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A verdade sobre o PT, o PSDB e o PMDB depois de 30 anos?
Certos segmentos da esquerda que atuaram durante a Ditadura Militar pretendiam-se os faróis do futuro. Eles fariam a revolução e conduziriam o povo à libertação do capitalismo. Sob o império dessas crenças salvacionistas, messiânicas, nasceu a redemocratização (1985) assim como a Constituição (1988), com o PT mais à esquerda e o MDB numa posição mais de centro. Este acabou bipartindo-se em PMDB (que ostenta conhecidos representantes da cleptocracia: Estado cogovernado por ladrões) e PSDB (com posicionamento ideológico mais de centro e discurso ético, refutando as práticas corruptas deploráveis de Orestes Quércia e tantos outros políticos do PMDB). Trinta anos depois da redemocratização, sabe-se que o PT “petrolou” e “mensalou” e que grande parcela do PSDB “metrolou” e também “mensalou”. O PMDB (assim como outros partidos menores, com raríssimas exceções), como sempre, cogovernando fisiologicamente o País (presidencialismo de coalizão), “cleptou”.
Para opor combate aos opressores, os próceres do PT entenderam necessária uma disciplina determinada por sua hierarquia partidária. Três coisas fundavam a subordinação: a hierarquia que os vinculava era compreendida como centralismo democrático; a análise que faziam da História dava-lhes certeza de sucesso, pois seu método seria científico; cada militante se tinha como apóstolo de uma causa messiânica, salvadora dos povos oprimidos.
Suas ações eram fundadas em uma movediça justificativa. O que quer que fizessem era explicado por uma expressão à época fartamente usada: dialética da História. Ou seja: de uma aliança partidária qualquer a um assalto a banco, do apoio a um candidato corrupto a um sequestro, tudo era feito em nome dos meios para um fim.
O Golpe Militar de 1964 foi o fundo (o leitmotiv) de tudo isso. Os militares usurparam o poder, sequestraram, torturaram, mataram e fizeram desaparecer pessoas. Oportunistas, ingênuos e corajosos de esquerda viram nisso o “momento histórico” para a sua própria revolução. Começaram, então, a fazer as próprias tolices. Sem procuração de ninguém, foram messianicamente à salvação da pátria.
Bobagens à parte, esses grupos se organizaram, militaram e chegaram ao poder. Aí estão e aí estão (do ponto de vista formal) legitimamente (ou seja, de acordo com as regras eleitorais da redemocratização, que espelham o deplorávelsistema eleitoral brasileiro, “financiado” pelas grandes fortunas). Aí estão pelo voto e seus votos foram obtidos conforme a nossa pouco exemplar tradição (desde que se constituiu o primeiro partido político no Brasil): usaram muito dinheiro, foram financiados por empresas e empresários que sempre cobram o retorno do “investimento”, deram dentaduras (há caso documentado), fizeram tudo o que sempre se fez no País.
Então, todos os partidos são iguais? Não, não são. Há uma diferença. Não qualificamos a diferença de melhor ou pior. Mas o método da turma no poder é outro. Que as práticas políticas brasileiras sempre foram atravessadas por dinheiro, todo mundo sabe, mas era investimento privado. O que a esquerda no poder faz é corromper com dinheiro público. Isto é: o Estado foi “aparelhado”. Aparelhar o Estado é usá-lo para fins privados, para vantagens pessoais. “Aparelho” também era o nome dado aos grupos organizados de militância esquerdista. Aparelhar o Estado, na especialidade dos poderosos do momento, significa colocar um “companheiro” em cargos públicos importantes. Esse “companheiro” tem uma tarefa: ser “dialético”, ou seja, deve se virar e arranjar verba para a máquina partidária (porque a manutenção do poder exige muito dinheiro).
