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Coronavírus: por que pandemia está acelerando saída de idosos do mercado de trabalho
Mais de 1,3 milhão de idosos deixaram de trabalhar ou de procurar um emprego, na comparação do primeiro trimestre de 2020 com o mesmo período do ano anterior.
A pandemia de coronavírus não é um risco apenas para a saúde dos idosos. No Brasil, ela também já afetou a participação desse grupo no mercado de trabalho: aumentou muito a quantidade de pessoas com 60 anos ou mais que deixaram a força de trabalho.
Mais de 1,3 milhão de idosos deixaram de trabalhar ou de procurar um emprego, na comparação do primeiro trimestre de 2020 com o mesmo período do ano anterior.
Essa é a quantidade de pessoas com 60 anos ou mais que passaram a integrar a chamada população não economicamente ativa, segundo levantamento elaborado pelo economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV, com bases em dados da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O grupo de pessoas com 60 anos ou mais que deixaram de trabalhar ou de procurar emprego representa 64% do total de mais de 2 milhões de brasileiros que deixaram a força de trabalho nesse mesmo período.
É esperado que as pessoas mais velhas, inclusive devido a aposentadorias, sejam proporcionalmente as que mais saiam da força de trabalho, mas Ottoni diz que ficou impressionado com o volume, ao levantar os dados do perfil de quem deixou o mercado de trabalho no começo da pandemia.
Ele lista hipóteses para a aceleração da saída dos mais velhos do mercado de trabalho, como a decisão de pessoas já aposentadas de deixar um trabalho informal para ficar em casa ou a opção dos empregadores por funcionários mais jovens (e menos vulneráveis à doença).
“Em geral, são os idosos que saem mais da força de trabalho, mas o volume agora está em outra magnitude”, diz Ottoni.
O dado anterior, que compara o último trimestre de 2019 com o mesmo período do ano anterior, mostra que a quantidade de idosos que deixaram a força de trabalho foi de 696,4 mil. Isso é pouco mais da metade dos 1,3 milhão registrados no início deste ano.
Efeitos da pandemia
A pesquisa de março é a mais recente disponível com essa divisão por faixa etária. Embora capte só o início do coronavírus no Brasil, Ottoni aponta que ele já reflete os efeitos da pandemia e que dá o tom do que devem ser os próximos meses.
E o que justifica essa aceleração da saída de idosos? O economista diz que há explicações tanto do lado da demanda por trabalho quanto da oferta. Segundo Ottoni, o empregador pode ficar mais receoso ao contratar pessoas mais velhas (especialmente sem uma vacina contra coronavírus), seja pelo custo de minimizar os riscos para uma pessoa que está no grupo de risco ou por discriminação.
Do lado dos trabalhadores mais velhos, ele diz que muitos idosos podem ter optado por ficar em casa — seja aquele que já tinha condições para se aposentar, seja o que já recebia uma aposentadoria e trabalhava informalmente para complementar renda.
Em famílias com melhores condições financeiras, filhos ou parentes mais jovens podem ajudar os pais. Em famílias com renda menor, Ottoni lembra que é difícil que não haja renda alguma para quem tem a partir de 65 anos: a partir dessa idade, todo idoso com renda familiar per capita inferior a 25% do salário mínimo tem direito a receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de um salário mínimo mensal.
Aprovada em 2019, a reforma da Previdência exige que os brasileiros trabalhem até mais tarde para conquistar a aposentadoria. Mas esse efeito vai se intensificar daqui alguns anos, segundo Ottoni. Isso porque a reforma promulgada em novembro de 2019 prevê regras de transição para os trabalhadores em atividade — ou seja, por enquanto, ainda haverá brasileiros se aposentando antes da idade mínima fixada pela reforma, de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres.
A reforma acaba, de forma gradual, com a aposentadoria por tempo de contribuição, que permitia que brasileiros se aposentassem em qualquer idade, desde que completassem 35 anos de contribuição (homem) e 30 (mulher). Em geral, os aposentados nessa categoria são de famílias com níveis maiores de educação e renda.
Ottoni diz que a discriminação contra pessoas mais velhas é mais difícil de medir do que contra mulheres ou contra negros, por exemplo. Um dos motivos é o “ponto de corte”, quer dizer, em qual idade começaria esse preconceito.
No Brasil, o Estatuto do idoso define como tal a pessoa que tem 60 anos ou mais. No entanto, outras políticas, como o BPC, são aplicadas para quem tem a partir de 65 anos. E, com a população vivendo cada vez mais e a medicina avançando, os especialistas também apontam que há uma grande diferença entre alguém que tem 60 anos hoje e uma pessoa de 60 anos há décadas atrás.
Em relatório divulgado em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontava que o combate à discriminação etária deve ser uma resposta de saúde pública ao envelhecimento da população. A entidade defende campanhas para aumentar conhecimento sobre envelhecimento, aprovação de leis contra discriminação baseada na idade e uma visão equilibrada do envelhecimento nos meios de comunicação.
Da BBC News Brasil em Londres