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Entrevista: Paulo Souto ex-governador e pré candidato a sucessão ao governo do Estado
Com a candidatura anunciada oficialmente quatro meses após a divulgação do nome petista para a concorrência à sucessão ao governo do Estado, o escolhido da “união das oposições”, o ex-governador Paulo Souto (DEM), considera “legítimas” as aspirações do ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto (PSDB), e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) a encabeçar a chapa majoritária e acredita que o gestor de Salvador, ACM Neto (DEM), foi “um grande árbitro” na condução do processo de escolha. “Dificilmente se poderia desejar algo mais forte, mais robusto para disputar uma eleição: uma chapa que está reunindo os três maiores partidos da oposição”, defendeu, em entrevista ao Bahia Notícias. O ex-governador elenca os índices negativos da violência no estado e os problemas na assistência à saúde como os problemas principais da gestão Jaques Wagner e que devem ser debatidos durante a campanha.
Bahia Notícias: O senhor chegou a hesitar ser candidato, falou na Lavagem do Bonfim do ano passado – é claro que tem bastante tempo – que não era seu desejo. Geddel Vieira Lima reclama que, de última hora, o senhor bateu o martelo dizendo que queria ser candidato. O que aconteceu para mudar de opinião?
Paulo Souto: Minha posição inicial era de precaução, porque eu achava que, pelas posições que eu já tinha ocupado, era natural que eu deixasse aberto para que novas aspirações pudessem ser colocadas. Daí a minha posição. O que é que eventualmente fez que eu refluísse disso? Além, naturalmente, de toda conjuntura partidária que apontava muito nessa direção, eu dizia o seguinte, que tinha uma coisa que era importante para que eu tomasse uma posição: é se eu sentisse, depois de ser governador duas vezes, que havia certo movimento de opinião pública favorável à minha candidatura. Esse foi o ponto fundamental. Na hora que eu fiquei convencido disso, eu fiquei na condição de não poder me furtar, não apenas com relação ao partido, mas com relação a uma tendência que havia na Bahia, que era referida, por exemplo, em pesquisas de opinião, de que eu poderia ser um bom candidato para reunir a oposição. Eu acho que são perfeitamente naturais as aspirações, por exemplo, inicialmente até de João Gualberto [ex-prefeito de Mata de São João], do PSDB, do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que demorou um pouco mais. Isso é uma coisa perfeitamente natural. Nós tínhamos que encarar isso com a maior naturalidade possível, mas o que importa é que a união foi feita. Eu acho que a união foi feita principalmente porque todos nós percebemos que era isso que uma parte expressiva do eleitorado na Bahia queria. Nós não tínhamos o direito de frustrar isso. Isso foi fundamental para que essa união fosse alcançada. É natural que, em um processo desse, possa, aqui ou ali, ocorrer algum tipo de percalço, mas o importante é que terminou, eu acho, muito bem. Acho que estão todos muito envolvidos desde o primeiro momento para a responsabilidade que nós temos.
BN: O PSDB chegou a falar que tinha preferência pelo nome de Paulo Souto. Alguns tinham até coragem de admitir isso publicamente, não todos. No final das contas, quando Aécio Neves veio a Salvador no Carnaval, eu puxei esse assunto com ele, porque eu tinha escutado do PSDB de que havia uma preocupação sobre um possivel palanque de Geddel Vieira Lima para Aécio. Isso foi determinante devido a uma maior facilidade de um palanque Aécio/Paulo Souto do que Aécio/Geddel?
PS: Não. Eu acho que, de qualquer sorte, no nosso ponto de vista, nós iríamos tomar esse caminho na candidatura presidencial. Não creio que isso não tenha sido nada determinante. Agora, tudo isso era cogitado, era avaliado. Dificilmente se poderia desejar algo mais forte, mais robusto para disputar uma eleição: uma chapa que está reunindo os três maiores partidos da oposição.
BN: Em nome disso, o PMDB lançou mão da candidatura de Geddel para o governo. Agora chegou a ser cogitada a nomeação do ex-deputado federal Leur Lomanto para a Semut. Ficou a impressão de que há certa dívida do grupo com o PMDB. O senhor acha que existe realmente isso?
PS: Acho que não. Eu tenho convicção de que essa posição partiu do prefeito ACM Neto, que foi um grande árbitro. Ele sempre disse que não era desejo dele e que não poderia fazer isso. É natural que, em um momento como esse, algumas aspirações eventualmente pudessem não ser realizadas. Ele fez com toda tranquilidade. Eu acho que a palavra conciliação foi dominante nessa estratégia final que terminou com êxito. Eu só quero dizer que todas as aspirações desse processo foram muito legítimas. Eram muito legítimas as aspirações do ex-ministro Geddel Vieira Lima, mas quero ressaltar, de forma muito clara, o fator determinante nesse desfecho. Ele foi uma figura importante para isso. Ele tinha uma aspiração e, nesse momento, foi possível que a luta pela união fizesse com que se incorporasse a esse projeto, da mesma forma que o PSDB tinha um candidato. Eu acho que a sensação que eu tinha é que uma parte grande da população da Bahia, que desejava isso, não nos perdoaria se nós não conseguíssemos isso. Iríamos ficar tachados de personalistas e individualistas, como se estivéssemos lutando por interesses individuais. Como, nesse momento, estou sendo candidato a governador, tenho que fazer uma referência especial a ele, que entendeu isso e já está incorporado para a gente começar uma luta que eu tenho certeza que é a que a Bahia está esperando.
