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Joesley Batista reafirma as denúncias que fez contra Temer
Em entrevista à revista Época, o dono da JBS se refere a Michel Temer como o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil.A revista Época publicou, na edição de sábado (17/06), a primeira entrevista com Joesley Batista depois que a delação do empresário provocou um terremoto político no Brasil. Na entrevista, Joesley confirmou, com detalhes, denúncias que fez ao Ministério Público Federal contra Michel Temer, a quem se referiu como “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”. O dono da JBS também repetiu que Temer queria o silêncio de Eduardo Cunha e deu mais informações sobre a gravação que fez com o presidente, no Palácio do Jaburu.
Joesley Batista falou, ainda, do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Lula, que acusou de terem institucionalizado a corrupção, espalhando organizações criminosas por ministérios, estados e empresas estatais. Falou também de integrantes do PMDB, que classificou como uma turma muito perigosa. E de Aécio Neves, do PSDB, que, segundo o empresário, é tão corrupto quanto os outros. Vamos ver agora os principais trechos da reportagem de Época.
Joesley Batista começa explicando como e quando os políticos começaram a se organizar no que chama de organizações criminosas. Para ele, tudo que estamos assistindo hoje se iniciou há 10, 15 anos, quando começaram a surgir grupos com divisão de tarefas: um chefe, um operador, um tesoureiro. Organizações criminosas que existem para ganhar dinheiro cometendo crimes. Em cada estado, não todos, nas estatais, nos fundos de pensão das estatais e nos ministérios de Brasília.
Joesley diz que Lula e o PT institucionalizaram a corrupção
Joesley afirma que este processo começou no governo do PT. Que Lula e o PT institucionalizaram a corrupção com criação de núcleos, divisão de tarefas entre os integrantes, em estados, ministérios, fundos de pensão, bancos, BNDES. O resultado é que hoje o estado brasileiro está dominado por organizações criminosas. O modelo do PT foi reproduzido por outros partidos.
Joesley disse que na maioria dos casos os pagamentos viraram uma obrigação. E citou o exemplo de Guido Mantega, ex-ministro da fazenda nos governos Lula e Dilma, do PT. Ele disse: “Olhe o caso do Guido. O BNDES comprou ações e investiu na sua empresa. Como você não vai me dar dinheiro?”
A revista perguntou se isso funcionava como se fosse um contrato informal. Joesley respondeu: isso. Mas acrescentou que ele e a JBS nunca pagaram um centavo de propina dentro do BNDES. Do presidente Luciano Coutinho ao técnico mais júnior. Joesley afirmou que todas as relações que tinha no BNDES eram republicanas.
A revista perguntou: “Se tudo era tão republicano no BNDES, por que então pagar Guido Mantega e o PT?”
Joesley respondeu que pagava porque estava nas mãos deles. Que era só o Guido dizer no BNDES que não era mais do interesse do governo investir no agronegócio e pronto. Segundo Joesley, bastava uma mudança de diretriz de governo para acabar com o negócio.
Joesley explica o esquema de propina de Eduardo Cunha e de Lucio Funaro
O empresário disse à Época que foi chantageado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e pelo doleiro Lucio Funaro. Afirmou que se não aceitasse pagar aos dois, o crédito legítimo que tinha pedido na Caixa Econômica Federal não era apreciado. E citou um exemplo. Disse que deu entrada em um financiamento do FI-FGTS da Caixa, mas que o vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, indicado por Funaro e Eduardo Cunha, descobriu. Que foi então que Lúcio Funaro entrou na vida dele. E que o modus operandi sempre foi assim: ele tentava fazer operações na Caixa, o Lúcio descobria e dizia a ele: “vai ter os 3%, né?”. E aí tinha que pagar. Um toma-lá-dá-cá muito às claras. Paga os 3% e o financiamento passa no comitê. Se não paga, alguém pede vista.
Joesley destaca o papel das campanhas eleitorais no esquema
O empresário disse que campanha permite ao político sair pedindo dinheiro. E o que ele faz com o dinheiro não se sabe. É por isso que os partidos se multiplicaram. Ter partido dá oportunidade de fazer negócio escuso. Como o partido maior precisa do partido menor para fazer coligação, vira balcão, vira ‘orcrim’, organização criminosa.
Joesley reafirma que pagou pelo silêncio de Eduardo Cunha
Joesley também confirmou que manteve pagamentos a Eduardo Cunha e Lucio Funaro mesmo depois que eles foram presos.
Disse que virou refém de dois presidiários. Que quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado, Eduardo Cunha pediu R$ 5 milhões. Dez dias depois, Cunha foi preso. Joesley contou que antes de ser preso, Cunha tinha indicado um homem chamado Altair como mensageiro. Passou um mês, o Altair apareceu, disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. Joesley contou que foi pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016.
Joesley contou que para o caso de ser preso Lucio Funaro indicou como mensageiro primeiro um irmão, depois a irmã. E que seguiu pagando mesada. E que Eduardo Cunha e Lucio Funaro diziam que confiavam nele, pediam para que ele cuidasse da família deles e afirmavam que não o delatariam. E que mandavam recados, “você está cumprindo tudo direitinho, não vão te delatar”.
Joesley afirma que Temer tinha um mensageiro para se assegurar do silêncio de Cunha
Joesley disse que toda hora era procurado pelo mensageiro do presidente para garantir que ele estava mantendo esse sistema.
Joesley disse que este mensageiro do presidente era o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que o procurava de 15 em 15 dias em uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se Joesley estava cuidando dos dois e dizendo que o presidente estava preocupado e quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio Calmos era ele.
A revista perguntou se o ministro Geddel falava em nome do presidente Temer.
Joesley respondeu que sem dúvida. Que depois que o Eduardo Cunha foi preso, manteve a interlocução desses assuntos via Geddel. E que ele informava o presidente por meio do Geddel. E Geddel sabia que Joesley estava pagando o Lúcio e o Eduardo.
Joesley conta que antes de delatar acreditou que se livraria da justiça com a anistia ao caixa 2 e com a lei de abuso de autoridade
Na entrevista, Joesley disse que até o fim do ano passado, continuava conversando bastante com os políticos tentando entender qual seria a solução para o seu problema.
E que até dezembro, acreditou-se que a solução seria aprovar a anistia ao caixa 2 e a lei de abuso de autoridade. Com a lei do abuso, acreditava-se que se iria segurar a Lava Jato. E com a anistia ao caixa 2, acreditava-se que se legalizavam as coisas erradas do passado.
Época perguntou quem comandava esse movimento. Joesley respondeu que era o presidente Temer. Que cabia a Geddel articular a anistia ao caixa 2 e a Renan o projeto de abuso de autoridade. Mas que os dois assuntos morreram. A recuperação econômica começou a vir, o brasileiro não iria mais para a rua e eles poderiam abafar a Lava Jato.
Joesley explica por que decidiu delatar
A revista questionou se foi aí que veio a decisão de tentar a delação. Joesley exclamou: “iríamos esperar o quê? Ser presos, a empresa quebrar, causar desemprego, dar prejuízo ao BNDES, à Caixa, ao mercado de capitais, aos credores?”.
E acrescentou que quando percebeu que as coisas não iam mudar e não havia o que esperar, que os políticos não estavam entendendo o que estava acontecendo com o país, começou a registrar as conversas dele. E foi no Temer.
Joesley diz que gravou Temer para saber se o presidente continuava querendo o silêncio de Cunha
Disse que queria entender se ele (Temer) tinha alguma solução. E que continuar pagando o silêncio do Eduardo Cunha e do Lúcio Funaro estava errado e não ia resolver o problema.
Época perguntou se Joesley queria ter certeza de que Temer continuava concordando em pagar o silêncio dos dois.
O empresário respondeu que queria ter certeza de que essa agenda ainda era do Temer. Joesley se perguntou: “de repente eu chegava lá e o Temer dizia: ‘não, Joesley, para, não precisa mais não’. Mas ele disse tinha que continuar isso. E digo para ele que as minhas soluções não são duradouras. Não é sustentável. Ele vira para mim e diz: você está no caminho certo. Fiquei ainda mais preocupado. Estava sem interlocução. Aí ele falou do Rodrigo Rocha Loures”.
Época perguntou por que ele decidiu gravar o presidente.
Joesley respondeu que sabia que estava aumentando a chance de trocar de lado e partir para a colaboração com o Ministério Público. Que era a única saída que estava enxergando. Que a maneira mais efetiva que ele tinha de colaborar no combate à corrupção no Brasil era mostrar para os procuradores que, apesar de três anos de esforços, nada mudou. Tudo continua igual. Os políticos, no topo, não mudaram nada. Isso começa com o número 1, com o presidente da República.
