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Dezessete mortos pelo terror em Paris
Com esta uma das piores secas dos últimos tempos por que passamos, árvores belas, úteis e, algumas, decenárias estão a morrer. As pessoas, ressecadas pelo sistema da moda, pelo capitalismo extremo, consumismo e hedonismo, nem estão aí. Passam, olham e, depois, só veem os funcionários da prefeitura levar o esqueleto da velha árvore para o cemitério das árvores. Aliás, nem veem. Exemplo máximo da insensatez. Fim de semana, um garoto a limpar o jardim. O envelhecimento do cronista e do leitor obriga o mesmo cronista e o mesmo leitor a terceirizar. O menino viu a serigueleira do vizinho piscando de seriguelas polpudas. Não hesitou: trepou no muro e se abasteceu de muitas delas.
Deixemos o primeiro parágrafo no molho e lembremos ao leitor que 17 pessoas foram rudemente trucidadas pelo terror na França, na semana passada. O que é isto? O que significa? Os jornais falam de intolerância religiosa. Será? Será só isto? Os atos tiveram a conotação da barbárie. Foram perpetrados com crueldade estudada, selecionada para deixar a marca da mensagem, para não dizer do ressentimento. Para não dizer do ódio. Os terroristas, após matar o núcleo do objetivo do ódio, mataram, já em retirada, o jovem segurança, coincidentemente também muçulmano, de mãos para cima, já abatido na base fria da calçada gelada de Paris. O jovem pai de família estava de mãos para cima na esperança última e desesperada de alguma consideração humana. Morreu de mãos para o alto, sem dó nem piedade. Morreu por nada; para nada.
Os terroristas, irmãos de origem argelina, nascidos na França, se sentiram ofendidos na sua crença em Alá e no profeta Maomé, o profeta de Deus para os muçulmanos, por um jornal acerbo e picante, que não selecionava palavras amargas para satirizar e, talvez, menosprezar. Os caricaturistas do Charlie Hebdo arrebanharam a antipatia dos árabes, ou apenas dos muçulmanos, ou, ainda, dos muçulmanos radicais.
Que estariam querendo demonstrar para nós os jovens que se imolaram pelo Islamismo? Que já foram gente no passado (os árabes foram bambambãs na Idade Média)? Estariam protestando embora violando todas as regras de tolerância e de civilidade contra as desigualdades políticas e sociais? Imolaram-se pelo nada, já que, vamos convir, o extremismo só serve para radicalizar ainda mais a posição dos contrários. Tudo indica que a sua imolação apenas prejudicou a causa que tanto defendiam.
Extremistas, puristas religiosos, cumpridores fiéis dos mandamentos de Maomé, ou apenas fanáticos radicalizados pelo ódio às civilizações mais à frente? Militantes de frente pelos direitos sociais e pelo direito à igualdade, ou apenas marginais da sociedade moderna provedora de confortos, muito mais para uns do que para outros?
Seriam eles – ou estariam eles – desejosos apenas de colher os frutos do trabalho dos outros, como o rapaz da limpeza citado no primeiro parágrafo? Estariam a querer tirar proveito de uma sociedade que alcançou um alto nível de desenvolvimento na base do esforço, do estudo e do trabalho? Estariam desejosos dos benefícios de uma árvore sem, contudo, zelar pela sua preservação; sem nem ao menos uma olhada, uma molhada com um balde de água? Ao menos uma cusparada?
Os acontecimentos de Paris nos fazem pensar. Pensemos então.
Francisco Nery Júnior