BN: Mas o PMDB acabou ficando com dois postos. Porque Joaci Góes, que é do PSDB, foi indicado por Geddel. O senhor não acha que o PMDB ficou poderoso demais nessa chapa?
PS: Eu não quero encarar o problema de poderoso dentro da chapa. O que eu acho que é importante é nós olharmos se essa foi uma chapa que atendeu às expectativas de uma grande parte da população. Isso foi feito, naturalmente, com toda a aquiescência do PSDB que foi um partido que, desde primeira hora, aderiu, não a mim, mas ao conceito de que a oposição deveria ficar unida. Naturalmente que manifestações de preferências são normais.
BN: O senhor acha que seu vice, Joaci Góes, vai agregar bastante à campanha? De que forma?
PS: É verdade que é um político que, de algum tempo para cá, estava afastado, mas já foi um político forte, foi um homem que teve participação importante na Constituinte. É um empresário, um escritor, um estudioso de muitos assuntos e acho que agrega no sentido de atender às expectativas desses partidos que, afinal de conta, compuseram a chapa.
BN: Mas de voto ele ainda vai ficar devendo…
PS: Não acho que esse seja o problema fundamental na escolha de um candidato a vice. Acho que a capacidade de agregar é muito mais importante propriamente do que a capacidade de, diretamente, influir em uma determinada votação.
BN: O candidato do governador Jaques Wagner, Rui Costa, é apresentado como uma opção nova. Como o senhor pretende disputar? Quais são as principais diferenças entre o senhor e o candidato do PT?
PS: Eu acho que o problema de opção nova é uma coisa que em que se caracterizar mais pelo que cada um vai defender. O fato de surgir uma pessoa que, pela primeira vez, vai disputar um cargo, isso necessariamente não significa que ele possa representar o que nós habitualmente podemos chamar de novo. Acho que a capacidade de renovação é mais importante do que qualquer coisa e eu não creio que isso seja colocado dessa forma. Eu, por exemplo, em cada um dos governos que eu participei, tive oportunidade de colocar em prática programas e projetos que foram realmente inovações importantes na estrutura administrativa da Bahia. Então, isso para mim, é mais importante do que qualquer coisa. Eu continuo muito antenado a todas às movimentações que ocorrem no Brasil, para que a população possa perceber claramente que nós vamos, durante a campanha, discutir programas, projetos que sejam importantes para o estado.
BN: O senhor é candidato desde 1994. Veio de uma vitória ao governo, uma vitória ao Senado, outra vitória ao governo e as duas últimas derrotas ao governo. O senhor não crê que há um desgaste? Como reverter essa possível resistência do eleitorado?
PS: Não tem nenhuma evidência de que exista isso. Mesmo porque é preciso lembrar que, mesmo com relação à eleição de 2006, eu saí bem avaliado do governo. O problema ali não foi de natureza política e nem de avaliação do governo. Foi uma circunstância política e nacional, que teve uma influência muito grande aqui na eleição. Pelo menos todas as sondagens de opinião, as investigações mais qualitativas que nós fizemos, apontam na direção contrária. Se eu pudesse antecipar, diria que eu posso perceber uma opção por uma solução de confiança. Há certa frustração da população com as coisas que estão aí. Uma opção que diga: ‘Nós sabemos exatamente o que os podemos esperar’. Sabendo quais são minhas qualidades e, eventualmente, quais meus defeitos, mas é, basicamente, diante das circunstâncias que nós estamos vendo no estado, uma solução que nós vimos que inspira confiança para a população.
BN: O PT já disse que o mote vai ser comparar os anos de Paulo Souto com os de Jaques Wagner. E Paulo Souto, pretende trazer o quê para a campanha? Qual vai ser o ponto frágil do PT a ser explorado?
PS: Como eu disse, depois do período de pré-campanha, além das preparações de natureza interna, mobilizando um grupo e ouvindo na campanha, eu estou preocupado em apontar programas para o futuro. Mas também eu não posso deixar de reconhecer que há certas áreas do governo que a atuação delas é indefensável. Você não pode imaginar, em quatro anos, quatro mil homicídios na Bahia. Salvador é considerada a 13ª cidade mais violenta do mundo, segundo a ONU. Então eu realmente não queria começar tratando desses assuntos, mas paciência. Já que as provocações estão vindo… É impossível conviver também com a de assistência na saúde que nós estamos vivendo. O assunto é difícil e complexo, mas estou colocando isso porque nenhum governo vai ter condição de atender plenamente a setores que são complexos na Bahia. Mas o problema é a propaganda, a publicidade dirigida e tendenciosa para passar para a população uma situação que efetivamente não existe. Então nós vamos mostrar isso. Não é a nossa prioridade, que é tentar focar mais algumas coisas para frente. Acho que ainda não é o momento de isso estar bem detalhado. Mas nada me amedronta com relação ao embate que vier a se instalar nesse sentido.
