João Bosco & Vinícius lança projeto e critica as músicas de duplo sentido

 João Bosco & Vinícius lança projeto e critica as músicas de duplo sentido

A dupla João Bosco & Vinícius lançou na sexta-feira (21) o álbum e DVD “Céu de São Paulo”. Com participações de Cesar Menotti & Fabiano, Jorge & Mateus e Henrique & Juliano, além de regravações e inéditas, o novo projeto contou com uma produção gigantesca e já contabiliza milhões de visualizações nos clipes divulgados no YouTube. Com inúmeros telões distribuídos pelo cenário que interagem com as músicas e um palco recortado e moderno, o trabalho demorou 2 anos para finalmente sair do papel.joao-bosco-e-vinicius

Considerados os “pais” do sertanejo universitário, a dupla está há quase 10 anos como uma das referências no gênero. O cantor Vinícius conversou com o UOL sobre o novo trabalho, falou do sucesso do sertanejo e criticou a música feita para virar sucesso momentâneo: “Tem coisa boa e coisa ruim pra c*****”.

Leia abaixo alguns trechos da entrevista.

“Céu de São Paulo” tem uma produção caprichada. Qual foi a participação da dupla nesse novo projeto?

Na verdade, tivemos um prazo de 2 anos para ficar pronto, porque depois que nós lançamos o álbum “Indescritível”, ficamos produzindo “Estrada de Chão” [último álbum da dupla com participação de grandes ícones do sertanejo como Cezar & Paulinho, Leonardo e Chitãozinho & Xororó] . Então não colocamos prazo para o “Céu de São Paulo”, mas por outro lado deu um gás para a gente respirar um pouco e procurar músicas inéditas para captar esse repertório.

Reunimos 20 faixas, inclusive uma regravação de “Perigo”, da Zizi Possi, sucesso na década de 70. Regravamos alguns sucessos também, como “O Fora”, que gravamos em 2007 e fizemos uma releitura para o público que acompanha o nosso trabalho. E claro tem as inéditas e as parcerias com o Jorge & Mateus, César Menotti & Fabiano e Henrique & Juliano.

Qual foi o papel do produtor artístico Fernando Trevisan Catatau no novo trabalho?

Um dia a gente fez uma reunião com o Fernando Trevisan Catatau, quando ele apresentou esse projeto cenográfico. Ele falou para a gente que tinha um desenho na cabeça, bem bacana, com painéis, visual 3D, de qualquer ângulo daria para ver as imagens. Toda ideia cenográfica partiu do Catatatau. Fomos um dos primeiros artistas sertanejos dele em “Coração apaixonou”, que foi uma grande vitrine para a dupla. Quando ele apresentou a ideia, era exatamente o que a gente tinha pensado e casou bem.

A gente fez uma banda bem alternativa para esse projeto. Quisemos pegar uma galera nova, que trabalha bastante, mas não são as figuras carimbadas. Sem dizer o Euler coelho e o Flavinho Coelho que fazem parte da banda e ainda são compositores. O Euler começou a tocar com a gente nos barzinhos e depois pegou a parte burocrática. Ele produziu os arranjos e o irmão é o responsável pelo violão característico da dupla João Bosco & Vinícius.

Com o mercado sertanejo abarrotado, a pressão em lançar música nova é grande?

Está mais difícil, porque a música evoluiu. Com as mídias sociais, o prazo de validade de uma música é mais curto. Antes a gente lançava um projeto e em algumas regiões do país demorava meses para chegar. Mas agora todo mundo tem acesso e isso faz com que a gente acelere os prazos. Antes os projetos duravam mais e o surgimento de muitos artistas acaba colocando uma pressão também. Quando começamos lá atrás, praticamente disputávamos com Cesar Menotti & Fabiano e Victor & Leo. Então todos esses artistas novos que estão fazendo material novo disputam com a gente.

Vocês se sentem os “pais” do sertanejo universitário?

O nome ‘sertanejo universitário’ foi um rótulo que o pessoal colocou no nosso trabalho, porque éramos universitários quando surgimos na música [João fazia odontologia e Vinícius, fisioterapia], e 80% do nosso público vinha das universidades. Até então fazíamos show no Mato Grosso do Sul e as primeiras apresentações fora, em 2003 e 2004, eram promovidos por formatura e universitários. Era um público que tinha mais acesso, acompanhava mais o trabalho pela identificação mesmo.

E a renovação do sertanejo?

Às vezes, as pessoas mais leigas falam da musicalidade do sertanejo universitário. Por exemplo, nunca gravamos música de duplo sentido. O primeiro CD nosso foi 90% de regravações. Há uma confusão quando falam sertanejo universitário com o som e a sonoridade, mas sempre viemos de uma escola mais antiga. Nossa escola musical foi muito boa. As letras do chamado sertanejo de raiz não são complexas, mas a gente sempre se identifica quando falam do campo e do amor.

Você falou das músicas de duplo sentido. Você é contra esse novo movimento do sertanejo?

Não sou contra. Acho que a música não tem rótulo, não tem barreira. Mas eu não concordo com os artistas que gravam essas músicas pensando no sucesso momentâneo. Vai lá e grava a música para estourar 5 meses, mas e depois? Tem espaço para todo mundo, assim como qualquer segmento tem espaço para coisas diferentes. Tem gente boa e gente ruim. A música sertaneja de alguns anos para cá deu um plus. Isso foi importante para manter o estilo em evidência. Faz quase 10 anos que as pessoas questionam até onde vai durar o sertanejo. Esses artistas novos mantem o gênero lá em cima. Tem coisa boa e coisa ruim pra c***** (risos).

Qual a importância do YouTube para as duplas sertanejas?

O YouTube é uma ferramenta importantíssima que vem crescendo nos últimos anos e virou uma plataforma, do mesmo jeito que a gente explora o rádio e a televisão. Mas o show é a galinha dos ovos de ouro. O artista que não trabalha na noite, que não faz show, não vai para frente. Se eu fosse depender só do YouTube, não conseguiria me sustentar. Mas é um complemento, vem crescendo e serve como termômetro.

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

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