Palocci diz que ‘pacto de sangue’ entre Lula e Odebrecht envolveu propina de R$ 300 milhões

 Palocci diz que ‘pacto de sangue’ entre Lula e Odebrecht envolveu propina de R$ 300 milhões

Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, detalhou em depoimento ao juiz Sérgio Moro como a Odebrecht pagava propina ao Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo ele, Lula fez um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht e acertou propina de R$ 300 milhões ao partido.paloci

Veja abaixo os trechos do depoimento que mostram como funcionou o esquema, de acordo com Palocci:

1 – Palocci explica que ele é o italiano na planilha da Odebrecht

Moro: “O senhor é o italiano, como se refere o Marcelo Odebrecht?”

Palocci: “O Marcelo nunca me chamou de italiano, mas eu acho que essa planilha, quando ele coloca italiano, diz respeito diz respeito a mim sim. E ele nunca me chamou por esse nome, nem ele nem o doutor Emílio. Eu não sei porque ele escolheu essa alcunha. Mas tem vários e-mails em que ele fala de italiano e Itália que eu sei que não diz respeito a mim, pode dizer respeito a outras pessoas. Mas a planilha eu acredito que sim porque boa parte do que é tratado nessa planilha são assuntos que eu tratei com ele.”

2 – Diz que relação entre Odebrecht e governo foi ‘movida a vantagens dirigidas a empresas, propinas’

Palocci: “Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo num livro um pouco maior do relacionamento da empresa em questão, a Odebrecht, com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma. Com uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas a empresas, a propinas pegas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1, caixa 2”.

3- Explica como funciona o esquema

Palocci: “É assim: a empresa trabalha com a Petrobras. A Petrobras dá vantagens para empresas. Com estas vantagens a empresa cria uma conta para destinar aos políticos que a apoiaram. O presidente mantém lá diretores que apoiam a empresa para dar a ela contratos. Esses contratos geram dinheiro, ela faz seus gastos, compra seus presentes, remunera seus diretores, paga seus funcionários e reservam dinheiro – algumas criam operações estruturadas. Outras criam caixa 2, outras criam doleiros e com esse dinheiro pagam propina aos políticos”

4 – Diz que Lula estava preocupado com desvios exagerados na Petrobras, mas redução de ilícitos ficou para 3º plano

Palocci: “Conversava com o presidente Lula sobre essas relações. Por exemplo, quando o presidente Lula foi reeleito em 2007, ele me chamou no palácio da Alvorada e me falou: soube que na área de serviços e de abastecimento, área internacional era menos nessa época. Era o Nestor Cerveró, era menos nessa época. Ele falou: Eu soube que na área de serviços e de abastecimento está havendo muita corrupção. Eu falei: É verdade. Está havendo sim. E ele falou: O que que é isso? É aquilo que foi destinado pra esses diretores. Operar para o PT num caso e para o PP no outro.

E ele falou: Você acha que isso está adequado? Falei que não. Acho que isso está muito exagerado, falei. Ele falou que tava pensando em tomar providências, não estava gostando que a coisa estava repercutindo de forma muito negativa. Mas logo após veio o pré-sal. E o pré-sal pôs o governo numa atitude muito frenética em relação a Petrobras, e aí esses assuntos, de ilícitos de diretores, ficaram para terceiro plano. E aí as coisas correram, continuaram correndo do jeito que era.”

5- Conta que o pré-sal iria financiar o projeto PT no poder

Palocci: “Ele [Lula] falou: Eu chamei vocês aqui porque o pré-sal é o passaporte do Brasil para o futuro, é o que vai nos dar combustível para um projeto político de longo prazo no Brasil, ele vai pagar as contas nacionais, vai ser o grande financiador das contas nacionais, dos grandes projetos do Brasil, e eu quero que o Gabrielli faça as sondas pensando neste grande projeto pro Brasil. Mas o Palocci está aqui, Gabrielli, porque ele vai lhe acompanhar nesse projeto para que ele tenha total sucesso e para que ele garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira aqui, Dilma Rousseff, que eu quero ver eleita presidente do Brasil.

Isso ocorreu no Palácio do Alvorada, na Biblioteca, em meados de 2010. Era quando se começou o trabalho de construção das sondas. Então ele encomendou pro Gabrielli que através das sondas pagasse a campanha da presidente Dilma em 2010, obviamente pedindo às empresas os valores que seriam destinados à campanha.”

6 – Diz que Odebrecht tinha um bom relacionamento com governo Lula

Palocci: “A Odebrecht em particular tinha uma relação fluida com o governo em todos os aspectos. Diria partindo dos aspectos de realização de projetos assim como em participação em campanhas. As participações em campanhas se davam de todas as maneiras. A maior parte com caixa 1. Mas um caixa um muitas vezes originário de atitudes e de contratos ilícitos. ”

Moro: “O senhor pode exemplificar contratos ilícitos que eventualmente viraram créditos?”

Palocci: “Ah, diversos. Os da Petrobras quase todos geraram créditos.”

Moro: “Mas o senhor tinha conhecimento disso?”