BN: O calcanhar de Aquiles do governo PT é a questão da segurança pública?
PS: Esses resultados são muito ruins para a Bahia. É muito difícil. É uma queixa generalizada da população, mas também acontece em uma outra área muito sensível que é a área de assistência à saúde, como eu falei. São dois pontos muito vulneráveis do governo. Eu quero dizer, com toda tranquilidade, que eu tenho consciência de que não são coisas que se resolvem com facilidade, mas o governo atual teve a oportunidade que ninguém teve na história recente da política na Bahia, que é o mesmo governador durante oito anos. Com tudo que eles falam, do tempo nosso, mas o mesmo governador, durante oito anos, não existe outro exemplo. Então foi uma oportunidade ímpar para evitar nesses setores, mas infelizmente isso não aconteceu.
BN: Sobre a crítica que o senhor faz à segurança pública, em todo o país a gente acompanha índices alarmantes de violência. O episódio da desocupação de uma favela no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, é um exemplo. O senhor realmente acha que é uma coisa local? A gente pode atribuir a uma falha do governo local?
PS: É evidente que eu não estou aqui para martirizar. Mas é evidente que houve uma mudança muito clara de patamar de 2007 para cá. Durante muito tempo, a tendência da Bahia foi contrária. O problema é que hoje, com todos esses problemas do Rio, as taxas de homicídio são menores do que na Bahia. Em São Paulo, são bem menores. Outros estados que também eram estados têm uma tendência de decrescer. Nós tivemos, nesse período, um aumento desusado dos índices de violência no estado. Então ainda que se diga que é um problema nacional, nós precisamos saber como se comportavam alguns estados que são comparáveis a nós. Alguns desses estão decrescendo continuamente. O que aconteceu na Bahia eu atribuo muito aos primeiros anos de governo, onde se desestruturou muito a segurança pública e isso repercutiu muito fortemente.
BN: Para o senhor, a violência se combate com maior força policial?
PS – É evidente que a causa estrutural não é essa, mas também não podemos chegar a outro extremo de subvalorizar o trabalho do sistema de segurança pública, que precisa ser efetivo. O que vocês estão falando do Rio, onde podem ocorrer os problemas que forem, mas era fundamental que o Estado recuperasse o domínio de certas áreas que estão ou que estavam sob “o governo do crime organizado”. Isso não é possível e tem que haver reação, mas não podemos entrar na armadilha da discussão de que a violência é uma questão apenas de origem social ou que se origina nas dificuldades do aparelho do sistema. Existem as duas coisas, mas nós temos um problema imediato que tem que ser resolvido com a polícia eficiente.
BN: É claro que o senhor ainda vai montar o plano de governo, que deve sair em julho como o do PT ou antes?
PS: Eu acho que por aí ou logo depois das convenções.
BN: Mas o senhor já deve ter ideia de quais vão ser as principais propostas que pretende discutir com a população?
PS: Eu tenho que tomar como referência um grande movimento de opinião que existiu no Brasil, que foram as manifestações do ano passado. Elas podem ter tido uma origem diversa, mas uma coisa ficou muito clara: a insatisfação da população com a qualidade dos serviços públicos: isso ficou extremamente claro. Embora possa parecer uma coisa óbvia, mas o foco muito forte é no sentido de melhorar e de qualificar mais os serviços públicos oferecidos à população. Eu estou falando em segurança, em saúde, em assistência social e educação. Porque essas coisas que parecem que eventualmente se constituem como uma rotina do governo não podem ser encaradas dessa forma. Tem que se constituir em uma preocupação fundamental. É claro que nós temos que continuar planejando, buscando recursos para os projetos mais estruturantes; mas não é possível falar de projetos de bilhões se hospitais não atendem às pessoas porque não têm médicos, as escolas não funcionam porque os terceirizados estão sem receber. A educação fica quase um ano em greve. Nós temos que tentar evitar isso. Então o foco é na melhoria dos serviços públicos, que é uma coisa que afeta diretamente o dia-a-dia da população. Eu confesso o perigo que existe em falar nisso. Porque as pessoas têm a ideia de que os problemas são indissolúveis, mas temos que procurar avançar. Ainda falando muito generalizadamente, outro ponto é que não se pode ter uma Bahia desenvolvida, se nós temos uma parte enorme do nosso território com problemas seríssimos. Eu quero falar do semiárido. Um programa estruturado para o semiárido, que nós começamos e avançamos muito no governo anterior, através de alguns programas setoriais, visando, por exemplo, buscar meios de aumentar a renda da população, aproveitando as possibilidades que o semiárido oferece em cada região. Acho que essa foi uma experiência boa que estava avançando e que infelizmente foi deixada de lado.
por Evilásio Júnior e Juliana Almirante | Fotos: Francis Juliano