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O que o povo quer
É mais fácil dizer o que ele não quer: o povo não quer ser enganado.
A mesma coisa se repete em períodos cíclicos, e está escrito que não há nada de novo embaixo do sol. Lavoisier leu isto e elaborou a sua lei. Os fatos que aconteceram na era João Goulart se repetem e se encadeiam em ritmo e encaixe semelhantes. Eu era bem menino, mas pude acompanhar a perda de controle do governo e a desordem generalizada. A reação demorou muito. Os fatos pediam reação que só veio após a saturação completa do quadro e das opções. Uma boa faixa da sociedade, assustada – quem então vivia sabe que era difícil não estar assustado -, e uma ou duas organizações seculares que nunca querem perder poder solicitaram e veio a intervenção. A fórmula é infalível e não gostaríamos de ver o mesmo desenlace.
Mas o povo não quer ser enganado. Quer saber, por exemplo – ou quer que lhe digam em português puro -, que a dívida pública brasileira bateu nos dois trilhões de reais. Ninguém de boa fé, de nenhuma das bandas, de nenhum rincão, do nada, lhe faz ver, ou apenas lhe diz, que quem gasta tudo que ganha, principalmente quando gasta boa parte do que ganha no pagamento de juros, ninguém assim vai pra frente. Pode até querer ir pra frente, mas a marcha engatada é lamentavelmente a marcha ré.
O povo quer que lhe digam que a inflação é causada basicamente pela emissão de papel moeda sem lastro, sem representatividade, sem que corresponda ao aumento real do produto interno bruto. O governo emite para se financiar, para financiar o seu débito. O governo nos taxa muito além do que o leão abocanha de nós. A bocada do tratador é maior do que a bocada do leão – em nós! E ninguém, nem de fora nem de dentro do muro, vem a público para nos explicar. Não sei se o leitor sabe por quê.
Enquanto a gerente maior do país não falar claro, ainda em tempo de se salvar, enquanto não abandonar a fórmula de falar o óbvio ou o trivial, explorar lugares comuns, imitando o seu antecessor, o povo não vai se acalmar. Quero crer que não vai. O método ou o trejeito funcionou com ele em determinado tempo. Não está funcionando agora.
O que seria plausível seria a senhora presidente da República colocar as cartas na mesa e falar claramente para o seu povo. Mostrar a situação. Definir metas. Convencer o povo das dificuldades de governar. Reconhecer que estamos em um barco que está afundando. Estamos afundando em dívida. Afundávamos em atraso. Depois afundávamos no pagamento da conta do petróleo. Passamos, a seguir, a afundar com a inflação desenfreada. Agora afundamos com a dívida interna.
Sem dinheiro não se faz nada, dizia a minha mãe do alto dos seus cento e cinco anos e meio. Se uma anciã dessa jornada nos dizia isto, por que não pode a presidente dizer a mesma coisa para o povo? Quem gasta tudo que ganha nunca vai pra frente, dizia certo secretário da fazenda da Bahia. Com dinheiro podre emitido sem lastro, não há controle monetário que se sustente, dizem os economistas. Por que a presidente não pode também falar claramente para o seu povo?
Se já fôssemos um povo adiantado em educação, ganharia a próxima eleição quem expusesse os problemas brasileiros em linguagem clara para a população. Como ainda não somos, tememos todos que a situação de dois passos para a frente e um para trás se perpetue no Brasil.
Por Francisco Nery Júnior
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Caro Mestre Grilo Falante: (Pra quem não se lembra, o Grilo é a Consciência do Pinóquio, que não o deixa fazer bobagens e vive lhe dando bons conselhos, como faz o Professor a Paulo Afonso) Naqueles dois dedos de prosa que tivemos num desses consultórios da vida, se mais tempo tivéssemos certamente esse assunto teria sido a pauta do chat- de tão óbvio, simples e de fácil execução, de resultados surpreendentes, é de espantar que a casta política não pratique diariamente esse mandamento primordial: NÃO enganar o eleitor… Mas o que se vê à farta é exatamente o oposto – parece até que política é a arte de enganar. Desencantado, cheguei a uma triste constatação: O Brasil precisa perder a Copa.