Podemos chamar isso de corrupção, que constitui o eixo da grande cleptocracia (Estado cogovernado por ladrões). Mas corrupção, dirá um esquerdista tipo “dialético”, é um ato burguês; corrupção, dirá um “companheiro”, é expropriação do Estado para fins privados. Roubar do Estado para fins de manter o poder e, no poder, salvar o povo, é pura “dialética”. É dizer, são meios ilícitos para fins justificados (consoante pregação quinhentista de Maquiavel).
Impõe-se abaixar a maldita Ditadura, sempre. Agora, ca pra nós, esse governo, “dialeticamente”, está nos roubando. Roubalheira política sempre houve. Roubalheira estruturalmente “dialética” é a primeira. A esquerda no poder nos aparelhou. Que pena! As novas lideranças nacionais, do seu jeito, fazem a mesma coisa ou até pior que as nefastas lideranças antigas. Juntas, transformaram o Brasil num grande antro de extração de dinheiro (como fazem os traficantes nos seus âmbitos territoriais). Todos nós, conservadores ou progressistas, continuamos vítimas das oligarquias criminais. Essas oligarquias, com jeitos novos ou nem tanto, estão nos chupando o sangue parasitariamente, crescentemente, diariamente.
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A Polícia Federal, contudo, não considera tal distinção (entre corrupção e dialética). A Polícia investiga e indicia: “Lista revela obras na mira do esquema. A maior preocupação dos policiais federais que atuam na Operação Lava-Jato já não se resume ao suborno pago a diretores da Petrobras para irrigar contas de partidos da base governamental; o alvo, agora, é uma planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef – o maior operador de propinas oriundas da estatal de petróleo. O documento elenca 747 projetos que figuram entre as maiores obras em andamento no país. Vão de hidrelétricas a hidrovias e irrigação contra a seca, além de extração petrolífera”.
A planilha menciona mais de cem empreiteiras. Dos empreendimentos, “41% nada têm a ver com petróleo; as 34 páginas do documento mostram o cliente, o nome de um contato na firma, telefones, o cliente final, no que consiste o empreendimento, a data da proposta e um valor” (DC, 15dez14, editado). E isso tudo não é a coisa toda: “Gasto de estatais com publicidade sobe 65%. Empresas controladas pelo governo federal gastaram com propaganda R$ 16 bilhões no período entre 2000 e 2013. Petrobras, Caixa e Banco do Brasil gastaram 86% desse valor” (FSP, 17dez14). E ainda faltam, nesse rol de “aparelhamento”, as milhares ONGs. Nossas ONGs, salvo exceção, são financiadas por estatais. Em geral, são “aparelhinhos” que empregam “companheiros” militantes Brasil afora.
Estamos submetidos a uma troyka maligna composta de políticos e outros altos agentes públicos + agentes econômicos + agentes financeiros (bancos da “lavanderia”), que são ladrões da alta sociedade que dominam o poder e o mantêm, porque quando não estamos distraídos e exaustos pelo trabalho ou mesmo pelo entretenimento, preferimos não abordar seriamente temas cruciais como o descontrole da inflação e das contas públicas, os aumentos de impostos e da gasolina, a falta de água e de luz, a insegurança pública, a violência, o financiamento das campanhas eleitorais caríssimas, a reeleição dos corruptos, a educação de péssima qualidade, os serviços públicos de quinta categoria etc.
Adicionalmente, a triste verdade é que a maioria da população sabe que a criminalidade organizada de alto coturno (granfina) está nos roubando da forma mais suja e vergonhosa que se pode imaginar, surrupiando parcelas percentuais a cada dia, porém todos os dias, por meio de milhares de transações fundadas em letras pequenas, mas ignora, ao mesmo tempo, que toda essa roubalheira estrutural não passa de sinais de um gigantesco sistema, ou seja, de um imenso mecanismo social de dominação (e de exercício de poder – ver Taibbi, Cleptopía: 60-61), que a quase totalidade dos brasileiros não sabe nem sequer que existe. Essa é a triste verdade! É uma verdade triste conviver com isso.
Artigo do professor Luiz Flávio Gomes