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Seca tem feito surgir comércio de aluguel de água no Sertão alagoano
A seca que castiga o Sertão de Alagoas tem feito surgir um comércio diferente na região, o aluguel de água. Para garantir que o rebanho não morra de sede, o agricultor desembolsa o pouco dinheiro que resta, ou procura manter a atividade rural em outro canto do país.
Nuvens que vão e que vem sem derramar uma gota d’água dão lugar à seca que torra o chão e castiga quem dele tira o sustento. Antônio dos Santos, pescador de carteirinha, olha para o maior açude do Sertão de Alagoas, que há uma década tinha 19 milhões de metros cúbicos d’água e muito peixe. Daqui saiam 15 mil quilos de tilápia por mês.
“Triste que estamos com mais de cinco anos que choveu o suficiente pra encher o açude, infelizmente tá desse jeito”, lamenta.
A água que resta está salgada, com pouco oxigênio. Os peixes morreram. Sem pesca, sem agricultura, o marido e os filhos de Rosilda da Silva foram se aventurar Brasil à fora. “Num tem trabalho, num tem nada para o povo aqui, aí tem que ganhar o mundo mesmo”.
Foi o que também fizeram mais de 70 moradores da vila perto do açude. Eles pegaram a estrada rumo ao Sudeste e o Centro-Oeste. Quem fica vai se virando como pode. Corta palma, puxa água do buraco aberto no leito do rio seco. É muito trabalho pra não ver o gado morrer de fome e de sede.
“A única água que a gente tem aqui é aquela ali que tá minando ali. Aqui por perto não tem água mais em canto nenhum. Aqui por perto secou já tudo”, disse o produtor de leite Luiz Fernando.
“Pra mais de 20 quilômetros eu vim tangendo esse gado pra cá, pra vê se salva ele aqui, por que aqui tem água”, falou outro produtor Flávio Luiz.
E se para eles tem que ser assim, lá vai mais uma boiada atravessando o Sertão, tentando escapar da morte. Muitas ficam pelo caminho, ou no meio do pasto. Situação que sem chover só se agrava. “Acabou a silagem. O pasto não existe mais, água não existe e agora a palma está mucha”, disse a presidente da Associação dos Produtores de Leite, Mércia Azarias.
E a produção de leite em onze municípios vai diminuindo a cada dia. “Caiu provavelmente de 40 a 60 mil litros dia, na região da Bacia Leiteira. Nós tirávamos por volta de 120 a 140 mil litros de leite por dia, hoje em dia tá por volta de 70 a 80 mil litros, é o que a gente tem hoje”, disse o técnico da cooperativa, Wanderlan Lima. .
Na área rural de minador do negrão, seu Demor Ferreira vende água do poço artesiano. O valor fica por R$ 25 o caminhão pipa. “Esse negócio de uma carroça, uma viagem d’água eu não cobro de ninguém. Só o caminhão, quando vem gente de fora, porque os caras já pegam do poço da gente pra vender pros fazendeiros. aí a gente vende porque a energia é meia cara e gente tem que salvar um pouquinho de dinheiro pra cobrir as contas de energia”, falou.
Já o seu Cláudio Pereira da Silva tem uma cacimba no sítio, de onde mina água do subsolo. Lá, ele faz questão de socorrer os vizinhos de graça, sempre que eles precisam. “Aqui é disponível, dada pela natureza, se precisar, na hora que precisar pode vir buscar”.
Fonte: G1 AL