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Dilma Rousseff – Brasileira do Ano 2011
No primeiro ano de mandato, a presidente Dilma mostrou pulso firme, manteve o país na rota do crescimento da era Lula e foi destaque na cena internacional
Suceder ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mais carismático e popular da história do Brasil, era, sem dúvida, um grande desafio. Mas a primeira mulher a governar o País não costuma recuar diante de obstáculos. Ao contrário, o que mais emociona a presidenta Dilma Rousseff são exemplos de superação diante das dificuldades da vida. E, neste primeiro ano de mandato, ela deu prova de sua determinação. Comandou um agudo corte orçamentário, mas sem descuidar do crescimento e da geração de empregos. Sob a batuta de Dilma, o Brasil foi uma das poucas economias a crescer em meio a uma gravíssima crise internacional. Em poucos meses, Dilma mostrou seu estilo firme de administrar e bateu o recorde de aprovação da opinião pública em início de governo, deixando para trás o próprio Lula. Em suas viagens ao Exterior, ela também conquistou projeção imediata. “O Brasil hoje se encontra numa situação única. Somos respeitados, sobretudo, porque o mundo percebe a força de ter 190 milhões de habitantes, num regime democrático, capitalista, cumpridor dos contratos e com um imenso viés social”, festejou a presidenta Dilma Rousseff ao receber ISTOÉ em seu gabinete no Palácio do Planalto.
O Brasil, de fato, é a bola da vez na cena internacional. Mas Dilma Rousseff impôs sua presença com uma rapidez impressionante. Primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral da ONU, a presidenta da República hoje é considerada a terceira estadista mais poderosa do mundo, em ranking da revista “Forbes”. Tem à frente apenas a chanceler alemã, Angela Merkel, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. A tradicional revista “The New Yorker” chamou-a de “A Ungida” e afirmou que Dilma “está conduzindo o País num boom econômico”, dando lições de boa governança até mesmo ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Num misto de modéstia e gratidão, a presidenta diz que deve ao ex-presidente Lula a acolhida generosa por seus pares nos fóruns multilaterais. Ela cita como exemplo o que aconteceu durante a reunião do G-20, nos dias 3 e 4 de novembro em Cannes, na França, quando os presidentes das 20 maiores economias discutiram a crise global. Dilma contou à ISTOÉ que, assim que tomaram conhecimento de que Lula havia sido internado para se tratar de um câncer na laringe, todos os estadistas fizeram questão de manifestar solidariedade.
Mas um gesto chamou em especial a atenção da presidenta. Conhecido por sua feição sempre compenetrada – há quem diga que ele poderia ver uma bomba atômica explodir sem piscar os olhos –, o presidente da China, Hu Jintao, aproximou-se de Dilma e disse ao pé do ouvido: “Quero lhe pedir para manifestar ao presidente Lula meus votos de recuperação. Não me dirijo ao líder latino-americano nem ao ex-presidente do Brasil, e, sim, ao meu amigo Lula.” Ao destacar o episódio, a presidenta conta às gargalhadas como se deu a aproximação de Lula e Hu Jintao. Então ministra da Casa Civil, ela foi à Coreia na comitiva presidencial. “Num corredor, Lula avistou o presidente chinês e gritou: Hu Jintao! Pegou na bochecha dele e disse que estava com saudades. Falava em português, como se o Hu Jintao estivesse entendendo tudo. Daquele jeito que só Lula tem, abraçou-o e saiu andando com ele”, lembra. A conclusão de Dilma é de que herdou as relações afetivas que só o ex-presidente é capaz de construir. É natural, portanto, que ela tenha sofrido um choque com a doença de seu dileto amigo. “Nos falamos quase diariamente. Ele está bem”, torce a president
A boa notícia do ano, na visão da presidenta da República, foi o desempenho da economia. Dilma soube antever que os problemas externos, mais cedo ou mais tarde, iriam bater à porta e decidiu conduzir a política econômica com todo rigor. Em dezembro as previsões indicam que a Europa e os Estados Unidos estão à beira da recessão. Mas para o Brasil as expectativas são otimistas. A economia deve crescer 3,4% neste ano e 3,2% em 2012. A taxa de desemprego caiu para 5,8%, o menor índice para o mês de outubro desde 2002, e o número de trabalhadores com carteira assinada subiu 7,4%. “Foi um ano muito bem-sucedido”, comemora a presidenta.
No governo Dilma, voltou a reinar a paz entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Alexandre Tombini, no BC, e Guido Mantega, na Fazenda, conduzem a economia em total sintonia. Para evitar conflitos, ninguém mais no governo fala sobre economia. Só Mantega e Tombini estão autorizados a dar declarações e fazer análises de conjuntura. Nesse clima amistoso, o Planalto pôs em prática o antigo desejo de reduzir os juros para ampliar a taxa de investimento interno e baratear o crédito. O primeiro corte de juros veio em 1o de setembro e, como era de esperar, provocou uma reação histérica do mercado financeiro. Alguns analistas atribuíram a decisão do Copom à intervenção do Planalto na política monetária e previram o pior para o País. A presidenta Dilma, entretanto, reafirmou a autonomia do BC e, hoje, faz um brinde ao acerto da decisão. “O Banco Central provou que consegue manter a estabilidade da economia. Persegue com sucesso todas as condições de solidez macroeconômica para podermos crescer”, diz ela.
Convicta de que o País vai continuar a nadar contra a maré internacional, a presidenta concentra seu foco na área social. Ela destaca o lançamento de projetos estratégicos para a correção de desigualdades históricas. O Bolsa Família, com peso cada vez maior nas crianças, é um dos pilares do programa Brasil sem Miséria. Atualmente, dos 16,2 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza, 40% são menores de 14 anos. “Minha obsessão é garantir a essas crianças e a esses adolescentes o acesso a uma boa alimentação e às políticas de educação e saúde”, afirma a presidenta. O Água para Todos, lançado em julho, faz parte dessa preocupação. Na Saúde, a presidenta dá ênfase à distribuição gratuita de remédios para diabetes e hipertensão. Desde fevereiro, mais de 6,5 milhões de medicamentos foram distribuídos. “Isso mostra como tinha gente que precisava de remédio sem conseguir”, constata. A presidenta diz que essas são as duas doenças que mais matam no Brasil. E faz referência especial aos programas SOS Emergência, Saúde em Casa e Melhor em Casa, que têm como meta enfrentar a superlotação nos prontos-socorros e a falta de leitos nos hospitais.
Dilma Rousseff também considera importantíssimo o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Para ela, “trata-se da maior reforma da educação profissional já feita no Brasil”. Até 2014, o governo federal vai criar oito milhões de vagas na capacitação de jovens e adultos. Em outra frente, o Ciência sem Fronteiras pretende distribuir 100 mil bolsas de estudo no Exterior a universitários brasileiros. “Queremos colocar gente no Exterior fazendo bolsa sanduíche na graduação e no doutorado. O desafio para mudar o País está na ciência e tecnologia e passa pela educação”, avalia. O Brasil, a seu ver, tem que entrar em outro patamar: “A indústria automobilística não pode só importar carros prontos. Não somos tupiniquins. Isso vale também para as sondas da Petrobras.”