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Entrevista: Pe. Celso fala do câncer, diz que vai embora para Alemanha vai lutar pela vida e conforta: ‘Cristo nos uniu’
Pe. Celso Anunciação é cidadão pauloafonsino, honraria concebida pela Câmara Municipal, há dois anos. Vai embora para Alemanha e deixa 13 anos de convivência entre as comunidades rurais e a cidade, uma ação pastoral que se concentrou, sobretudo, no apoio às pessoas, em ouvir, aconselhar, afagar, cuidar e construir.
Pe. Celso construiu muitas coisas, as visíveis e àquelas que ficam no coração. Para se medir sua preocupação, a última festa de São Francisco de Assis, padroeiro de Paulo Afonso, custou R$ 100 mil, sem um centavo do dinheiro público. Diagnosticado com câncer há onze anos, Pe. Celso, como ele gosta de dizer, vai lutar pela vida, e vai seguir, me recebeu em sua casa, nesta segunda-feira (23), enquanto organiza suas malas, livros etc,. e conversou sobre sua preocupação com a doença, novas possibilidades de tratamento e mandou mensagem aos pauloafonsinos: ‘Cristo nos uniu’.
Cumpre sua agenda com celebrações na área rural, e separou o próximo dia 19, para suas missas de despedida, pela manhã, às 7 horas na paróquia de São Francisco e à noite, às 19 horas, na comunidade de São Loureço, no BNH. Leiam a entrevista de Pe. Celso na íntegra, abaixo:
Em que momento o senhor decidiu que realmente precisaria ir embora e optou pela Alemanha?
Eu tenho um problema de saúde, e há três anos eu fiz uma cirurgia no pulmão e desde esse período eu já havia falado com dom Guido sobre a possibilidade de rever o trabalho da paróquia, São Francisco é uma paróquia muito grande, são 28 comunidades rurais e agora três paróquias na sede, e eu sempre pensei nisso numa forma de organizar melhor o trabalho, tentei algumas vezes com alguns padres, porém, essas tentativas precisariam de um trabalho melhor da diocese, que não teve. Eu já tinha comunicado a ele que precisa, bem como esperava outra proposta de trabalho em outros locais, foi pensado uma proposta em Paripiranga (paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio), mas também lá não amadureceu a ideia, e a gente fica assim sem proposta, né, então eu tive que pensar na minha vida de uma forma que eu possa cuidar da minha saúde, e que eu possa fazer também uma experiência pastoral. Pois aqui está crescendo o trabalho e analisando estes fatores eu achei que o mais prudente seria deixar por um tempo aqui a diocese.
O senhor promovia palestras com pessoas que têm câncer, falava da importância de se fazer o tratamento o mais rápido possível e, de certa forma, lhes dava conforto para conviver com a doença, como está sua vida, depois de 11 anos tratando sua doença?
Agora eu preciso de um tratamento específico porque tenho nódulos no pulmão, e eles podem crescer, então preciso conter, mas não com cirurgias, e aqui em Salvador o que eles podem fazer são cirurgias, e essas cirurgias deixam sequelas, você fica limitado, terei uma vida muito reduzida, vou tentar um tratamento que não seja com cirurgias, eu agora vou tentar com agulhas que fazem de forma localizado em cada tumor, não é tão agressivo. O câncer é uma doença que se você enfrentar existem possibilidades, muitas pessoas quando descobrem se assustam, mas ao começar o tratamento vem as possibilidades. De dois anos para cá, eu passei a falar muito com as pessoas – antes eu não falava, mas passei a falar com esse sentido, e olhar para Jesus Cristo que enfrentou à vida até o fim. Então é isso, precisa enfrentar sempre.
Muitas vezes padre, além da doença, vem os problemas de família, o sistema de saúde que não dá conta, como foi a descoberta no seu caso?
É porque um câncer quando doí já tem uns dez anos, já se enraizou, então o meu começou a aparecer numa parte exterior – fazendo a barba percebi um nódulo na garganta, senti uma bolinha, fizeram a cirurgia e descobriram, então eu tive a sorte de descobrir a partir de um elemento externo, enfrento. Às famílias que padecem, eu digo sempre, Cristo teve a Cruz, todos nós temos a nossa, vamos oferecer nosso sofrimento a Deus, sem medo.
Isto à parte, o senhor tocou o serviço pastoral, sempre com festas grandiosas, bem como seu trabalho cotidiano nas comunidades, como se a doença não fosse seu limite.
Não é. Não podemos colocar limites, sem falar nas pessoas maravilhosas que encontrei, aqui em Paulo Afonso temos pessoas maravilhosas nas comunidades rurais, encontrei aqui na cidade pessoas carinhosas que me deram um estimulo muito grande, eu gosto do sertão, do rio São Francisco, acho que nós temos aqui riquezas que estimulam para a vida, e para a gente partilhar o sentido da vida, além da palavra de Deus que é a fonte para enfrentarmos tudo.
Toda despedida é triste, qualquer que seja o motivo, mas aí vem o próximo pároco – é ansiedade de todos e acredito que sua-, nesse sentido, qual é a sua expectativa tanto pelo tralho do que irá lhe substituir e também a acolhida do povo?
Olha, minha expectativa é essa: que seja uma pessoa que olhe como é a vida aqui no sertão, que olhe a necessidade das comunidades, o que as pessoas necessitam, o que a Igreja agora necessita, eu não penso que tenha que continuar o que eu fiz, cada um faz o que é possível, eu tenho tantos limites, tantas coisas eu não conseguir fazer. Mas eu penso sempre isso, que Jesus passou parte da vida dele olhando o que o povo necessitava, eu acho que é aí que a gente acerta. O que as pessoas necessitam?, o povo da roça, das comunidades?, da cidade e de Paulo Afonso, a gente acerta quando escolhemos pelo outro e não por nós, eu penso assim e eu espero que continue a vida com a mesma vitalidade, que construam coisas.
Bom, o senhor disse que fala algumas coisas em alemão, então como está a adaptação?
Já havia viajado, um lugar diferente. Não sei o tempo que vou ficar lá, nem sei como vai ser, mas já fiz algumas visitas, já tive um tempo lá, também me foi oferecido um trabalho lá para eu produzir textos como os da campanha da Fraternidade que já fizemos aqui, para a Advento, o mês da bíblia, coisas que eu gosto de fazer… E é isso.
Agora, padre escritor, desejo sorte e sucesso, que dê tudo certo e continue assim, se quiser dizer mais alguma coisa, pois esse povo vai chorar muito (risos).
Eu quero dizer ao povo de Paulo Afonso que o amor de Cristo nos uniu, acima de tudo o amor de Cristo nos uniu, Paulo Afonso é uma cidade interessante porque dom Mário sempre queria que eu viesse para cá, tínhamos uma amizade muito grande, uma proximidade muito grande, vim com dom Esmeraldo, e acho que o pensamento de dom Mário se realizou, porque encontrei pessoas muito interessantes, mas eu preciso me recolher agora, e por isso eu preciso ir. Deixo um abraço muito grande com a certeza que Cristo nos uniu e a vida vai continuar, a gente tem que lutar por ela, a vitória é a gente lutar sempre, unidos e unidos por Jesus Cristo.
Pascom.