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Convulsão Social no Brasil – Perigo à Vista
Tive que viajar no último fim de semana. Viagem cansativa de ônibus – temos aeroporto de primeira categoria em Paulo Afonso mas, pasmem os leitores, não temos avião -, vias, rodovias e avenidas engarrafadas em toda a Grande Salvador. Já estamos no caos. A cidade cresce e não há investimentos. Não há investimentos porque não há recursos disponíveis para tal. Os recursos arrancados em formas mais sutis, originais e criativas por uma Receita voraz servem apenas para o custeio do governo e para o pagamento de juros da dívida interna.
Então estava em Salvador. Nasci lá. A cidade era pacata e acolhedora. Bonita que só ela. Agora, com cerca de 3 milhões de habitantes, faz a gente lembrar aquelas cidades orientais cheias e congestionadas mais pelo atraso cultural que pela falta de visão das elites dirigentes e pela falta de pró-atividade. Eu tinha ido à praia do Porto da Barra. Aquilo é uma piscina natural de águas doces e cristalinas, balneário soteropolitano preferido por mim e por Caetano Veloso. Estava agora num ponto de ônibus, a mulher ao lado, ansioso para voltar para casa. Os ônibus paravam e, para minha surpresa, levas de banhistas embocavam veículo adentro pela porta da frente. Pela porta da frente, eles não têm que pagar passagem.
Alguém chamou a polícia. Dois policiais polpudos logo chegaram e começaram o serviço [de segurança] por revistar os quatro primeiros jovens que eles acharam que deveriam revistar. Encostavam os cabras na parede, revistavam e os empurravam, como rito final, para o lado, com violência que eu não entendi até agora a razão. O empurrão dos policiais, sem ato outro qualquer, sem mesmo uma pequena admoestação, deve significar alguma coisa. Deve significar muita coisa!
Entrar pela porta da frente de um coletivo (eu observava a impotência do motorista ante o inusitado), criar tumulto e desconforto para todos, lesar a empresa prestadora do serviço de transporte, contribuir para o encarecimento da passagem para os que são honestos, tudo isso – e mais alguma coisa – deve explicar o desprezo, de certa forma engraçado e jocoso, com que os policiais encerravam o serviço de abordagem dos suspeitos.
Quem dirige e governa tem obrigação de dectar sintomas. O dia 31 de março de 1964 chegou após incontáveis sintomas de degradação política e social. Os militares não queriam dar o golpe que aconteceu. O negócio dos militares, a maioria dos quais proveniente da classe média, era viver a vida e criar a família em tempo de paz. A classe política mais à direita pode ter acariciado o golpe desde a vitória do trabalhismo de Getúlio depois do Governo Dutra. Os militares foram simplesmente pressionados a intervir por uma classe média espantada pela ameça de confisco do que tinha conseguido com dedicação e trabalho. A história se repete, e pode se repetir no Brasil, se medidas preventivas não forem tomadas e se as ameaças de deterioração da economia não forem evitadas.
A verdade é que quem ganha um salário mínimo não tem condição de pagar R$2,80 de passagem de ônibus pra lá e pra cá. Ir à praia de ônibus significa renunciar às outras obrigações, inclusive à obrigaçao de comer. Fica difícil – claro que fica! – olhar para os meus companheiros de ponto de ônibus com raiva e reprovação. Barriga vazia gera revolta e convulsão social. O estômago fala sem o imprescindível controle do cérebro. A fome é mais forte e a lógica da harmonia social vai por água abaixo.
O meu estômago ficou em desconforto com o que eu via. Sem poder aceitar a quebra dos princípios do contrato social e sem apoio lógico para fazer uma condenação, catei as últimas notas de real que encontrei no bolso, peguei um táxi e fui para casa.
Às portas estão as eleições municipais. Em Brasília, a classe dirigente acaricia as benesses dos cargos que ocupa. A preocupação de nós outros é se essa gente realmente se preocupa com o quadro que se avizinha. Será que eles estão lá – continuamos a pensar – para buscar ou gerar soluções para os graves problemas do país ou estão ocupando os seus cargos em benefício próprio simplesmente tomando o lugar de quem poderia fazer diferença para todos os brasileiros?
Francisco Nery Júnior
1 Comment
Concordo com o amigo, tudo está indo de agua a baixo. De que adianta; Poeira no deserto, Tempestade no Oceano. E agua do rio qque não é aproveitada. Não está dificil, a degradação do ser HUMANO está sendo muito rapida. Paulo Afonso está sofrendo com a degradação.