Joesley diz que Aécio Neves, do PSDB, usava os mesmos métodos corruptos
Época perguntou então quem é o número 2. Joesley disse que é o Aécio, porque era a alternativa. Teve 48% dos votos dos brasileiros. E que precisava fazer uma ação que fosse indiscutível para o entendimento da população e do MP. Registrar como se dão as conversas com o número 1 da República e com o número 2, que seria a alternativa ao 1. Se o Brasil não entendesse que o 2 era igual ao 1, o Brasil ia achar que a solução era substituir o 1 pelo 2. Mas o 2 é do mesmo sistema.
Joesley contou que tanto PT quanto PSDB usaram o mesmo sistema: caixa 2, nota fria, compra de coligação. Que calculou que ia precisar do apoio do Aécio se ele fosse eleito. Aécio pediu para dar R$ 50 milhões no primeiro e R$ 50 milhões no segundo turno. E tentou trazer o PR para o lado dele por R$ 40 milhões. Joesley disse que já havia se preparado para pagar. Mas que então o PR apareceu através do PT, cobrando R$ 40 milhões. Segundo Joesley, Aécio disse que tentou fazer por 35, mas que o PT cobriu os 40. Joesley disse numa exclamação: “e nós pagamos. Pode isso?”
Joesley afirma: a gravação do Jaburu não foi editada
Perguntado se o áudio gravado no Palácio do Jaburu entre ele e o presidente Temer foi adulterado, Joesley respondeu enfático que de modo algum. Zero. Zero. Podem fazer todas as perícias do mundo. Tentam desqualificar o áudio por desespero. Gravar uma pessoa não é algo trivial. É duro, doído, forte. Mas que a única coisa que o conforta nessa história de ter gravado é que registrou o que eles falaram. Não botou palavra na boca de ninguém. Joesley se perguntou: “se mesmo com toda a robustez das provas nós já estamos sendo perseguidos, imagine se fosse só o meu testemunho. Se isso fica só da minha boca?”
Perguntado porque não gravou Lula, se, não seria importante para o país, Joesley respondeu que nunca teve conversa não republicana com Lula. Que esteve com ele duas vezes, em 2006 e 2013. Que o contato era o Guido Mantega, que sempre resolvia. Então para que ter outro?
Joesley diz que Dilma pediu dinheiro para campanha dentro do Planalto
Joesley lembrou que entregou provas aos procuradores. E que o PT tinha o maior saldo de propina. Joesley confirmou que a Dilma pediu R$ 30 milhões para o Pimentel.
A conversa entre os dois foi no Palácio do Planalto. Na mesa redonda do gabinete presidencial. Quando ele explicou que acabou o dinheiro, ela ouviu e falou: ‘tá bom. Pode fazer’.
Joesley afirma que Temer nunca teve cerimônia para pedir dinheiro
Neste ponto da entrevista, Joesley detalhou sua relação com o presidente Temer iniciada em 2009, 2010. Disse que no segundo encontro Temer já deu o celular e passaram a trocar mensagens. Frequentou o escritório e a casa dele em São Paulo e o Palácio do Jaburu. Contou que Temer já esteve em sua casa e foi ao seu casamento.
Disse que a relação entre eles era institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. E acrescentou que acha que Temer via nele um empresário que poderia financiar as campanhas – e fazer esquemas que renderiam propina. E que toda vida teve total acesso a Temer.
Joesley disse que o Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.
Segundo Joesley, teve uma vez que Temer pediu para ver se Joesley pagava o aluguel do escritório dele na praça Pan Americana, em São Paulo. Joesley diz que desconversou, e ele nunca mais cobrou.
Época questionou se o empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira.
Joesley respondeu que não se lembra direito. Mas que é dentro desse contexto. “eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.
Joesley diz que Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil
Joesley afirmou também que a pessoa a qual Eduardo Cunha se referia como seu superior hierárquico era o Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Joesley disse que essa é a maior e mais perigosa organização criminosa desse país. Liderada pelo presidente.
Época perguntou: o chefe é o presidente Temer? Joesley respondeu diretamente: “o Temer é o chefe da ‘orcrim’, organização criminosa da Câmara. Michel Temer, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles.
Joesley explica o papel da Procuradoria-Geral da República em sua delação
Época questionou se Joesley foi pressionado para direcionar o depoimento na Procuradoria-Geral da República.