Palocci: “Tinha.”

7 – Conta que campanha para reeleição de Dilma teve caixa 1 com origem criminosa dos valores

Palocci: “Pode ser que eu não esteja falando exatamente a mesma palavra, mas eu digo, eu disse digo hoje eu nunca cheguei para uma empresa e falei “o senhor pode pagar no exterior tal pessoa”. Não me cabia discutir como a empresa ia pagar. Mas eu várias vezes pedi para a empresa “o senhor pode fazer doação de 50 milhões para campanha do presidente tal, da presidente tal”, isso eu fiz várias vezes e sabia que os tesoureiros depois iam lá, faziam pagamentos lícitos e ilícitos, caixa um, dois, muitas vezes era caixa 1 para simular pagamento legal, mas a origem do dinheiro era ilegal. Um exemplo bom é na campanha de 2014, a campanha de 2014 teve duas características: foi a campanha que mais teve caixa 1, e foi uma das campanhas que teve mais ilicitudes. Por que? Porque o crime se sofisticou no campo eleitoral. As pessoas viram que o problema é o caixa dois, então transforma, vão transformando progressivamente tudo em caixa um, só que a ilicitude tá fora do pagamento, a origem criminosa dos valores… Isso a própria operação Lava Jato desvendou esse mistério. ”

8 – Diz que transição para governo Dilma preocupou Odebrecht

Palocci: “Então quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou num certo pânico e foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula. Ele procurou o presidente Lula nos últimos dias do seu mandato e levou um pacote de propinas para o presidente Lula que envolvia esse terreno do instituto que já estava comprado, e o senhor Emílio apresentou ao presidente Lula.

O sítio pra uso da família do presidente Lula que ele já estava fazendo a reforma em fase final e ele disse ao presidente Lula que o sítio já estava pronto e também disse ao presidente Lula que ele tinha, à disposição dele, para o próximo período, para ele fazer as atividades políticas dele, 300 milhões de reais. Eu fiquei bastante chocado com esse momento porque achei que não era assim que era o relacionamento da empresa…”

Moro: “Mas o senhor estava presente?”

Palocci : “Não, não estava presente. Porque eu sei disso? Porque, no dia seguinte, de manhã, o presidente Lula me chama e me conta a reunião. O presidente Lula leva a presidente Dilma, presidente eleita, pra que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os seus aspectos, lícitos e ilícitos.”

9 – Diz que Odebrecht foi favorecida no governo Dilma em várias ocasiões, como na privatização dos aeroportos.

Palocci: “Na primeira leva de privatizações, onde foi privatizado o aeroporto de Guarulhos, de Campinas, Viracopos, e de Brasília, Odebrecht foi perdedora no processo. Ela perdeu os três. Não sei se ela disputou os três, mas ela perdeu os três. Talvez tenha disputado dois. Ela tinha muito desejo de ganhar a licitação do aeroporto de Campinas e ela perdeu. Ao perder essa licitação, a Odebrecht entrou com recurso contra o consórcio vencedor dessa licitação, que era a empresa Triunfo e a empresa UTC , tentando na ANAC derrubar a decisão dessa vitoria da Triunfo e ela se sagrasse vencedora, porque ela tinha ficado como segundo preço do aerporto de Viracopos.

E o Marcelo Odebrecht e o senhor Alexandrino me procuraram diversas vezes nessa oportunidade para que eu intercedesse em apoio a eles, porque eu que havia nomeado o presidente da ANAC nesse momento… Eles queriam que eu intercedesse no sentido de mudar o resultado da licitação, para que eles fossem vencedores como segundo colocado. Como eu não fiz, e falei que não faria, achava inadequado fazer essa mudança, eles pediram que a gente desse uma solução, eu fui à presidente Dilma e ela disse que eles deveriam ficar calmos que numa próxima licitação ela cuidaria desse assunto. Aí, eles retiraram o recurso que eles tinham na Anac e foram beneficiados na licitação de Guaru… de , no Galeão, no Rio de Janeiro. Como foram beneficiados? Houve uma cláusula nessa licitação que impedia o vencedor da licitação de Cumbica de participar do aeroporto do Galeão, em condições livres.”

Moro: “Isso foi colocado por solicitação da Odebrecht, então?

Palocci: “Foi colocado por solicitação da Odebrecht.”

10 – Conta que pediu R$ 4 milhões para cobrir buraco em contas do Instituto Lula

Palocci: Depois de 2011 quando eu deixei o governo o senhor vê que eu… O próprio Marcelo falou e é verdade, eu não tratei mai de assuntos de campanha. Não voltei a tratar mais de recursos da empresa, mas talvez em 12, 13 eu volto a tratar com os recursos a pedido do presidente Lula. Então tem um episódio que o marcelo relatou que é verdadeiro, ele fala num pedido que eu fiz a ele de 4 milhões para o Instituto Lula, o senhor se recorda disso?

Moro: Sim.

Palocci: Isso é verdade. o Paulo Okamoto me pediu pra que eu ajudasse ele a cobrir um final de ano do instituto que faltava recurso, acho que foi meio pro final de 2013, começo de 14, ele tinha um buraco nas contas e me pediu pra arrumar recursos.

