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Finalizada a disputa política na Lavagem do Bonfim, o governador Rui Costa (PT) e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), se preparam para medir forças mais uma vez neste ano de eleições, desta vez no Carnaval, historicamente uma arena de conflitos e disputas.
Nas festas populares, os discursos dos políticos são repetidos ano a ano, quase sempre na tentativa de “despolitizar” os festejos. “Hoje é dia de Bonfim” ou “em carnaval não se fala de política” são frases ouvidas frequentemente.
O fenômeno das festas como espaços de disputa política, porém, está longe de ser uma característica contemporânea. “Sempre foi assim e não imagino que isso será eliminado. Acho que é o do DNA de festas como o Carnaval”, diz o professor Paulo Miguez, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas.
Carnaval dos anjos
Segundo Miguez, existe até mesmo uma imagem equivocada de carnavais antigos como “espaços angelicais”. “Isso não é verdade. Acho que algumas coisas ganharam mais visibilidade, escancaradas nas redes sociais, e as disputas terminam amplificadas”, afirma.
Ele menciona embates do começo do século passado, entre o Carnaval das elites e o Carnaval popular, e cita a disputa por espaço nas ruas, lembrando a discussão mais atual sobre o tamanho das cordas. “Não há um carnaval sem conflitos”, sentencia.
Outra festa que costuma ser lembrada pelo clima de tensão – ou, nas palavras do senador Otto Alencar (PSD), pela “guerrinha da oposição com o governo” – é o Dois de Julho.
Ex-carlista, Otto lembra provocações do então senador Antônio Carlos Magalhães feitas no início dos anos 90 à então prefeita da capital baiana, Lídice da Mata. Com um cortejo maior, ele ironizou o tamanho do grupo que acompanharia a adversária.
“Ele olhou para Lídice e Bete Wagner e falou: ‘Vocês vão sozinhas, né?’. Ela virou e disse: ‘Me respeite. Eu sou prefeita de Salvador’. Eu tinha uma foto desse momento e dei a Lídice”, conta Otto, hoje aliado da ex-prefeita.
Influência eleitoral
O cientista político Paulo Fábio Dantas, professor da Ufba, reforça a ideia de que as festas populares servem para políticos e partidos avaliarem a repercussão das estratégias que desenvolvem na política.
“É um momento do político encontrar gente, ouvir o que as pessoas estão pensando. Faz parte da vida política”, diz o deputado federal José Carlos Aleluia, presidente do DEM na Bahia.
Para o cientista político, é “compreensível” que o Carnaval, antes de tudo uma manifestação cultural, se torne alvo de estratégias políticas de atores individuais e coletivos em busca de legitimação popular.
Uma legitimação que tem também um forte sentido eleitoral para políticos e partidos. “Isso, a meu ver, não é uma perversão, ou qualquer tipo de patologia. É uma condição intrínseca da competição política. Assim como o artista, o político precisa e deve ir aonde o povo está”, afirma Dantas.
Para Miguez, a relação entre política e Carnaval é tanta que uma festa mal organizada pode trazer consequências para os gestores.
“Em uma cidade como Salvador, um governador ou um prefeito que não saibam fazer a festa podem pagar um preço elevado”, argumenta o professor.
Segundo ele, a importância do Carnaval para a capital baiana é o mesmo do São João em cidades do interior da Bahia. “Não há um prefeito de cidade do interior que não tente fazer o São João aparecer como uma joia da coroa”, compara.
Rodrigo Aguiar