Pagamento de propina era a ‘regra do jogo’ na Lava Jato, diz Sérgio Moro

 Pagamento de propina era a ‘regra do jogo’ na Lava Jato, diz Sérgio Moro

O juiz federal Sérgio Moro participou nesta segunda (31) do Fórum Exame “Prepare-se para Planejar 2016 e Superar a Crise” (Foto: Felipe Rau / Estadão Conteúdo)

Juiz responsável pelo caso na primeira instância participou de evento em SP. Declaração do magistrado se baseou em relatos de delatores do esquema.

Responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, o juiz federal Sérgio Moro afirmou nesta segunda-feira (31), em São Paulo, que ouviu de diversos delatores do esquema de corrupção que atuava na Petrobras que o pagamento da propina em contratos da estatal era uma espécie de “regra do jogo”. O magistrado paranaense participou na manhã desta segunda de um fórum na capital paulista que também terá a presença do vice-presidente Michel Temer.

O juiz federal Sérgio Moro participou nesta segunda (31) do Fórum Exame “Prepare-se para Planejar 2016 e Superar a Crise” (Foto: Felipe Rau / Estadão Conteúdo)
O juiz federal Sérgio Moro participou nesta segunda (31) do Fórum Exame “Prepare-se para Planejar 2016 e Superar a Crise” (Foto: Felipe Rau / Estadão Conteúdo)

Na visão de Moro, o país está em um quadro de “corrupção sistêmica”, que tem “custos” e, se não for combatido, “tende a crescer”. O juiz defendeu que sejam tomadas medidas para estancar a “hemorragia” da corrupção nos cofres públicos.  De acordo com ele, o custo da corrupção “sempre impacta a eficiência da economia”.

“É bastante interessante ouvir os colaboradoras, e há uma dificuldade de se esclarecer por que que se pagava propina [na Petrobras]. Eles dizem que é a regra do jogo e que esta prevalecia, a regra do jogo era o pagamento de 1 a 2% de propina para contratos. Será que o recebimento de propina não foi o custo de investimentos mal-sucedidos?”, questionou Moro no Fórum Exame “Prepare-se para Planejar 2016 e Superar a Crise”.

“Todo grande contrato da Petrobras envolvia um percentual de propina aos dirigentes da empresa e a políticos”, destacou o juiz.

Apesar de a Lava Jato ter colocado atrás das grades empresários, dirigentes de estatais e políticos, o magistrado do Paraná advertiu no evento que não será uma operação policial isolada que irá alterar completamente o quadro político do país. No entanto, ele ponderou que a investigação do esquema de corrupção que agia na Petrobras fornece uma oportunidade de mudança, fortalecendo as instituições públicas.

O magistrado disse ainda que, às vezes, ouve comentários de que a Lava a Jato tem “parcela de culpa” na atual situação política e econômica brasileira.

“O policial que descobre o cadáver não é culpado de homicídio”, ironizou. “Corrupção envolve quem paga e quem recebe, há um agente privado cedendo à tentação de pagamentos. Quem adere à propina, prejudica todo mercado”, complementou Moro.

‘Perda de confiança’

Em meio à palestra, Sérgio Moro ressaltou que o pagamento de propinas gera “perda de confiança” da opinião pública e no mercado, especialmente de empresas que participam de licitações públicas. “Pensem no impacto disso na nossa economia”, enfatizou.

Para o juiz, no longo prazo, o enfrentamento da corrupção sistêmica trará ganhos ao país.

“A corrupção, como um crime, como um desvio do ser humano, é um tipo de crime que sempre vai acontecer. Remonta tempos imemoriais e sempre vai acontecer, não importa o que façamos como instituições, a não ser que, no futuro muito distante, nos transformemos em anjos, mas isto não está próximo”, opinou o juiz.

Tahiane Stochero

Do G1, em São Paulo

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