até para não modificar o orçamento original, nós sempre aceitamos. Tudo como o governador Jaques Wagner combinou conosco está sendo cumprido. Agora, a Assembleia Legislativa não tem gordura. Nós somos a terceira mais austera do país. Se você comparar com população ou se você comparar com deputados.

Tribuna – Quanto foi pedido de suplementação? Há garantia de quando esse recurso vai ser liberado?

Nilo – Primeiro, não foi pedida suplementação. O que nós acordamos em dezembro, o governador está cumprindo. Não houve pedido de suplementação. Suplementação é quando você não prevê uma despesa e ela aparece. O que nós estamos gastando é o que nós acertamos com o governador Jaques Wagner em dezembro. Porque a Casa, você sabe as funções básicas do Poder Legislativo, elaborar leis e fiscalizar o Executivo, mas nós avançamos. No primeiro ano, nós abrimos a Casa para o povo. Recebemos todos os movimentos sociais da Bahia. Os negros, os homossexuais, as mulheres, os índios, o movimento sem-terra, os empresários. No segundo ano, nós fizemos a Casa da Cultura. São 103 livros editados e reeditados de pessoas que fizeram a história da Bahia. A Bahia não é apenas de Jaques Wagner. A Bahia não é apenas de Antonio Carlos Magalhães, não é apenas de Mangabeira, não é apenas de Jorge Amado, não é apenas de Castro Alves, não é apenas de Rui Barbosa. A Bahia é de Roxo. Quem estudou na década de 1980 lembra da Mulher de Roxo, ali na Rua Chile. Caribé, Horário de Matos, Maria Bonita, Juracy Magalhães, Nestor Duarte, Juliano Moreira. Essas figuras que fizeram a Bahia, é muito importante que as pessoas conheçam que trabalharam na vida cultural, trabalharam na vida social, na vida empresarial, na vida política. E fizemos também as Assembleias Itinerantes, levamos a Assembleia para o interior do estado. Ou seja, qual é a função da Assembleia Itinerante: ouvir o povo, ouvir suas demandas, suas angústias e suas necessidades. Portanto, nós abrimos a casa para o povo.

Tribuna – Já foi falado que o governo do estado estava sinalizando negativamente sobre o envio dos recursos acordados entre o senhor e o governador no final do ano, algo em torno de R$ 25 milhões. Já foi falado internamente sobre uma rebelião que poderia acontecer, interna, dos próprios deputados contra essa medida do governo. Como o senhor vai tentar manter essa relação com o governo caso ele não mande o recurso que a Casa está aguardando?

Nilo – Primeiro, nós vivemos num mundo diferente. Sites, blogs, twitter, facebook, tantas coisas, e as vezes as pessoas criam. Nunca houve crise de dinheiro aqui na Assembleia. Nós estamos com todos os pagamentos em dia. Não existe nenhuma pressão do deputado, porque o governador Jaques Wagner, eu tenho uma relação muito boa com ele. Nós sentamos em dezembro do ano passado, acertamos e ele está cumprindo. Nunca existiu esse valor, essa informação que o governador não vai cumprir.

Tribuna – Quanto é o orçamento e quanto o senhor aguarda que o governo envie?

Nilo – O orçamento no estado, da Assembleia Legislativa, é R$ 369 milhões. Gastamos ano passado R$ 371 milhões. Portanto, já começa o orçamento deficitário. E o governador me disse: “O que você precisar, pode ter certeza que nós daremos”. Então não tem valor específico. Ele confia na minha gestão. Somos poderes independentes, mas somos harmônicos. Como ele sabe que nós temos um orçamento muito limitado e ele também. Só para você ter uma ideia, o orçamento do estado é de R$ 28 bilhões. Sabe qual é a população do estado? 15 bilhões.

Da Tribuna

Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte.

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