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A situação de Petição de Miséria do país e a prataria da Presidência da República
O dicionário registra que petição de miséria era um recurso usado pelas pessoas inadimplentes. O peticionário buscava uma declaração oficial de que não podia pagar as suas contas. Em outras palavras, com os bolsos vazios, queria justificar o não pagamento dos seus débitos; débitos feitos, provavelmente com irresponsabilidade, por ele mesmo. Esse “ele” para nós, neste momento, é o Brasil, aquele Brasil que Clemenceau previu, há mais ou menos um século, que seria o eterno país do futuro. Esta é, assim, a nossa sina.
Pois não é que na situação de miséria em nos encontramos prevista pelos que acreditam que em assuntos de matemática não há milagres, pelo que foi publicado na mídia, alguém chega e dá um tiro no pé do governo desse país na pindaíba? Um iluminado lá de dentro – mais um – simplesmente propôs, ingenuamente propôs, a compra de peças de prataria para os banquetes da Presidência da República no valor aproximado de R$200.000,00 (duzentos mil reais). Um simplório tiro no próprio pé, ou uma tentativa sutil de solapar as bases do governo a que deveria servir com lealdade.
Alguém que surge com tal proposta quando a economia do Brasil nos força a matar cachorro a tapa merece, no mínimo, a demissão sumária. Talvez uma execução imediata por alta traição. Lá para trás, Maria Antonieta pouco se dava para a situação de fome dos franceses. Perdeu a cabeça junto com Luís XVI. A dela rolou mais ligeiro. A de Luís XVI, de pescoço mais duro, rolou na terceira tentativa. Na Argentina dos meados do século 20, Eva Peron justificava a posse de 3.000 pares de sapatos. A defensora dos descamisados, a sua rainha, não podia andar aos trapos. O povo merecia uma rainha jovem, bela e bem vestida no esplendor da Suiça da América do Sul. Dilma, a nossa rainha, mereceria baixelas e alfaias de prata. Para nós outros, meras cuias descartadas.
A crise, a despeito de não ter sido consequência das ações e decisões de nós outros, requer um pouco de sacrifício de todos. Pagaremos novos impostos se para sairmos da crise isto for necessário. Pagaremos novamente resignados. Não querem taxar os lucros de alguns poderosos privilegiados. Não querem inserir no imposto de renda as gratificações dos executivos das empresas. Não cogitam aumentar o imposto das heranças nem das transmissões de bens; bens de consumo ou artigos de luxo. De novo e mais uma vez, pagaremos nós.
Poderíamos, novamente, estar pregando o que vimos numa grande praça de Lisboa em um grande cartaz, bem grande para quem usa os olhos para ver: “Cadeia para os que endividaram o país”. Poderíamos acrescentar: cadeia para os que gastaram mais, muito mais, do que arrecadaram. Cadeia braba. Não aquela cadeia da prisão domiciliar. Cadeia de masmorra para quem irresponsavelmente nos trouxe a essa situação de pendanga insuportável.
Muito a contragosto encerramos dizendo que o nosso temor é que o pior, o muito pior, o roer a beira do sino está por vir.
Francisco Nery Júnior
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Parabéns ao competente professor Francisco Nery pelo excelente comentá
rio. Com sua experiência de professor e ótimo comentarista, descreveu em
poucas palavras, o que a maioria dos brasileiros como eu,, gostariam de fa zer.