Eu fui ao Marcelo Odebrecht, eu ia viajar pro exterior, ele que precisava com muita urgência. A ideia dele é que eu procurasse varias empresas. Eu falei: não posso, vou procurar só o Marcelo, vou pedir pra ele. Pedi 4 milhões pra ele que é o que o Paulo precisava. O marcelo ficou de dar, ele concordou em dar esse recurso, ele falou que tinha disponibilidade e eu disse ao Brani pra transmitir ao Paulo Okamoto que seriam dado os 4 milhões que tinham sido pedidos. Então isso deve estar aí.”

11 – Relata o interesse de Lula em adquirir apartamento vizinho, em São Bernardo do Campo

Palocci: Eu tive dois episódios que me falaram desse apartamento. Não mais. Um foi o Bumlai. Quando o Bumlai falou que ia pôr o prédio em nome do primo dele, ele me explicou essa presença do primo, que eu nunca tinha ouvido falar. O sr. Glaucos Costa Marques, que eu não conheço também, mas ele me falou que ia pôr em nome desse primo porque ele já estava ao mesmo cuidando de outros assuntos imobiliários, inclusive, do apartamento vizinho do presidente, coisa que eu nem sabia o que era. Quando voltei ao presidente, perguntei: Que história é essa do seu apartamento vizinho, com primo do Bumlai falou que tá comprando? Aí, ele falou: Não, esse apartamento a segurança da presidência da república tá alugando por uma questão de segurança. Me pareceu uma coisa normal. Mas eu estou gostando da ideia de ter esse apartamento. Vou tentar comprá-lo. Presidente Lula me falou isso em 2010. Nunca eu vinculei essa compra com esse processo. Isso na minha cabeça não tinha ligação.

MPF: O sr. sabia que esse imóvel estava em nome de Glaucos da Costa Marques?

Palocci: Esse imóvel vizinho?

MPF: Sim.

Palocci: O Bumlai me falou que era ele que ia viabilizar a compra.

MPF: O sr. sabe a forma como foi pago?

Palocci: Não.

MPF: Com relação a um valor mencionado no processo, a transferência de 800 mil reais a Glaucos da Costa Marques. O sr. teve conhecimento?

Palocci: Não. Tive pelo processo. Repito à senhora. O Bumlai me falou dos dois prédios ao mesmo tempo. Por isso, eu supus que tinha uma relação. Ele falou: meu primo está cuidando de assuntos imobiliários. Meus, do presidente, do instituto, porque ele cuida de assuntos imobiliários. Ele, inclusive, está resolvendo problema do apto de São Bernardo, que não sabia o que era. E do terreno. Do prédio. Aí eu perguntei pro presidente Lula: Que apartamento é esse em SBC? Ele me contou: É meu vizinho, que a segurança da presidência alugou por razões de segurança, mas como eu tenho 5 filhos… O apartamento do presidente é pequeninho. Apesar de ser uma cobertura em SBC, é pequeno. Então, ele estava pensando em comprar esse outro pra ter um espaço melhor ali. Ele falou que estava com intenção de comprar. Dias depois que o Bumlai tinha me dito que o Costa Marques estava tentando viabilizar a compra desse apartamento. Isso é o que eu sei. Que uma coisa tinha relação com a outra eu não sabia. Eu só soube porque me falou ao mesmo tempo. A questão dos pagamentos eu nunca acompanhei.

12 – Diz que ajudou Lula a obstruir a Justiça

Moro: “O senhor só pode esclarecer que o senhor mencionou que tentou ajudar para que não andassem as investigações da Operação Lava Jato. Juntamente com o senhor presidente?

Palocci: “Sim. Em algumas oportunidades eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar criar obstáculos para a Lava Jato. Posso citar casos se o senhor quiser.”

13 – Explica porque mudou posição e decidiu contar irregularidades no governo Lula

Advogado de defesa de Lula: Vou insistir nesse pergunta. O senhor Moro perguntou na outra ação se o senhor tratava de pagamentos, contribuiçoes paralelas, não contabilizadas, caixa 2. O senhor fez uma afirmação aqui muito clara: nunca tratei. Então, o senhor hoje muda a versão em função da delação premiada?

Palocci: Não, como esclareceu o promotor, eu não tenho um acordo de delação premiada.

Advogado de defesa de Lula: Você tem uma negociação em curso?

Palocci: “Tenho tratativas (…) Vou falar claramente, quando doutor Sérgio começou a falar … Eu preciso falar. Acho que há um conjunto de situações que a operação Lava Jato identificou que eu confesso que um tempo eu tentei ajudar que as investigações não andassem. Hoje acho melhor que ela se esclareça e com isso melhorar as coisas.

Fazendo isso dentro do que eu li da lei e que me garante objetivamente alguns benefícios legais. Então, estou atuando aqui e alguns benefícios legais. Estou atuando aqui dentro dos parâmetros institucionais que estão estabeleicidos na lei.”

Por G1

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