Um trem para Paulo Afonso. Por Francisco Nery Júnior

 Um trem para Paulo Afonso. Por Francisco Nery Júnior

Os turistas não estão vindo para Paulo Afonso. Poucos vêm. Saem da linha do litoral e param em Piranhas. Para minha surpresa, o hotel de Xingó estava cheio. Não era alta estação e estava cheio. neryFiquei curioso para saber por que não subiram um pouco mais para Paulo Afonso. À noite, após o jantar, debruçado em uma das bordas do hotel, de onde se pode ver o rio passando, já tendo deixado para trás uma boa quantidade de energia gerada, comecei a matutar e aparafusar. Eles, os turistas, em Xingó, têm tudo que desejam ver: o rio, o cânion, as usinas, a história do cangaço, o paraíso.

Já se andou de trem de lá até Petrolândia. O século era o passado, ou o anterior ao passado, e já se sonhava o sonho da interiorização salutar e promissora. A turma era provinciana no que o termo tem de melhor, e sabia o Brasil grande. Sonhava e realizava o sonho na ferrovia (historiadores locais contam docemente esta história). Vieram os militares, a secura das teorias econômicas, consideraram o trem deficitário e o riscaram do mapa. Ainda podemos ver os traços do sonho esfarrapado: pedaços de linha, trilhos se transformando em ferrugem, velhas estações.

A prefeita anterior de Piranhas, jovem e sonhadora – podemos inferir pela sua ousadia -, ousou sonhar. Tentou recuperar o trem. Sonhou com o que de melhor a recuperação da linha poderia trazer para a região. Para nossa decepção, a prefeita não foi reeleita.

Se os turistas empacam em Xingó, se há uma trava que os retém por lá, se de lá voltam para o litoral e para suas muitas vezes insanas ocupações, que nós os tragamos até a nossa região – de trem. Se eu fosse deputado, senador ou algo semelhante, compraria essa briga homérica e promissora. A Espanha um dia viveu de turismo.A Itália, idem. Por que não nós? Não somos, o leitor e eu, tão ingênuos assim. Mas com o pouco de raciocínio que podemos arregimentar, concluímos que o projeto de trazer pessoas de Piranhas até Petrolândia não requer muito dinheiro. Além do turismo, o leitor já sabe, o trem serviria a nós também. Sairíamos de Paulo Afonso para Piranhas de trem. Lá pegaríamos um vapor, com motor a diesel ou vapor mesmo, e chegaríamos ao litoral.

Eta, leitor, sonhamos um bocado. Sonhamos, caro leitor. Estamos vivos, sabemos da importância dos sonhos e ainda temos uma tênue esperança no bom senso.Estamos cansados. Cansados de sonhar e de esperar nos nossos gerentes. Precisamos argumentar mais?

Francisco Nery Júnior

1 Comment

  • Sinceramente, nao sei porque nao aproveitar esta pessoa como secretario de serviços urbanos, tem competência e muita. Parabéns pelas suas proposições em favor de nossa região.

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