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Produção de caju garante 13º salário de agricultores do semiárido baiano
Assim que o sol nasce, José do Carmo Nascimento, 56 anos, morador do assentamento PA Arizona, no município de Itapicuru, já está de pé para começar a lida com seus 800 pés de caju. “Quem madruga Deus ajuda”, justifica.
Com disposição, ele percorre toda a propriedade, diariamente, para cuidar de sua plantação. Seu Zé do Carmo, como é conhecido, conta satisfeito que hoje o caju é sua fonte de sustento. Mas a vida nem sempre foi de flores de cajueiro. “Já trabalhei muito com a enxada pros outros, de sol a sol. Hoje sou agricultor e meu dinheiro vem daquilo que eu planto. Nossa vida vem melhorando a cada dia que passa, graças à atenção que estamos recebendo do governo”.
O governo da Bahia, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), em parceria com a Superintendência da Agricultura Familiar (Suaf) e a Comissão Ecumênica dos Direitos da Terra (Cediter), está desenvolvendo um projeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) no semiárido, beneficiando 900 famílias de produtores de caju.
A ação capacita as famílias para produção e plantio de mudas de caju-anão-precoce, análise de solo, técnica de substituição de copas e orientações no manejo adequado dos cajueiros.
Foi graças ao projeto que Seu Zé do Carmo aprendeu a desenvolver técnicas para aumentar a qualidade dos frutos, a produção e, consequentemente, a renda. De acordo com o coordenador da Ater, da CAR, Romildo Pierre, quando a Cediter procurou a companhia para fazer o convênio de assistência técnica para os produtores de caju foi na intenção de melhorar e levar novas tecnologias de plantio e irrigação para a comercialização.
“O objetivo é fortalecer a agricultura familiar através da introdução de novas técnicas, assegurando a renda dessas famílias e expandindo a cultura, formando novos pomares e conquistando novos mercados”, disse Romildo.
Ainda segundo o coordenador, apesar da ausência de chuva, o projeto teve muito êxito e os produtores estão sobrevivendo e tirando sua renda adicional graças à renda do caju. “Uma grande empresa de alimentos já se interessou pelo produto e isso é fruto da nossa intervenção”.
O fortalecimento da cajucultura familiar nas comunidades rurais do semiárido do nordeste da Bahia envolve três territórios de identidade, Semiárido Nordeste II, Litoral Norte e Sisal, nos municípios de Jeremoabo, Ribeira do Pombal, Ribeira do Amparo, Olindina, Santa Brígida, Sátiro Dias, Nova Soure e Água Fria.
Na primeira fase, foram distribuídas 50 mil mudas. Já na segunda, os técnicos da Ater foram capacitados para produção de 30 mil mudas de caju-anão-precoce. Foram feitos enchimento dos sacos, escolha e plantio das sementes de caju doadas pela comunidade, aprendizado e prática das técnicas de enxertia do caju, além do monitoramento no desenvolvimento das mudas.
Foram realizadas também correntes para marcação de covas com espaçamento adequado para plantio do caju-anão-precoce, como pré-condição do recebimento e plantio das mudas. Em uma capacitação, os beneficiários conheceram as práticas de combate a pragas e doenças e o manejo adequado da cultura, como a poda e demonstração de coroamento do solo na área da copa da árvore para favorecer a produção de frutos na safra.
O projeto coincide com a fase final, da frutificação dos frutos prontos pra serem comercializados nas comunidades que iniciaram o plantio de caju-anão-precoce a aproximadamente seis anos e que, hoje somadas todas as comunidades, já ultrapassam 200 mil pés. Algumas ainda estão em fase inicial no aproveitamento do pedúnculo além da castanha, e outras devem solidificar com o contrato de fornecimento do pedúnculo para o mercado.
Foco no fortalecimento
De acordo com o coordenador da equipe técnica que acompanha os produtores, Denison Souza Monteiro, o projeto da Cediter, executado pela CAR, começou em 2008, com o intuito de fortalecer a cajucultura em municípios que mais concentram a produção, em uma região carente de assistência técnica.
“Entre os beneficiários, detectamos aqueles que se enquadram não como produtores, mas como extrativistas, que tiravam o caju de forma predatória, sem pensar na sua produção e na qualidade. Através de dias de campo e das visitas constantes às plantações, levamos o conhecimento para os produtores”, explicou Denison.
A técnica da Cediter, Tainara Silva, declarou que foi um trabalho também de organização da comercialização dos produtores. “Antes eles vendiam muito para atravessadores, que não firmam nenhum compromisso. Fizemos com que tivessem acesso a grandes empresas”.
Tainara destacou ainda que muitos tinham o pensamento de só utilizar a castanha, e hoje, com o conhecimento, eles entendem que o fruto também é rentável. “O caju é resistente e veio quando chegou a escassez da chuva. O caju é o 13º do agricultor”.
Para Manoel Antônio dos Reis, 54 anos, agricultor da comunidade de Baixa da Tranqueira, em Jeremoabo, a vida melhorou muito depois da chegada da assistência técnica. “Aprendemos a trabalhar melhor com os cajueiros. Agora sabemos fazer a poda da forma correta, combater pragas e, principalmente, fazer a substituição de copas. Com esse processo de enxertia, temos a certeza que teremos um cajueiro de qualidade, e isso está melhorando os frutos que colhemos aqui”. Secom