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Abrigo de documentos raros, Arquivo Público da Bahia sofre com descaso
A parede rosa do casarão do século XVIII está descascada e os pisos e tetos de madeira já não parecem aguentar a idade. Na porta de uma das salas, um tapume verde improvisado é a única proteção da História preservada logo ali dentro. Grande guardião da história do estado, o Arquivo Público do Estado da Bahia (Apeb) tem perdido logo para o tempo. O tempo dos sucessivos descasos com a manutenção do espaço, concebido desde 1890 e instalado no bairro de Baixa de Quintas desde 1980.
A reportagem do CORREIO entrou no casarão e verificou alguns ‘erros’ no Arquivo. Numa das salas da administração, no térreo, fios soltos no chão estão completamente embolados. No banheiro feminino do mesmo pavimento, um interruptor arrancado ainda deixa expostos alguns cabos.
Não parece que ao redor daquelas salas, distribuídas em dois andares, estão documentos raros como registros da Revolta dos Alfaiates, a Conjuração Baiana, e alguns outros datados do período colonial. Tampouco que, entre 2011 e 2013, o prédio tenha funcionado sem energia elétrica devido ao risco de um curto-circuito. Até janeiro de 2015, mudanças na rede elétrica colocaram a energia de volta às lâmpadas, computadores e ar-condicionado. Mas os registros da história ainda parecem vulneráveis. A história à revelia do tempo.
A despeito dos riscos, o Arquivo Público do Estado recebe cerca de 500 pessoas por mês. Os visitantes quase sempre são pesquisadores ou estudantes buscando informações para seus trabalhos.
A pesquisa parece rápida, boa parte dos funcionários é atenciosa com os visitantes. A preocupação com o Arquivo, na verdade, é absolutamente estrutural. Quando chega a noite ou em dias de jogo do Bahia, ainda pior. Sobem os fogos de comemoração, os funcionários ficam apreensivos.
“Imagine como é que a gente não fica aqui. Toda essa história aqui, desse jeito que a gente sabe que tá, né? E esse fogo”, desabafa um funcionário, sob anonimato.
Há extintores para eventuais casos de incêndio, nunca registrados no Casarão. Mas também não há placas de indicação, instruções para uso, por exemplo. “Isso têm que melhorar. Não pode ficar assim”, reclama Rosa. O historiador e professor Urano Andrade, que frequenta o Apeb quase que diarimente, ainda tem outra preocupação: o portão principal do Arquivo não comporta a entrada de uma viatura do Corpo de Bombeiros, se for necessário. E ainda há um posto de combustível em frente à entrada do lugar.
Melhorias
A Fundação Pedro Calmon, órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia responsável pela gestão do espaço diz que o Arquivo não ficará nestas condições. Até agosto, os 2.477 usuários do Arquivo, segundo a Fundação, já puderam pesquisar em depósitos com desumidificadores e aparelhos que medem a temperatura.
O Arquivo também está em fase licitatória para restaurações. Pelo menos de acordo com a Fundação, o projeto chamado Restauração e Reforma do Arquivo Público terá apoio financeiro do Ministério da Cultura e investimento médio de R$ 3 milhões.
Os assoalhos e forros, no entanto, encontrados em alguns pontos com deteriorações visíveis, já passaram por restauro em dezembro de 2014. O órgão também afirma que, no andar térreo, foram “instaladas telas nas portas e janelas visando à filtragem do ar”.
Fernanda Lima e Vinícius Nascimento*
*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier