Não temos uma Rodoviária

Nós nos referimos a uma estação rodoviária; com inicial maiúscula no título para chamar a atenção. Mas, quero crer com a concordância do leitor, que ele me permita citar o nome do pastor Genilson Souto, ex-pastor da Igreja Batista Central, meu companheiro em duas viagens para fora de Paulo Afonso. Genilson é um bom companheiro de viagem. Não é complicado; não se apega a picuinhas para complicar a vida. Só com você, ele é ele. Quando existem mais pessoas envolvidas, ele assume um ar mais solene e menos “to the point”, direto ao assunto, como dizem os americanos. Nada demais na declaração, sabendo que a grande maioria das pessoas é assim. Também Genilson é despachado e prático. No aeroporto de Miami, de volta para o Brasil, a luz vermelha acendeu para mim. Meu companheiro de viagem passou pela inspeção sem problemas com a luz verde. Tive de tirar os sapatos, o cinto, tive as malas reviradas. Nada de errado, me liberaram. Tive de rearrumar as malas, coisa que detesto. Uma das coisas boas dos ricos – os pobres têm as suas – é ter um valete, que é uma espécie de secretário particular para cumprir a agenda, escolher as roupas adequadas, lembrar compromissos. Malas refeitas (um horror), saí do ambiente da inspeção para prosseguir na jornada para o portão de embarque (até lá são cerca de vinte minutos de caminhada). Saí na vã esperança de reencontrar o parceiro de viagem. Os peritos em viagens internacionais recomendam a viagem a dois. Um ajuda o outro. Um bêbado não consegue andar. Dois bêbados andam, desde que se apóiem um no outro. Não encontrei o amigo de viagem.

E agora, pensei, o que vou dizer ao pessoal de Paulo Afonso? Tinha viajado como intérprete do homem e todo intérprete assume a postura de protetor. O intérprete é concomitantemente um diplomata, e nesse mister costuma evitar problemas e situações desagradáveis. O homem tinha desaparecido. Fiquei tranquilo ao me lembrar que estava no corredor de embarque vigiado de um aeroporto internacional.

Entrei no avião sozinho, conferi o número da poltrona, e sentei. Dez minutos em voo, ouvi uma voz a me chamar algumas poltronas atrás. Era ele, são e salvo de volta ao Brasil. O alívio foi grande. O homem estava seguro.

Toda esta história, leitor, apenas para lhe dizer que o Pastor Genilson, meu companheiro de viagem a Jacksonville, na Flórida, pessoa resoluta e incisiva nas suas posturas e declarações, não poupava críticas à nossa rodoviária. Achava que aquele monstrengo não estava à altura do desenvolvimento da cidade nem do merecimento dos seus habitantes. Na viagem de ida, tínhamos passado por Delmiro Gouveia e pude ver o seu sofrimento ao contemplar a rodoviária da cidade. Ele tinha bastante razão. Merecemos coisa melhor.

Leio agora, nos nossos sites, crítica da mídia de fora quanto à nossa estação. O pessoal da comunicação não entende que tenhamos aquilo como local para chegar, se acomodar e partir para outros lugares e para novas experiências. Os banquinhos da Estação Rodoviária de Paulo Afonso são a concretização maior, para não dizer supina, do descaso em relação à nossa estação rodoviária.

Há mais de um ano iniciaram uma reforma. Já gramaram a área externa. Relocaram algumas árvores. Colocaram umas divisórias de vidro. A cada mês (lembre-se o leitor que a reforma foi iniciada há mais de um ano), uma reforminha, um detalhe. Colocaram um gradil verde ao redor. Tem serventia? Há um propósito? O objetivo foi a segurança dos passageiros?

E ficamos por aqui. O leitor pode ir imaginando algumas coisas mais que poderíamos dizer. Ele deve convir também que, a esta altura do baile, merecemos coisa muito melhor.

Francisco Nery Júnior