Li uma revista semanal algo que dizia mais ou menos isso, embora nas entrelinhas. Depois da primeira reação (achando que o sujeito que escreveu era um argentino disfarçado de brazuca) resolvi dar-lhe uma chance antes de julgá-lo, e li seu artigo até o fim.
Terminei concordando com ele. Vejamos: do mais simples agente de segurança ao mais alto mandatário (a) do país, o que lhes tira o sono nestes dias de pré-copa é o Fantasma das Manifestações de Junho Passado Que Pareciam Indicar Que o Gigante Tinha Finalmente Acordado. Como se sabe o dito cujo acordou, se espreguiçou, soltou um pum que amedrontou políticos e governantes, guardou no bolso os R$ 0,20 que lhe cobraram a mais e voltou a dormir em berço esplêndido… A “explosão” de cidadania deu chabu, “faiou”, foi fogo de palha, foi de araque, não era de vera…
Tergiverso. Voltemos ao artigo do moço lá da revista: Argumenta ele que se por acaso o nosso timão (NÃO me refiro ao Curintcha!) for bem sucedido nas oitavas, depois nas quartas, chegar às semifinais, finais e – pimba – acertar um golaço e faturar o hexa, será o fim da esperança de quem achou que podia mudar o Brazil pra melhor, se o Povão fosse às ruas de novo reivindicar o Padrão Fifa também pra saúde, educação, etc. etc. Pois a cada etapa vencida, os manifestantes que aproveitariam a visibilidade global (NÃO me refiro à Globo!) pra tentar despertar o dorminhoco, iriam minguando a cada vitória, sem a cobertura da Mídia que estaria focada em mostrar comemorações e aí, como bons brasileiros, pouco se importariam com o presente ou o futuro da nação, desde que houvesse muita cerveja e churrasco pra comemorar mais essa “nossa” façanha, unir todas as gentes em um só coração, a Pátria de Chuteiras!! Seria a sopa no mel pro mau-caráter de plantão. (Ponha isso no plural).
Os malfeitores, os pilantras e os enganadores do Povo contam com este anestésico, pra continuar por mais um período fazendo o que mais gostam – passar uma rasteira (…é falta, Seu Juiz!) nesse Povo bestão, que vê o seu suado dinheirinho financiar obras bilionárias em ditaduras amigas (amigas nossas não, deles, os “donos” do BR) enquanto se morre à míngua no chão de hospitais falidos sem esparadrapo nem mercurocromo mas cheios de médicos gringos pagos a peso de ouro e perde-se a metade da produção agrícola em estradas e portos deploráveis. Sou ainda muito jovem, mas esse filme eu já vi. Era universitário, não tava nem aí, mas li qualquer coisa a respeito, de generais usando a Copa pra desviar a atenção da tortura, exílios, e outras mazelas nacionais…
Num hipotético, mas possível quadro inverso, caso o Gigante Dorminhoco de Chuteiras tropece nos próprios pés e fique pelo caminho, aí o bicho pode pegar: qual é o mané que vai ficar feliz em saber que está pagando os olhos da cara por uma festa na própria casa onde ele – o anfitrião – é barrado na porta? E tome manifestação, quebra-quebra, insatisfação daqui de PA até o sertão do Cariri com a mentira da Transposição, e vai que o Grandão desperta mesmo! E todo Mundo vendo tudo via satélite! A turma que se acha acima do Bem e do Mal tem calafrios só em imaginar a cena…
Vejam só que baita dilema: se torcemos pra acrescentarmos mais uma estrela na camisa amarela, corremos o risco de ficar chupando dedo, felizes que nem crianças, mas vendo o Bonde da História passar e continuar sendo o País do (eterno) Futuro. Se torcemos pra um “revertério”, em que os filhotes de Felipão quebrem a cara e com o choque acordemos pras questões realmente importantes, mostrando pra Turma do Mal que não somos abestalhados fáceis de engabelar com a fábula do ”Padrão Fifa” nas arenas, menos no hospital e na estrada, corremos o risco de, no mínimo, sermos tachados de Traidores da Pátria (de chuteiras)! É uma coisinha pra se pensar, né não? E só faltam 24 dias pro Apocalipse!
Aldson Miná