Joesley afirmou que nunca recebeu sugestão do que deveria contar. Fez tudo espontaneamente. E acrescentou: “me apresentei para tentar fazer o acordo e contei aquilo que achei que deveria contar: que empresários obrigados a lidar com agentes públicos no Brasil têm de pagar para conseguir trabalhar”.
Joesley nega ter manipulado com sua delação o mercado financeiro
Época também questionou Joesley sobre as operações de compras de dólar e venda de ações do grupo JBS que teriam resultado em lucro por causa da delação. Joesley negou.
Disse que as operações foram feitas dentro das regras. E que não houve nada de atípico. Joesley afirmou, que os bancos estão restringindo o crédito. Então precisava de dinheiro. Eu tenho a ações e preciso vender para fazer dinheiro. Não tem mistério.
A defesa do ex-presidente Lula declarou que a entrevista tem que ser entendida no contexto de um empresário que negocia o mais generoso acordo de delação premiada da história. E que, mesmo assim, Joesley Batista foi incapaz de apontar qualquer ilegalidade cometida ou do conhecimento do ex-presidente. Ainda segundo a defesa de Lula, considerações genéricas e sem provas de delatores não têm qualquer valor jurídico.
Agora há pouco, a assessoria de Lula divulgou uma nota em que também afirmou que Joesley não apontou qualquer ilegalidade cometida pelo ex-presidente. E que Lula combateu a corrupção no Brasil, adotando fortes medidas de transparência pública.
A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff declarou que as afirmações de Joesley Batista são improcedentes e inverídicas. Que Dilma jamais tratou ou solicitou doações, pagamentos ou financiamentos ilegais para as campanhas de 2010 e 2014. Que ela jamais teve contas no exterior ou autorizou a abertura de empresas em paraísos fiscais no nome dela ou de terceiros. E que a ex-presidente rejeita delações sem provas ou indícios.
Eduardo Cunha negou qualquer participação ilícita e afirmou que vai prestar os devidos esclarecimentos nos autos. Renan Calheiros negou que a lei do abuso de autoridade tenha a intenção de atrapalhar a Lava Jato. O senador disse que a operação é importante para o país e que a lei foi discutida com diferentes setores, inclusive o judiciário.
Moreira Franco declarou que é surpreendente a ousadia e a desenvoltura em mentir de Joesley Batista, que chamou de contraventor. O ministro disse ainda que esteve com Joesley uma única vez, com um grupo de brasileiros, numa viagem de trabalho a Pequim, quando foram apresentados. Que nunca mais se encontraram. Ainda segundo Moreira Franco, Joesley aparenta ter um relacionamento que nunca existiu.
O Partido dos Trabalhadores afirmou que as acusações de Joesley Batista contra o PT são genéricas, carecem de provas e não condizem com a verdade. E que todas as doações são legais e foram analisadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
A defesa de Geddel Vieira Lima declarou que ele permanece convicto de que ninguém poderá envolver o ex-ministro em qualquer ilicitude, já que ele jamais praticou qualquer ilegalidade.
Ainda segundo a defesa, Geddel continua à disposição das autoridades, e já renunciou aos sigilos bancário e fiscal.
O PSDB e o senador afastado Aécio Neves disseram que, conforme dito pelos próprios delatores, a JBS doou cerca de R$ 60 milhões para as campanhas do partido em 2014. Parte para a campanha presidencial e parte para as estaduais, conforme registrado no TSE.
E que jamais houve contrapartida para essas doações, o que torna absurdo que sejam caracterizadas como propina.
A defesa de Lúcio Funaro disse que, desde o primeiro depoimento prestado à Polícia Federal, o cliente respondeu a todas as perguntas de acordo com a verdade. E que que tudo será respondido nos autos.
Gabriel Chalita afirmou que os recursos da campanha para as eleições municipais de São Paulo vieram do PMDB nacional, que se responsabilizou pela arrecadação. E que a pequena parte arrecadada pelo comitê de campanha foi registrada e aprovada pelo TRE.
Nós não recebemos resposta da defesa de Guido Mantega. E não conseguimos contato com os advogados de Rodrigo Rocha Loures, Wagner Rossi e Fábio Cleto.
O PMDB, o BNDES, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves e o ministro Eliseu Padilha não quiseram se manifestar.