Rios de Dinheiro na Educação

 Rios de Dinheiro na Educação

Pouca gente sabe disto: muito dinheiro é empregado na educação no Brasil. Aplicado mal; projetos isolados, falta de coordenação, 

Professor Nery

politicagem. É o vai-e-vem da administração educacional. Talvez como os adeptos do candomblé enterram os seus mortos na Quinta dos Lázaros: dois passos para a frente e um para trás. É assim que o defunto sobe a colina.
 
Dá tristeza ver o fraco resultado de tanta verba empregada. Tanto esbanjamento. Tanto elefante branco. Tanto desprezo por quem lutou e por quem ainda luta por uma educação para igualdade de oportunidades.
 
No meu tempo – eu era muito mais retraído do que hoje -, não desfilei na parada do Dois de Julho. O colégio Manoel Devoto nos tinha convocado. Eu não desfilei mais por retraimento do que por desprezo. Eu era bom aluno, sabia que tinha que estudar para ter um bom emprego. Valorizava os meus pais e os meus mestres o que era para mim uma questão de bom senso. Poucos de nós desfilaram (pontos, então, não eram dados aos alunos que desfilavam).
 
No dia seguinte, na formatura semanal de hasteamento da bandeira, solenidade para nem pensar nestes tempos de drogas, festas e informática lúdica em excesso, o dr. Mário Câmara, nosso diretor, azedamente nos chamou de porcos. Porcos para ele fomos nós que não vestimos a camisa do colégio e não marchamos do Campo Grande à Praça da Sé. Sempre entendi o azedume do dr. Mário.
 
Até hoje me incomoda ter sido considerado porco porque porco não era. O meu retorno ao colégio foi o bom aproveitamento que demonstrei, as colocações que consegui na vida, os concursos onde passei e o envolvimento que procuro ter na minha comunidade. Não morri, segui em frente e o meu respeito a um diretor que suava para nos dar o melhor não arrefeceu. Nunca lhe tirei o direito de ter estourado com a nossa falta de comprometimento.
 
 No Manoel Devoto, lá no Rio Vermelho (doces idas e vindas pela Avenida Oceânica para os Barris onde morava), fui aluno da profª Maria Magalhães. Tinha chegado há pouco tempo dos Estados Unidos e nos deu de presente o melhor curso de inglês que jamais vi. Ela era tão boa que os alunos pensaram em fazer um abaixo-assinado para colocá-la para fora do colégio. Felizmente não fizeram. Se permitido fosse, eu teria feito um altar para a Santa Maria Magalhães em minha casa. Mais tarde fui colega da sua prima Janes na Universidade Católica do Salvador. Deixei escapar o privilégio de visitá-la. Não lhe demonstrei a minha profunda gratidão. Que pena!
 
Não desfilamos e levamos o pito do diretor. Fomos porcos no sentido de não termos sido capazes de nos deliciar com o bom manjar. (A propósito, o Manoel Devoto era o Luís Eduardo da vez: novinho em folha, auditório de primeiro mundo, biblioteca, boas instalações.) Esta deve ter sido a mágoa do dr. Mário Câmara. Fico a pensar de que nos teria chamado se fosse diretor nestes nossos dias. Melhor não imaginar!
 
 
Francisco Nery Júnior 

 

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