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Trabalhar à noite provoca ‘caos’ na atividade dos genes
Novo estudo britânico mostrou que inverter horários do sono e de trabalho desregula a maioria dos genes que atuam no relógio biológico
Sabe-se que trabalhar em turnos – ou seja, à noite, em horários irregulares ou fazer plantões de madrugada — impacta de forma negativa o sono e altera o relógio biológico. Estudos científicos já associaram esses trabalhos a diversos problemas de saúde, como a um risco aumentado de doenças cardíacas, ganho de peso e até problemas de fertilidade feminina
Agora, uma nova pesquisa da Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha, descobriu que os efeitos de uma jornada de trabalho noturna no organismo são muito mais complexos do que se imaginava. De acordo com o estudo, trabalhar à noite e adiar o sono altera a atividade de grande parte dos genes responsáveis por regular o relógio biológico e provocam um verdadeiro “caos” nas atividades do corpo. Essas conclusões foram publicadas no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
As células do corpo humano funcionam 24 horas por dia. Esse trabalho, no entanto, é dividido em duas fases, noite e dia, e é conhecido como ciclo circadiano. Comandado pelo cérebro, esse ciclo é o responsável por gerenciar o funcionamento do corpo — regulando, por exemplo, o apetite, os horários de sono, o humor e os hormônios.
No estudo, os pesquisadores selecionaram 22 pessoas que trabalhavam e dormiam em horários comuns e fizeram com que elas os invertessem, passando a dormir de dia e a ficar acordadas no período noturno. Para isso, os voluntários adiaram o sono em quatro horas durante três dias, até que passassem a dormir 12 horas mais tarde do que o de costume. Os autores do estudo recolheram, no início e no final da pesquisa, amostras de sangue dos participantes para estudar a atividade de seus genes.
Os exames de sangue mostraram que, em horários normais de sono, cerca de 6% dos genes de uma pessoa são precisamente cronometrados para serem mais ou menos ativos em determinadas horas do dia. No entanto, quando os participantes passaram a dormir de dia e trabalhar à noite, esse ajuste preciso foi observado em apenas 1% dos genes. Segundo os autores, tanto genes que costumam se expressar de dia quanto os que têm o pico de atividade à noite foram desregulados.
“É como viver em uma casa onde há relógios em todos os cômodos, mas todos desregulados – o que provoca um caos no ambiente”, disse Derk-Jan Dijk, pesquisador do Centro de Pesquisa do Sono da Universidade de Surrey e coordenador do estudo. “Essa pesquisa nos ajuda a entender as consequências negativas associadas aos trabalhos em turnos e outras condições em que nossos genes são desregulados.”
Os prejuízos de dormir pouco
De acordo com uma pesquisa apresentada no encontro anual da Sociedade para Estudo de Comportamento Digestivo (SSIB, sigla em inglês), em julho de 2012, na Suíça, a restrição do sono faz com que um indivíduo consuma mais calorias e, além disso, reduz a capacidade do corpo de queimá-las. Isso ocorre porque dormir pouco aumenta os níveis de grelina, o ‘hormônio da fome’, conhecido assim por induzir a vontade de comer, na corrente sanguínea. Além disso, o hábito promove um maior cansaço, reduzindo a prática de atividades físicas e aumentando o tempo de sedentarismo. Da Veja