Prefeitura suspende atividades, em decorrência da infecção de servidores pela covid-19
Empresa de lobista ligado a PMDB e PT fechou contrato com a Petrobras
Papéis apreendidos pela PF indicam que Jorge Luz era um dos operadores financeiros e políticos do esquema de Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da estatal preso pela PF
Uma empresa do lobista Jorge Luz – ligado ao PT e ao PMDB, homem que ajudou a nomear Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras no começo do governo Lula – fechou contrato de R$ 5,2 milhões com a estatal. O contrato foi assinado em 2008, precisamente pela Diretoria de Paulo Roberto, que está preso pela PF, acusado de participar do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro desmontado na operação Lava-Jato. Luz, segundo documentos apreendidos pela PF e revelados com exclusividade por ÉPOCA nesta semana, é um dos operadores políticos e financeiros de Paulo Roberto. Integrantes do esquema ouvidos pela reportagem, sob condição de permanecer no anonimato, confirmam a participação de Luz no esquema.
Nos documentos apreendidos pela PF no escritório de Paulo Roberto, o nome de Jorge Luz e de seu filho Bruno Luz aparecem vinculados ao pagamento de comissões – propina, suspeitam os investigadores – envolvendo gigantes multinacionais que vendem combustível à Petrobras. Esses negócios eram fechados pela Diretoria de Paulo Roberto. Alguns dos documentos apreendidos são relatórios detalhados, preparados por “Beto” a Paulo Roberto. Para a PF, “Beto” é o doleiro Alberto Youssef, acusado pela polícia de ser o chefe da organização criminosa. Para integrantes do esquema, “Beto” é o advogado Humberto Mesquita, genro de Paulo Roberto, e, segundo essas fontes, operador financeiro do sogro. (Uma empresa do genro de Paulo Roberto, a Pragmática Consultoria, também tinha contrato com a Petrobras, no valor de R$ 2,5 milhões, fechado em 2010, quando Paulo Roberto ainda estava no cargo.)
Entre as empresas nos relatórios de “Beto”, constam a holandesa Trafigura, maior empresa independente de vendas de petróleo e minério do mundo, e a anglo-suíça Glencore, outra grande vendedora de combustível no mercado internacional. Conforme indicam os papéis revelados por ÉPOCA, tanto a Trafigura quanto a Glencore, entre outras multinacionais, pagavam comissão para fazer negócios na Diretoria de Paulo Roberto. No caso da Trafigura, o dinheiro da comissão era pago numa conta no Lombard Odier, em Genebra (US$ 800 mil de saldo em setembro de 2013). No caso da Glencore, no UBS de Luxemburgo (US$ 9.973,29 em maio de 2013, referente a apenas uma comissão naquele mês). A PF irá rastrear essas contas. Os mesmos papéis revelam a existência de outras duas contas secretas em paraísos fiscais. Ambas com o mesmo objetivo das outras: receber dinheiro das comissões.
Nos negócios envolvendo a Trafigura e a Glencore, entre outros, “Beto” explica nos relatórios que a intermediação com as empresas – e a cobrança dos pagamentos secretos – cabe a Luz pai e a Luz filho. A tarefa de gente como Luz é criar oportunidades de negócios para grandes empresas – a contrapartida, desconfia a PF, é dinheiro no bolso de políticos. Às vezes, os lobistas deixam os bastidores para firmar seus próprios contratos com as empresas públicas. É o caso dos contratos fechados pela Petrobras com as empresa de Luz e do genro de Paulo Roberto.
A empresa de Luz foi contratada para prestar serviços ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, então, sob a responsabilidade do ex-diretor Paulo Roberto. O contrato, com validade de 6 meses, previa a “prestação de serviços técnicos especializados de assessoria”, a única informação divulgada oficialmente pela Petrobras. As obras no Comperj deveriam custar R$ 19 bilhões e ser entregues há três anos. Vão custar, segundo a Petrobras, R$ 31 bilhões – e sabe-se lá quando terminarão.
No caso do contrato com a empresa do genro de Paulo Roberto, a Petrobras previa o pagamento por “serviços de qualificação e capacitação”, sem fornecer mais detalhes. Procurado, Humberto Mesquista, o genro de Paulo Roberto, não quis comentar as informações.
Em junho de 2007, o jornal Folha de São Paulo revelou que um Mercedez-Bens chamava a atenção no estacionamento reservado a diretores da Petrobras, no Rio. Sempre parado por lá, segundo o jornal, o carro pertencia a Jorge Luz, amigo do presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, e de Sérgio Machado, indicado pelo peemedebista para a Presidência da Transpetro. Jorge Luz é um dos mais antigos lobistas da Petrobras. Durante o governo Lula, ele se aproximou de chefes do PMDB e do PT. Além de Renan, é próximo do senador Jader Barbalho, também do PMDB, e do deputado Cândido Vacarezza, do PT de São Paulo.
Jorge Luz não foi localizado pela reportagem. O lobista deixou o quadro social da Gea Projetos em 2011. Hoje, a empresa está registrada em nome de sua irmã, Maria Luz Lopes. A Petrobras, a Glencore a Trafigura informaram que não se manifestariam sobre o assunto.
epoca.globo.com
MARCELO ROCHA, MURILO RAMOS E DIEGO ESCOSTEGUY