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Roberto DaMatta: Derrota vai fazer Brasil acordar para problemas
O placar de 7 a 1 para a Alemanha vai afetar a autoestima dos brasileiros, tão ligada ao futebol, e transbordar para outras áreas. A opinião é do antropólogo e escritor Roberto DaMatta, que conversou com a BBC Brasil logo após o jogo de terça-feira.
“O futebol nos deu, sim, autoestima, mas não podemos reduzir o Brasil a isso. Essa derrota vai fazer o Brasil acordar e ter lucidez para lidar com seus problemas, em termos de segurança, saúde e especialmente no mundo da política, já que a eleição está aí”, disse.
O antropólogo diz lamentar a derrota do Brasil, mas vê uma compensação no fato de que ela vai abrir os olhos de muita gente. “Não sabemos ainda como, mas que vai haver um transbordamento para outras áreas, isso vai.”
Frustração
Para DaMatta, a frustração e como lidar com ela é algo importante para o brasileiro e isso pode impulsioná-lo a ter uma visão diferente, com mais nitidez, das mazelas nacionais.
E essa mudança ganha mais peso diante do placar dramático. “É preciso ter em mente que 7 a 1 é mais que uma simples derrota, é uma demonstração clara de que estávamos vivendo uma ilusão”, disse DaMatta, que já analisou o Brasil por meio do futebol em diversos textos. Alguns deles reunidos no livro “A bola corre mais que os homens – duas Copas”.
O antropólogo acredita que o golpe na autoestima do brasileiro com o jogo desta terça-feira terá reflexos nas próximas semanas, até a eleição, e também depois disso, até os jogos de 2016.
“A Olimpíada está aí e, com essa derrota, será preciso lidar com as questões nacionais, porque ela vai colocar o país em xeque de uma maneira brutal, especialmente na área da política pública.”
Alegria do povo?
Saindo da esfera pública e voltando para o estádio em si, DaMatta acredita que o baque contra a Alemanha é uma chance para se reorganizar o futebol no Brasil.
“Para mim, com a minha cabeça de quase 80 anos e assistindo futebol desde o s 10, esse jogo de foi o fim de um ciclo. Vi o início do futebol aqui, sua ascensão, e agora isso. É como se fosse o fim do futebol-alegria-do-povo.”
O antropólogo acredita que a goleada vai provocar a reorganização do mercado do futebol no Brasil.
“O futebol da seleção vai ser desmitificado. Porque o que vemos atualmente é a magia do marketing e não do futebol – e isso precisa mudar.”
DaMatta critica o que chama de criação de mitos, formando um cenário que, para ele, parece Hollywood.
“A saída do Neymar, por exemplo, exemplifica bem isso. Cantar o hino segurando a camisa dele? Ele morreu? O Pelé se machucou e ganhamos a Copa em 62”, diz o antropólogo, acrescentando que agora vai torcer para a Argentina. “Em nome dos latino-americanos.”
Mariana Della Barba
Da BBC Brasil em São Paulo