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PF descarta depósitos suspeitos a agressor de Bolsonaro e reforça versão de que atuou sozinho
A Polícia Federal (PF) afastou a suspeita de que Adélio Bispo de Oliveira, que no último dia 6 tentou matar o candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) em Juiz de Fora (MG), tenha recebido pagamento em sua conta bancária para executar o crime.
A investigação concluiu que o dinheiro localizado com Oliveira tem apenas “origem sustentável”, como uma rescisão recente pelo trabalho em um escritório de advocacia, e remuneração pelo trabalho de garçom, pelo qual recebia cerca de R$ 70 por dia.
A PF apurou que o cartão de crédito internacional encontrado em poder de Oliveira na verdade nunca foi utilizado e foi emitido automaticamente pelo banco logo após o valor da mesma rescisão trabalhista ter sido depositado em sua conta. Em teorias conspiratórias compartilhadas em redes sociais, o cartão também foi citado como suposta evidência de que Oliveira teria recebido dinheiro de origem suspeita.
A PF também concluiu que o computador pessoal localizado com Oliveira não era recente nem caro, ao contrário do propagado em redes sociais. O aparelho era antigo e estava quebrado, tendo sido usado pela última vez no ano passado. Dos quatros telefones celulares encontrados com Oliveira, apenas dois estavam em atividade, e nenhum foi comprado nas semanas anteriores ao crime.
Segundo outra conclusão da PF, em razão dos acertos trabalhistas recentes Oliveira tinha condições financeiras próprias de pagar adiantado R$ 400 por hospedagem numa pensão em Juiz de Fora, onde ele disse que procurava emprego. Foi apreendido com Oliveira um recibo que comprova o pagamento.
Também foram investigadas todas as pessoas citadas em redes sociais como supostos cúmplices que teriam repassado a faca a Oliveira no dia do atentado. A PF descartou todas as informações, que eram falsas. Pelo menos uma mulher inocente marcada em redes sociais foi perseguida, recebeu ameaças e teve que procurar a PF para obter proteção.
A opção de Oliveira por usar uma faca para tentar matar o presidenciável pode ser explicada por outro aspecto da vida do preso levantado durante a investigação da PF.
Em um açougue em que Oliveira trabalhou em Curitiba (PR), a PF apurou que Oliveira era conhecido por manejar muito bem facas. Normalmente um novo contratado recebia um “padrinho”, responsável por tutelar o novo cortador de carnes. No caso de Oliveira, o próprio açougue dispensou o uso do “padrinho”, ao constatar que ela sabia usar as lâminas.
Oliveira também teria trabalhado como sushiman, preparador de carnes de peixe em restaurantes japoneses, o que também demanda um bom uso de facas.
Sobre a faca, um exame feito por peritos criminais federais do Instituto Nacional de Criminalística apontou traços de DNA de Bolsonaro na lâmina, de cerca de 20 centímetros, o que confirma que a faca foi a mesma usada no crime. Oliveira tinha a faca consigo muitos meses antes do crime.
Em um dos três depoimentos que prestou à PF, Oliveira disse que decidiu esfaquear Bolsonaro três dias antes da chegada do presidenciável a Juiz de Fora e que soube que ele estaria na cidade porque viu um outdoor numa rua da cidade. Ele afirmou ter feito uma fotografia do painel. Ao analisar a memória do telefone celular de Oliveira, a PF de fato encontrou a fotografia, tirada no mesmo dia indicado por Oliveira.
O presidente do inquérito e também delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF de Minas Gerais, Rodrigo Morais, informou que o inquérito que trata do ato do crime em si deverá ser finalizado até a próxima sexta-feira (28), mas ao mesmo tempo será aberto um novo inquérito para investigar supostos mandantes ou pessoas que teriam instigado o crime, ainda que não exista nenhuma indicação sobre isso até o momento.
A PF adotou essa estratégia porque legalmente há um prazo de 15 dias, renovável por mais 15 dias, para o final das investigações. O primeiro prazo acabou na última sexta-feira (21), quando a PF pediu mais duas semanas. O relatório final, contudo, deve ser entregue uma semana antes.
Com o novo inquérito, a PF espera aprofundar a investigação. “Não há como esgotar toda a análise de conteúdo num prazo de 30 dias. Obtivemos uma farta informação em computadores, mensagens de aplicativos, telefones. Tudo isso requer uma análise mais acurada. Com o outro inquérito, vamos poder investigar sem estarmos premidos pelo prazo do inquérito inicial”, disse Morais. No material a ser analisado estão cinco discos rígidos apreendidos numa lan house frequentada por Oliveira.
O primeiro inquérito será relatado e entregue ao Ministério Público Federal, que pode ou não oferecer a denúncia contra Oliveira. Ele foi indiciado pela PF por infração ao artigo 20 da LSN (Lei de Segurança Nacional). Segundo a PF, Oliveira confirmou em depoimento que agiu movido por razões políticas ou religiosas, o que deu base ao enquadramento legal.
O artigo prevê inicialmente pena de três a dez anos de reclusão, porém ela é aumentada para de seis a 20 anos caso o crime envolva “lesão corporal grave”. O artigo prevê o crime de “devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas”.
Desde o crime, a PF recebe e está averiguando as diversas informações e teorias conspiratórias que circulam na internet e também tem recebido outra parcela de “dicas” para averiguação. O delegado Morais disse que todas as informações são levadas em conta e estão no radar da PF. “Algumas são esdrúxulas e não merecem nem consideração. Outras vamos olhar com mais atenção”, disse o delegado da PF.
por Rubens Valente | Folhapress