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ENTREVISTA – José Ailton de Lima, Diretor de Operação da Chesf, fala sobre abastecimento de energia no Nordeste
O Diretor de Operação da Chesf, engenheiro José Ailton de Lima esteve em Paulo Afonso no dia 24 de Julho e reuniu a imprensa local para falar sobre a situação do rio São Francisco hoje e o abastecimento de energia no Nordeste.
Estavam presentes o jornal Folha Sertaneja (Antônio Galdino), o jornal Paulo Afonso Notícias (Jose Renaldo), a Rádio Betel FM (Thiago) e a TV São Francisco (Niedja e José Carlos).
O rio São Francisco passa por intenso período de poucas águas o que tem preocupado os que delas se utilizam ao longo dos quase 3 mil quilômetros de sua bacia, desde a nascente, em Minas Gerais até a sua foz entre Alagoas e Sergipe, depois de banhar ainda os Estados da Bahia e Pernambuco. Além do abastecimento humano e animal, suas águas são utilizadas para a irrigação, navegação, turismo, pesca e produção de energia elétrica.
Um destes preocupados é a Chesf que tem 95% de suas usinas hidrelétricas instaladas nesse rio com a capacidade de gerar 10 mil megawatts de energia de fonte hidráulica.
Em Paulo Afonso, onde a vazão do rio já ultrapassou os 15 mil metros cúbicos por segundo, hoje passam apenas 900 metros cúbicos por segundo e das cinco usinas instaladas e alimentadas pelo reservatório de Moxotó – Paulo Afonso, I, II, III e IV e Apolônio Sales – apenas duas máquinas da Usina PA-IV estão funcionando.
Falando para a imprensa de Paulo Afonso (no Memorial Chesf, dia 24 de Julho) o diretor de Operação da Chesf, engenheiro José Ailton de Lima confirmou que a situação é realmente delicada porque “o reservatório de Sobradinho (que tem capacidade para acumular 34 bilhões de metros cúbicos de água) está recebendo apenas 600 metros cúbicos de água por segundo e esta liberando 900 metros. E até Novembro não há perspectivas de chuva nesta região. Isso significa que em Novembro, Sobradinho vai estar com apenas 5% da sua capacidade”.
E acrescentou do diretor da Chesf:
“Em resumo, a nossa situação é: nós poupamos a água até onde foi possível, primeiro, com os 1.300(metros cúbicos por segundo). Se a gente estivesse gastando os 1.300, os nossos reservatórios já estariam zerados. Como a gente baixou para 900 é que vai esticar até novembro. Porque hoje o desafio nosso não é administrar a água para gerar energia, o desafio nosso é administrar a água que tem nos nossos reservatórios pra gente chegar em Novembro ainda com água que dê para recuperar até o próximo ciclo úmido, quando chove de novo.
Imprensa PA – E se não chover em Novembro?
José Ailton respondeu: “Nós não vamos trabalhar com essa hipótese catastrófica. No período úmido sempre chove alguma coisa. Historicamente não existe nenhuma condição em que nunca tenha chovido. Pode chover pouco mas sempre chove então, a gente acredita que quando chegar em Novembro, a gente pode até atravessar outro ano de dificuldade mas, isso não é possível prever hoje, e aí a gente vai administrar do jeito que der…” e completou: Esse é o quadro atual. A Chesf vem fazendo este esforço para a redução da vazão, o que foi, evidentemente realizado com a aprovação dos órgãos de controle como IBAMA, ANA, ANEEL. Todo mundo teve consciência que é preciso poupar água”.
Imprensa PA – E a produção de energia elétrica será impactada? E como fica o abastecimento de energia para o Nordeste?
José Ailton – Claro! Se eu tivesse água bastante eu estaria gerando mais. Eu tenho a capacidade de geração de 1.100 MW em Sobradinho e estou gerando 280, no máximo 300 (megawatts). Mas eu tenho dito que a energia não o problema nesse momento, porque eu tenho eólica, que está gerando mais que a energia que está vindo do Norte. Eu tenho térmica e tenho a própria geração hídrica, que está reduzida, mas existe.
Imprensa PA – Qual a importância da energia hidroelétrica da Chesf e do próprio rio São Francisco para o Nordeste hoje?
José Ailton- A hipótese da gente não ter água de jeito nenhum, a gente não trabalha com ela. Agora, como já podemos ver no Nordeste, o rio São Francisco vai perder importância como geração de energia elétrica. O Nordeste continuará contando com energia elétrica mas a base principal não vai ser o rio São Francisco, porque a tendência deste rio é suprir outros usos de suas águas, como abastecimento humano, irrigação, a pesca, turismo… Esses outros usos vão tomando cada vez mais importância e é natural que a geração de energia hidroelétrica vá perdendo a importância. E aí, não só a Chesf como o Governo tem se preocupado em buscar outras fontes alternativas de energia para o Nordeste.
Imprensa PA – Que outras fontes de energia abastecem o Nordeste hoje?
Jose Ailton – Hoje temos instalados quase 5 mil megawatts de energia eólica, ou seja, já temos metade de uma Chesf só de energia eólica. No final de 2016, vamos chegar a 7 mil e no final de 2018 vamos chegar a 10 mil megawatts, ou seja, outra Chesf. A Chesf já faz investimentos em energia eólica e solar. 1.000 megawatts de energia eólica estão em instalação hoje. Alguns já instalados até o final de Julho e até meados de 2016, todos esses megawatts devem estar no sistema Chesf.
E há inscritos 6 a 7 mil megawatts de energia solar para o próximo leilão nacional quando também vão ser leiloados 12 mil megawatts de energia eólica só na Bahia. O primeiro estado do Nordeste em potência ofertada é a Bahia e este é um detalhe interessante porque a gente olha mais a região litorânea, do Rio Grande do Norte e do Ceará mas, os melhores parques eólicos estão no interior da Bahia.
Imprensa PA – Por falar na Bahia, a imprensa nacional divulgou que o Parque Eólico da Chesf em Sento Sé, na Bahia, está concluído há mais de um ano e não funciona porque não há linhas de transmissão nem subestações. Como se explica isso? Foi falta de investimentos do governo federal?
José Ailton – Vamos esclarecer esta questão aí. A gente tem algumas questões localizadas em que o parque eólico está pronto e a subestação e a linha de transmissão, em geral a linha de transmissão, não está pronta. Há situações em que o parque eólico não é da Chesf e a subestação e as linhas são da Chesf. E isso tem acontecido não por falta de recursos, mas por dificuldades de licenciamento ambiental, fundiário, coisas que atrasam o projeto. Até o final do ano a gente deve sanar esses percalços e estes parques devem entrar em operação sem problemas. Só posso fazer a obra se eu tiver licença ambiental.
Imprensa PA – Estas novas formas vão substituir a energia de fonte hidráulica?
José Ailton – Não! Absolutamente. No Brasil, a energia hidráulica tem muita perspectiva. Estou falando da perspectiva do rio São Francisco.
Imprensa PA – Voltando ao problema da água. O rio São Francisco está numa tendência de redução da vasão. Isso é irreversível. A Chesf, ela saindo da produção dessa energia hidráulica, ela tem um plano para aproveitar o rio para outros fins?
José Ailton – Veja bem, o que eu disse foi, a tendência, a médio e longo prazo é a energia hidroelétrica perder participação, não disse que vai sair. Por exemplo: a Usina de Xingó gera 3.000, vai continuar gerando 3000. Se cair a vasão? Veja bem, isso é um problema que acontecerá sempre, mas eu não disse que a vasão ia cair. A gente pode estar fazendo uma leitura catastrófica, vendo o momento atual. No momento atual a gente está com uma das secas mais críticas dos últimos 90 anos de história das medições da vasão do rio São Francisco. É uma crise hídrica, estou com falta d´água, o que não quer dizer quem em novembro também vai estar.
Imprensa PA – Há trechos do rio São Francisco em Alagoas e Sergipe que dá pra se passar a pé. A gente não tem essa ideia aqui em Paulo Afonso porque aqui são grandes lagos, barragens. Não seria o caso de se estudar a possibilidade da transposição do rio Tocantins para revitalizar o são Francisco, como se falava antes? Há uma possibilidade disso vir acontecer?
José Ailton – Há. Não é um projeto para curtíssimo prazo mas é um projeto que eu acho que o Brasil vai perseguir ao longo do tempo, fazer a interligação da bacia do Tucuruí com a bacia do São Francisco. E não é impossível, A engenharia já tem tecnologia e com a obra de transposição do rio São Francisco a gente ganhou mais experiência. A interligação destas bacias é uma obra para alguns anos mas não é impossível e deve ser perseguida. Porque só trazer energia do norte pra cá já não está resolvendo. Nós precisamos realmente fortalecer a bacia do São Francisco.
Imprensa PA – O Senhor vê algum risco de falta de energia prolongada no Nordeste?
José Ailton – Do ponto de vista do atendimento à sociedade hoje não tem nenhum risco de desabastecimento. O Nordeste hoje não depende só da energia hidroelétrica da Chesf. Além dos 10 mil megawatts da energia da Chesf há 5 mil megawatts de energia eólica e 6 mil de energia térmica e ainda a energia que recebemos no Norte. Ou seja, o Nordeste de hoje não é o de 20 anos atrás.
Com Antônio Galdino