Tragédia e esperança

 Tragédia e esperança

Como Sérgio Guerra, Eduardo Campos era uma das pessoas mais inteligentes que conheci. Além de divertido, com um raciocínio arguto e cortante como poucos.  campos 1 Lembro de um dia desses em que estávamos na Rádio Jornal e eu reclamava de um prefeito da região metropolitana, muito limitado, ao ponto de não saber falar. “Você preferia o sabido?”, brincou, em referência à fama de traquino do anterior.

Ao longo de mais de 22 anos de batente no jornalismo, tive algumas divergências com o político Eduardo Campos, como pode acontecer entre pessoas que pensam de forma diferente em uma democracia. A gente tem a mesma idade, 49 anos.

Nossos destinos começaram a se cruzar no terceiro governo Arraes (1995-1998). Eram tempos difíceis e as contas públicas do Estado estavam em frangalhos. Não havia dinheiro nem para o pagamento dos servidores estaduais, com folhas atrasadas. Arraes era contra privatizar o Bandepe e a Celpe.

Os mais jovens não lembram, mas o PSB, quando fazia oposição a Fernando Henrique Cardoso, ao lado do PT, era contra a transposição do São Francisco, por exemplo. Arraes dizia que o rio era do povo e não poderia ser alterado. Só que o uso mais nobre da água sempre foi o abastecimento humano. Não a produção de energia. Energia pode ser importada, água não.

Eduardo era secretário da Fazenda de Miguel Arraes e eu um pobre foca da editoria de Economia. Fuçando o Diário Oficial do Estado, descobri uma operação de lançamento de títulos. Ligo para a Fazenda e sou desencorajado. Ninguém queria falar. No final daquele mesmo ano, estoura no Congresso Nacional a CPI dos Precatórios e Eduardo Campos pagou um preço amargo.

A sua coragem pessoal e determinação ficaram patentes com a forma com que, depois deste episódio nefasto em sua vida, conseguiu se reinventar como político e líder nacional. Após sua passagem pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, no primeiro mandato do ex-presidente Lula, já era outro homem, mais maduro e muito mais atento com a opinião pública.

Não votei na sua primeira eleição e expliquei-lhe o motivo. Achava que Mendonça Filho (à época, PFL) estava mais preparado para dar continuidade ao governo Jarbas. “Vou provar que você está errado e, na minha reeleição, você vota em mim, combinado?!”. Não decepcionou, ao contrário.

No blog, elogiei várias vezes sua evolução como administrador público e político moderno, pois seria impensável que um político de esquerda lançasse, como ele fez, PPPs para estradas ou OSs para gerir novos hospitais. Como governador, Eduardo Campos também teve a coragem, entre outras coisas, para enfrentar as corporações para tentar melhorar o atendimento à saúde da população pernambucana.

No governo, lembro de sua felicidade incomensurável no dia em que conseguiu anunciar a atração da Fiat para Pernambuco. Conversamos no Palácio do Campo das Princesas e ele não estava satisfeito. Queria mais, falava na necessidade de criar oportunidades para a interiorização do desenvolvimento.

No plano político, que legado que Eduardo Campos deixa para Pernambuco? Quem já viu o que já tivemos como gestores públicos, pode ser contra o chamamento de técnicos gabaritados e probos para desafios públicos agota? Quem reclama do pedido de apoio para a mãe chegar ao TCU esquece de reclamar com a mesma veemência dos heróis do povo brasileiro que foram parar no Complexo da Papuda. Entre um e outro, acho o primeiro caso menos deletério.

Quem pode reagir negativamente a firmeza com que o ex-governador comandou a segurança pública em Pernambuco, diminuindo drasticamente o número de homicídios no Estado? Bons exemplos não faltam.

No plano pessoal, Eduardo Campos era também uma pessoa muito humana e a prova de que valorizava a família ocorreu no dia em que me ligou para saber notícias e desejar melhoras quando minha querida esposa, Luiza, quase morreu de uma gravidez tubária. Perco um amigo querido. Nem no pior pesadelo me imaginaria escrevendo um texto falando de sua despedida. Que Deus possa confortar Dona Madalena, Ana, Renata Campos e os filhos, Antônio Campos e toda a família.

Por Jamildo Melo

 

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