A energia de Paulo Afonso chegou ao Recife há 60 anos

 A energia de Paulo Afonso chegou ao Recife há 60 anos

EEx-presidente da Chesf, engenheiro Alves de Souza (centro) recepciona autoridades durante a construção de Paulo Afonso. Acervo Chesf

A rotina do Recife se alterou, definitivamente, em dezembro de 1954, quando chegou a energia da usina da hidrelétrica de Paulo Afonso I. Até então, a capital do Estado tinha uma energia “péssima e precária” produzida pelo gasômetro, uma térmica da Pernambuco Tramways, a concessionária da energia no Estado. O serviço era racionado, como se a cidade estivesse em guerra. “Antes de Paulo Afonso, a lâmpada da rua era apenas uma brasinha em vários bairros da capital. Em Jaboatão, a energia só ia até o quartel do 14º regimento de infantaria, no Socorro. Em Olinda, a iluminação alcançava até a Praça 12 de Março, em Bairro Novo”, lembra o engenheiro aposentado Antonio Feijó, que tinha 18 anos na época.

EEx-presidente da Chesf, engenheiro Alves de Souza (centro) recepciona autoridades durante a construção de Paulo Afonso. Acervo Chesf
EEx-presidente da Chesf, engenheiro Alves de Souza (centro) recepciona autoridades durante a construção de Paulo Afonso. Acervo Chesf

“As casas e as cidades ficaram mais iluminadas após a chegada da energia de Paulo Afonso. A primeira coisa que fiz foi comprar um liquidificador de presente para a minha mãe. Depois, adquiri uma geladeira”, conta Feijó, que trabalhou como engenheiro na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). A energia mais abundante fez uma parte da população comprar mais eletrodomésticos, ocorrendo uma explosão do consumo no início de 1955.

A energia de Paulo Afonso trouxe novas perspectivas ao Nordeste. A sensação era de que “o Brasil vai…” se desenvolver como cantava Luiz Gonzaga, numa música feita com José Dantas sobre a hidrelétrica. “A discussão sobre a industrialização no Nordeste começou em 1958 em decorrência de Paulo Afonso”, resume o historiador Leonardo Dantas Silva, acrescentando que depois disso vieram os primeiros distritos industriais no Cabo, em Paulista além de um novo aeroporto. “Surgiu um clima de progresso na cidade e no Nordeste”, diz.

A construção de Paulo Afonso movimentou os portos de Recife e Salvador que receberam os equipamentos usados na implantação da hidrelétrica e até cimento. Naquele tempo, as fábricas de cimento da Poty, em Paulista, e da Zebu, na Paraíba, produziam tudo que podiam, mas não era suficiente e uma parte do cimento foi importado.

A obra também foi um marco na engenharia nacional. “As soluções encontradas na construção de Paulo Afonso são reconhecidas como de excelência”, conta o diretor de operações da Chesf, Mozart Bandeira Arnaud. Para aproveitar melhor a queda da água no cânion do São Francisco, os engenheiros da estatal decidiram construir a usina dentro da rocha. Paulo Afonso e a usina Nilo Peçanha, no Rio de Janeiro, foram as primeiras centrais subterrâneas implantadas no País. Toda a engenharia e obras foram realizadas com o conhecimento do pessoal ligado à Chesf com exceção das quatro primeiras subestações e as linhas tronco de transmissão, implantadas pela norte-americana Morrison Knudsen.

Durante a construção da hidrelétrica, houve um impasse entre os diretores da Chesf e o Banco Mundial, um dos financiadores do empreendimento que contratou o engenheiro norte-americano Adolph Ackerman, ex-dirigente da Light, para acompanhar as obras de Paulo Afonso. Ele queria fazer um “obelisco” que serviria para barrar o Rio São Francisco, retirando as impurezas (areia e pedras) da água usada para gerar energia. Esse obelisco corresponderia a um prédio de 45 metros dentro do rio. O então diretor da Chesf, Marcondes Ferraz, defendia a construção de uma barragem com um dreno sugando as impurezas. “Marcondes Ferraz provou numa reunião em Washington, nos Estados Unidos, com a direção do Banco Mundial que a ideia dele era mais prática e econômica. Isso deu um gostinho especial a Paulo Afonso”, lembra o engenheiro Luiz Fernando Motta Nascimento, que chegou na cidade de Paulo Afonso em 1946, aos seis anos de idade, acompanhando o pai, mestre de obras responsável pela parte elétrica do empreendimento, inaugurado oficialmente em 1955.

A hidrelétrica continua sendo “o coração” da Chesf. Até 30 de junho de 2015, a estatal vai concluir um investimento de R$ 176 milhões para modernizar as usinas de Paulo Afonso I, II e III, trocando vários equipamentos analógicos por digitais que vão aumentar o tempo de vida útil de um empreendimento que se confunde com a história da região. http://jconline.ne10.uol.com.br

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